1' - g o l c o n t r a

2.7K 211 144
                                    

A CAIXA SE ESTENDIA A MINHA FRENTE, iluminada pelos holofotes e aquecida com a torcida fervorosa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A CAIXA SE ESTENDIA A MINHA FRENTE, iluminada pelos holofotes e aquecida com a torcida fervorosa. Combates se iniciavam, choques entre corpos e armaduras, crosses se batendo e sons de impacto enchiam o ar com a atmosfera de uma estreia de campeonato.

Um solavanco. A bola estava na minha rede.

Minhas pernas agiram antes que pudesse dizê-las que estava tudo bem. Estamos ganhando com um placar de larga folga, mas meu corpo não entendia. Ele queria mais. Ansiava pelo tudo, pelo ouro e glória. Talvez para saciar aquela sensação de fracasso e frustração.

Ou talvez fosse uma forma de preencher aquele vazio marcado em meu peito.

Um vulto rápido se aproximou cortando meu breve devaneio, apenas o contorno de uma crosse descendo contra a minha. Cravei minhas chuteiras no gramado e impulsionei o corpo em um giro, contornando a adversária e trazendo meu próprio bastão junto. Poderia até sentir uma pitada de compaixão pela garota, mas o urro das arquibancadas abafou qualquer sentimento que me atinjia, exceto o orgulho. O campo estava praticamente limpo, e minha cabeça também deveria estar. Era meu primeiro jogo do ano. O primeiro ponto marcado. A primeira vitória de muitas.

Desgosto, raiva e vergonha nenhuma poderia calar isso.

Recuei a crosse e mandei a bola em uma rajada no ângulo superior direito do gol. A pontuação mudou de catorze a seis para uma diferença de sete pontos. Exatamente, sete.

Porque marquei um gol na minha própria goleira.

Os berros da torcida se transformam em vaias e assobios ácidos. De repente, desejei que as arquibancadas do colégio High Three não estivessem lotadas de torcedores, familiares e companheiros do time. Merda. Merda. Merda.

— Número seis! — a Treinadora Ray gritou.

Embora tenha fechado os olhos com força, sabia exatamente como ela estava. O cabelo grisalho curto apontado para várias direção por conta das mãos nervosas, os pés batendo no chão com sua típica fúria, e o dente dourado em exibição através de seu rosnar assassino. Ela havia avisado que eu não deveria jogar com base nos cochichos que correram pelo time, mas a convenci de que estava bem. Que eu conseguiria passar por uma partida sem desmoronar como uma garotinha clichê.

Mas sim, eu era clichê. Fodidamente clichê. Por isso, abaixei a cabeça e respirei fundo para não chorar na frente das minhas colegas e das adversárias. Guardaria tudo aquilo para quando estivesse fora dos portões imponentes do High Tree, fora do uniforme escarlate do time de box e a popularidade sufocante que seu sucesso trazia. Não éramos meras jogadoras de ensino médio. Éramos campeãs de uma modalidade inteiramente experimental, algo novo para o universo do lacrosse feminino.

Corri para os limites do campo e a camisa catorze, Nádia Maia, entrou em meu lugar. Ela era péssima, zero senso de equipe e quase nenhuma coordenação motora, porém, naquele momento, era melhor do que eu. A partida seguiu às minhas costas, o rompante da torcida voltando a animação cotidiana, ainda que provocações e vaias me acompanhassem até o banco.

FAKE GAME | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora