Afogando no seco

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Começou com uma dor no pescoço. Só isso.

A dor atingia o lado direito subindo até uma parte da cabeça, logo atrás da orelha. Não era tão forte e me orgulho por ser resistente. O problema era ser chata e insistente. Era difícil me concentrar.

Nos três dias em que convivi com ela a batizei de "dor da preguiça", pois só surgia quando eu pensava em trabalho e não quando me estirava na cama e assistia vídeos no YouTube. 

Vai embora, preciso trabalhar!

Imaginei que fosse um problema de postura e tentei esquecer.

Eu estava deitado de olhos fechados tentando dormir. A casa estava silenciosa, exceto pela minha respiração que foi ficando cada vez mais pesada. Como eu respirei a minha vida toda tão naturalmente se essa é a coisa mais difícil do mundo de se fazer? Preciso de ar.

Foi quando eu saí do controle de mim mesmo. O meu sangue não era meu, meu corpo não era meu e a minha mente não era minha. O coração acelerou. O mundo se tornou o pior lugar para se viver, onde apenas o fato de existir machucava e era impossível decifrar como alguém sorri, conversa e respira. 

Eu estava afogando, mas no seco e no conforto da minha casa. 

Foi assim que descobri que tive a primeira crise de ansiedade da minha vida. Foi horrível, não pretendo repetir a experiência nunca mais.

Por isso, tirei um tempo de descanso. Fiquei sem fazer nada, tomei sorvete, beijei a minha namorada e fiz maratona de Star Wars Rebels na Netflix.

Eu estaria mentindo se falasse que estou 100%. Ainda sinto que tenho que lutar para manter controle sobre o meu corpo e lembrá-lo que ele é meu e não do buraco negro. Mas já estou bem melhor e voltei a escrever.

Está tudo bem.

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