17' - b o r b o l e t a s

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SE EU FOSSE ESCOLHER UM LUGAR para um futuro intercâmbio, seria a Irlanda

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SE EU FOSSE ESCOLHER UM LUGAR para um futuro intercâmbio, seria a Irlanda. Dava pra sentir o gostinho da Europa ali, naquele trechinho de terra canadense, com suas ruas e calçadas largas pontilhadas de arbustos quadrados e casas de tijolos avermelhados idênticas praticamente coladas umas as outras. Cloverhill poderia ser o cenário de uma batalha importante, mas ainda tinha sua beleza.

Já era fim de tarde quando chegamos ao hotel, e JJ transitou no corredor do ônibus com uma lista de chamada em mãos. Sua voz monótona e entediada bradava os nomes das Tormentas, arrancando algumas de seus cochilos pesados para murmurar um "bom dia" sarcástico e irritado. Ele sabia ser um porre quando queria.

JJ era o filho de Raynolds e o único homem além de Lucas — o mascote — na viagem. Beirando os trinta com cabelos e barba castanha, ninguém sabia ao certo seu nome, apenas o apelido que provavelmente era uma abreviação, e o sobrenome. Jamie Joseph Raynolds? Jefferson "Jeff" Raynolds? Era a única aposta que nenhuma das Tormentas havia ganhado ainda.

Em um trecho do percurso, quando o interior do ônibus — um modelo escolar tingido de vermelho com uma grande listra branca  — se transformou em uma grande algazarra, acabei sentada ao lado de Aisha Hurricane. Algumas pessoas acabaram trocando de lugar durante a baderna e, como ela não me expulsou de cara, achei que não fosse problema.

Eu só não esperava que ela fosse dormir com a cabeça encostada no meu ombro.

— Aisha Hurricane! — JJ gritou.

A garota acordou lentamente do sono pesado, esticando os braços e bocejando antes que seu cérebro nublado computasse onde estava. E, como se fosse um vampiro fugindo do Sol, saltou para longe.

— O que você tá fazendo, Sovereign?!

— O que eu tô fazendo? — repeti, incrédula, e culpo a graça da situação pea risadinha que me escapou — Você quem cochilou como um bebê no meu ombro!

Assisti de perto a expressão fechada se tornar lívida e sim, pensei que finalmente tomaria um belo soco da Hurricane menor. Nas raras vezes em que minha casa estava turbulenta demais para as aulas, Ares cedia seu piano de cauda lustroso para as lições. E Aisha, nada além de uma aparição carrancuda, sempre deixara óbvio o desagrado pelo irmão ser meu professor. Embora, claro, nunca tenha verbalizado em alto e bom tom. Ou me acertado com algo contundente — até agora.

Mas então, uma mão firme e de toque conhecido se fechou em meu ombro e olhei para cima, embora não fosse necessário. Assim como o restante do time Alisson tinha o rosto amarrotado pelo sono, entretanto, captei algo mais ali. Nas sobrancelhas franzidas e uma delas inquieta com aquele tique nervoso, e nos olhos avermelhados ds quem dormiu mas não descansou. No lábio inferior descascado, como se tivesse o mordido de forma inquieta e ansiosa.

— Vamos. — Graham murmurou.

Aisha respirou fundo, já se levantando com a atenção seguindo mais a frente. Precisamente, em direção ao garoto-mascote descarregando sua mochila de figuras espaciais. Interessante, com toda certeza, mas eu tinha outra preocupação ali.

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