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— RINDO PARA O CELULAR DE NOVO?

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— RINDO PARA O CELULAR DE NOVO?

Respondi a última mensagem de Alisson com um emoji simples, largando o aparelho em cima da mesa e encolhendo os ombros para o olhar inquisidor de papai. Era uma daquelas tardes em que ele não trabalhava na sede, optando por preencher papeladas e afins em casa. Riley estava jogando video game na sala de estar, os sons dos tiros abafados com o volume estável. Desde a nossa vitória na final, Emerald vinha me atazanando com um turbilhão de perguntas do tipo "como foi possível?" e "onde eu errei" com tanto desespero que tia Mia foi obrigada a levá-la para o shopping por um tempo, para a derrota se assentar.

A casa relativamente vazia não me daria espaço para fugir das perguntas do delegado, mas queria. Não sabia se tinha as respostas para elas ainda.

— É... A Alisson? — Harper tossiu com o esforço de proferir um simples nome, a atenção agora fixa no arquivo de sempre aberto sobre a mesa.

Eu sabia de onde o nome me era familiar, por fim. A fotografia de Beauregard Evans por volta dos vinte e sete anos, cabeça raspada e cicatrizes no rosto era assustadora, e imaginei como deveria ter sido para uma Graham criança testemunhar contra o homem, vivendo todos os anos após esse com medo de uma retaliação. Papai poderia ajudar, porém, prometi que não me meteria em seus segredos mais, esperando pacientemente até que estivesse pronta para lidar com eles. Dado sua última mensagem avisando que estava chegando ao quarto de Elle no hospital, Alisson estava empenhada em deixar de se esconder nas sombras. Nunca achei que poderia sentir tanto orgulho de uma pessoa tanto quanto estava sentindo dela.

— As garotas vão se reunir para lanchar hoje, beleza?

Papai apoiou a caneta na mesa, apertando o botão na ponta duas vezes. Dois cliques.

— Meu celular está carregando no escritório, se precisar de algo mande recado por Riley. — ele ergueu a cabeça, franzindo os lábios e a barba cheia — Tome cuidado, meu amor.

Eu não deveria ter contado para ele sobre o sonho que tive naquela noite, a primeira noite após a final em que dormi sozinha já que havia feito uma espécie de festa do pijama estendida com Pâmela como nos velhos tempos. Lembro-me de acordar com o coração esmurrando o peito, sem memórias do sonho propriamente dito, mas com a sensação sufocante e fria que conhecia bem banhando meu corpo com suor.

Naquela noite, eu sonhei com a morte.

Peguei as chaves e me despedi dos homens da minha vida com beijos no rosto, seguindo para a garagem. Assim que o estofado de couro abraçou meu corpo e firmei os dedos no volante, soltei uma respiração pesada que nem percebi estar prendendo. Não era mais tão confortável ficar sozinha naquele carro, pensei enquanto passava os pés no carpete. O objeto escondido debaixo do meu banco parecia rugir, implorando para ser pego de novo.

Arranquei, abrindo as janelas e apreciando o vento úmido de chuvas passageiras lavando meu rosto. Estava me preocupando atoa, ficaríamos bem. Alanna e Ares agiriam como o típico casal grudento que eram, as garotas trocariam insultos carinhosos e histórias engraçadas entre elas, evoluindo para discussões em pouco tempo, e eu tentaria parar a algazarra de sempre, feliz como nunca. Nós ganhamos o Black Fox, seríamos as representantes do país no mundial. E ficaríamos bem.

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