MINHAS MÃOS TREMIAM, mas não pelo frio úmido que entrava pelas janelas quebradas do banheiro. Era possível escutar seus passos incertos no corredor, a respiração falha devido o aparelho pendurado em seu nariz e o arrastar daquele cilindro de ar estúpido. Precisava me acalmar, respirar fundo. Ele não tinha mais a mesma força e vitalidade de antes.
Abri a porta, o pegando de surpresa. Meu pai parou na entrada da cozinha, tentando esconder algo nas costas devagar o suficiente para que eu pudesse ver o contorno de uma garrafa. Seus olhos azuis como os meus estavam arregalados, opacos e fundos nas órbitas, a pele cinzenta macilenta e castos fios de cabelo escuro na cabeça, pois os grisalhos não tiveram tempo de chegar. Ele era novo, talvez um dos motivos de querer viver a vida normalmente como se não tivesse condenado à eternidade em uma máquina.
Ele me entendia um pouco, pelo menos. Passar tanto tempo enclausurado, sabendo que poderia fazer mais... Era frustrante.
— Não sabia que já estava acordada... — Elroy Graham tossiu, limpando o nariz com as costas da mão livre — Fui tentar fazer o café.
Mentira.
— Quer mesmo morrer, não é? — retruquei, apenas para que ele soubesse que não sou idiota — Faça mais rápido então, beber escondido até a cova vai demorar uma eternidade.
A face frágil do homem mudou instantaneamente de culpada para irada. Esse era um sinal antigamente, um alerta para que meu corpo se preparasse para receber sua fúria, mas, atualmente, apenas rio de seu corpo trêmulo. Ele não era mais capaz de bater em uma mosca.
Atravessei-o em direção à cozinha propositadamente devegar para permitir que ele sentisse o cheiro impregnado em meu cabelo. Não pude conter um bocejo cansado que me atravessou em ondas enquanto posicionava uma xícara no balcão velho da cozinha e derramava uma quantidade farta de café já feito. Os dias para meu pai começavam ali, as seis da manhã. Para mim, já era tarde.
— O que tá olhando? — grunhi, escondendo meu rosto na xícara quente.
Meu pai estremeceu em outro acesso de tosse, dessa vez, se arrastando para perto. Meu corpo se tensionou, aguardando, mas ele apenas se jogou em uma cadeira gasta e entregou seu contrabando com um baque sobre o balcão. Uma garrafa de uísque caro.
Toda a ousadia que eu havia nutrido pela manhã... Sumiu.
— Como conseguiu isso. — exigi, apoiando a xícara para não arremessa-lá em desespero.
Elroy desviou o olhar, de alguma forma, parecendo culpado. Outro acesso de tosse e, por entre ela, sussurrou o nome que quase me trouxe o casto café da manhã para fora. Merda.
Merda. Merda.
— Você... — minha voz falhou, novamente, sentindo os tremores de medo — Idiota...
Para meu crédito, consegui fazer meu pai se encolher quando choquei as mãos com força no balcão. As prateleiras tremeram, panelas bateram e algum copo de vidro esquecido se desfez contra o chão. Ainda sim, minha raiva não se desfez.
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FAKE GAME | ⚢
Teen Fiction¬ Viola Sovereigh vem de uma família abastada em uma cidade pacata de Ontário. Capitã do time de lacrose, a garota se vê pressionada em um meio social de aparências a ter um par para uma importante festa, e a primeira pessoa que vem a sua cabeça é s...