A porta

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Nunca gostei muito da praia em si, mas morar perto dela tinha lá as suas vantagens. Um dos meus hábitos favoritos de todo final de semana consistia em basicamente andar no calçadão que acompanha a linha do mar. O vento no rosto me fazia bem e a solidão me dava tempo para pensar.

Meus pés trabalhavam quase que automaticamente, enquanto a minha mente viajava pelo universo. Tentava pensar em poemas e histórias. Não acredito que o mar me dava inspiração, mas a caminhada me permitia ficar em contato comigo mesmo, abrir a caixa que tenho dentro de mim e vasculhar em busca de algo que fizesse sentido para os outros.

Observava as pessoas. O casal de mãos dadas na areia tem alguma história para contar? Talvez eles sejam de famílias rivais e só podem se encontrar em segredo. A senhorinha enrugada à minha frente certamente viveu muita coisa interessante das quais os seus netos nem fazem ideia. É natural. Tendemos a guardar as nossas melhores histórias para nós mesmos.

Mais de uma vez, pensava numa frase elegante que me parecia o começo ideal para um livro. Anotava no caderno que sempre me acompanhava e só quando relia é que percebia que, na verdade, ela não era tão boa assim. A maioria das frases não são. Escrever é quase como procurar ouro – volta e meia você encontra uma pedra que brilha muito, mas não vale nada.

Caminhava por horas. Cedo ou tarde, iria parar na porta da casa dela. Era inevitável, ela mora de frente para a praia, com vista para o mar. Encarava a fachada, me perguntando se ela estava lá dentro. O que ela fazia. Perguntava-me se sorria daquela forma que gosto ou se chorava como já vi fazer uma vez. Ou se assistia TV com ar de entediada. A porta da sua casa nunca me dizia nada. Permanecia parada, muda, irracional e impenetrável.

Quando chegava à porta da casa dela, corria de volta para a minha. Pois, sabia que tinha uma boa história para contar.

Quase sempre, uma história triste.

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