Não sei se já aconteceu com você, um dia mirei o meu reflexo no espelho e me dei conta: estava absolutamente cansado de mim.
Havia acabado de voltar do cinema, onde fui assistir a um filme de super-heróis com os amigos e contei uma quantidade excessiva de piadas enquanto comia pipoca com doses cavalares de manteiga. Tomei um banho poucos segundos atrás e quando parei em frente ao espelho a ficha caiu, PLOW, não gostava mais de mim.
Não aguentava mais aquele sujeito, seus gostos, sua personalidade, sua maneira de andar, de falar, a forma como lidava com as situações... Tudo me dava nos nervos.
– Lá vamos nós novamente! – Exclamou uma voz logo atrás de mim. – Vai se livrar desse também?
Olhei para trás e encontrei a minha irritante versão aos dezesseis anos de idade. Um garoto que não penteia os cabelos de propósito e usa a camiseta daquela que, na sua opinião, é a maior e mais genial banda de rock e música no geral já criada na história da humanidade... Linkin Park.
– Calma, rapaz – falei para o meu eu de dezesseis, mesmo sabendo que ele não ouve ninguém a não ser ele mesmo. – Nós precisamos mudar, às vezes.
– Não temos não! Não podemos mudar quem nós somos por dentro. Nietzsche disse isso uma vez.
– Não disse não – retruquei. – E para de fingir que você leu Nietzsche! Nem eu li Nietzsche.
– Ainda assim, estou certo.
– Não está! Nós podemos mudar quem somos! Aliás, nós temos que mudar! Existe até uma palavra para isso: evolução.
– Evolução? Ouvi dizer que você anda até ouvindo RAP! Que evolução é essa?
– Calma, garoto. Música é apenas música.
– MÚSICA É APENAS MÚSICA?!? – O meu "eu" de dezesseis anos pegou uma vassoura e começou a bater na própria cabeça, inconformado por sua versão do futuro ter dito tamanha asneira.
– Dá pra parar de si/me bater?
– Tudo bem, eu paro. Mas o que você vai fazer agora? O que vai mudar em si mesmo?
– Ainda não sei, vou passar a me observar melhor. Analisar como ando me portando e encontrar o que vou aprimorar.
– Não sei não... Da última vez que você fez isso, eu fiquei para trás.
– Era necessário, caso contrário nós dois ficaríamos igual ao nosso professor de física, lembra?
– Homem de trinta anos que mora com os pais e passa a tarde jogando Guitar Hero e comendo Cheetos?
– Esse mesmo.
– Uuurghhh...
– Entende o que eu digo?
– Ok, vou te ajudar a se observar pelos próximos dias.
– Obrigado.
– Só tenho uma dúvida.
– Manda...
– Onde você conseguiu essa barriguinha? Por que eu te deixei em perfeito estado, mas parece que você não liga muito para isso e...
– OK, ok ok... Já encontramos a nossa primeira alteração.
VOCÊ ESTÁ LENDO
CADERNO DO SALI
AcakUm blog dentro do Wattpad. Eu sou só um rapaz que gosta de escrever. Trabalho na revista Mundo Estranho, sou embaixador do Wattpad, escrevo livros e gostaria de conversar com você neste espaço. Você aceita?