Sobre o beijo

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Eu me lembro de muitas coisas sobre o meu primeiro beijo. Lembro das pessoas que passavam em volta, de como as minhas mãos estavam posicionadas, da luz e do horário. Só não consigo me lembrar muito bem da boca, não a senti naquele dia, foi como comer um biscoito da sorte chinês – apenas a casca, oco por dentro.

Desde então aprendi que existem muitos tipos de beijos. Existe o tipo apaixonado, em que você tenta usar o seu corpo para demonstrar o quanto gosta da pessoa. O beijo por diversão, muito similar a convidar alguém para entrar na sua casa e jogar videogame, com a diferença de que, nesse caso, o videogame somos nós.

Tem aquele tipo egoísta, que surge de repente e nos faz ignorar tudo à nossa volta. Pode acontecer no meio da rua, forçando as outras pessoas (sérias, que caminham em direção aos seus empregos) a desviarem dos incautos que não ligam em terem escolhido o lugar errado para sentirem o gosto um do outro.

Tem o beijo sonhado (com a Selena Gomez, inclusive) e o beijo que não é na boca.

Aquele beijo que existe só por que ninguém está olhando e tem sabor de segredo, que é sempre bom. Sem esquecer o beijo que pede coisas, como "fica mais um pouco".

Existe o beijo invisível. Você olhou no rosto da outra pessoa e o beijo aconteceu sem ninguém se mexer. Por algum motivo, você não reagiu, não teve coragem, paralisou. A pessoa desce do carro, olha para o lado, continua andando, bebe o copo, puxa outro assunto e o beijo fica preso no limbo entre a existência e a não existência. Ele aconteceu. Você sabe, ela sabe. Claro que sabem, afinal o coração está batendo no mesmo ritmo de um pós-beijo, o hálito está quente, a conexão aconteceu. A pessoa nunca mais será a mesma para você, pois são íntimos.

Cúmplices.

Eu sei.

Foi bom.


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