Algumas palavras sobre a solidão

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Solidão é uma palavra bonita

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Solidão é uma palavra bonita. So-li-dão. É sonora, parece o nome que você daria a algo natural, como uma fruta ou evento meteorológico. Eu posso ser o único a pensar assim, sempre encarei as palavras de um jeito pouco usual.

Foi na esquina da Frei Caneca, interseção com a Avenida Paulista, que te vi com aquele outro rapaz. Ele não parecia certo, usava aquelas calças que você sempre dizia achar ridículas e tinha os braços de quem vai à academia ao menos seis vezes por semana. Não segurava a sua mão com a técnica correta, mas ainda assim, você parecia feliz.

Eu sei que fazem quarenta e cinco dias que nos separamos. Eu lembro bem, pois foi no dia em que você esqueceu a presilha preta na mesa de cabeceira e eu guardei para quando voltasse para buscar. Guardei perto do calendário que ganhei de brinde da padaria, ele contou todos os dias que a presilha esteve lá. Quarenta e cinco.

Ele te fazia rir. Você nem notou que eu estava lá. Passou caminhando meio que trocando os pés e eu senti como se assistisse tudo do conforto da minha poltrona e não parado no meio da rua impedindo a passagem das senhoras mais velhas que resmungavam sobre esses jovens mau-educados e de cabelos bagunçados de hoje em dia.

Eu já tinha te visto assim. Era difícil entender que aquele sorriso ainda existia e não era mais por minha causa. Ele apenas existia, eu não era tão importante assim. O mundo continua girando, os filmes entram e saem de cartaz e os amantes quebram os corações uns dos outros, assim como devem fazer.

Você para um minuto antes de entrar pela porta do restaurante. Olha para a sua bolsa e para o chão por onde acabou de passar. Age como se algo tivesse caído e confere novamente todos os itens que estava contigo. Não deu falta de nada e continuou a vida.

Rejeição é uma palavra estranha. Re-jei-ção. Parece nome de produto industrializado, agrotóxico para as plantas cresceram mais. Não parece algo natural, mas algo nocivo que o homem criou, como poluição e chiclete. É engraçado o que você faz com o chiclete, não é? Você o mastiga até gastar todo o seu sabor, quando ele vira uma massa cinzenta, sem graça e sentido, você cospe no lixo.

A sua presilha ainda está lá.

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