A SENSAÇÃO DE SUFOCAMENTO NÃO IA EMBORA. Não enquanto eu estivesse em casa, rodeada pelas paredes de tinta descascada e tendo os chiados roucos da respiração de Elroy como plano de fundo.
Vê-lo era uma porra também. Saber que o responsável pela minha angústia estava ali, deitado em uma cama e dopado pelos remédios caros que prolongavam sua vida, e que era o meu dever garantir sua integridade fazia um sentimento feio e viscoso borbulhar no meu estômago. E então, eu tinha medo. Medo dos pensamentos e desejos que me afloravam sempre que lembrava daquela tarde em que ele assinou meu destino com aquela maldita mochila.
Eu precisava sair dali. Ou iria causar ainda mais problemas do que poderia lidar.
Não poderia usar mais a escola como desculpa, pois havia dado um tempo. Não como o diretor Crowford colocou em palavras, "desistir", mas uma pausa nas frequências presenciais. Eu continuaria estudando de casa, obviamente, pois precisava de um diploma se quisesse dar a volta por cima naquele lixo de vida.
E pisar os pés fora de casa por tanto tempo, mesmo que fosse no ambiente colegial, significava perigo. Havia alguém por aí com duas balas guardadas para mim, não iria facilitar para ele.
Porém, quando tive os papéis do pedido de Ensino Remoto em mãos e a fúria mal escondido de Viola Sovereign na minha cara, optei por ser imprudente e egoísta. Só mais um pouquinho.
O que poderia dar errado em uma saída rápida?
E não havia mentido para ela. Eu ainda tinha uma aposta para ganhar, e por algum motivo, me vi querendo dar o meu máximo para provar ser a melhor namorada que esse mundo já vira.
— Pode me dizer em que árvore você prensou Tônia Letrell? — a voz de Viola ecoou na floresta, o rosto franzido em desgosto fingido — Não quero ter nenhuma surpresa.
Foi uma tarde e um momento marcante, então sim, eu sabia exatamente que árvore era, entretanto, não estava pronta para abandonar aquela primeira impressão que ela teve do passeio.
— Não se preocupe, Princesa — acenei com um gracejo para a trilha que deveríamos tomar, sem deixar meu sorriso perverso sumir — eu costumo limpar bem as minhas cenas de crime.
Viola parou em sua caminhada, erguendo uma sobrancelha e me olhando de cima a baixo.
— Se for me matar, espero que a cova seja no mínimo decorada com flores.
Bufei uma risada. Que tipo de assassino decoraria uma cova que, em teoria, deveria ser secreta?
— Você nunca assistiu um documentário de crimes, não é?
— Não se orgulhe de saber esconder um corpo, sua pertubada!
Ergui a caixa térmica para segurá-la sobre o ombro, lhe lançando um breve olhar divertido antes de seguir caminhando. Lá estava eu, dirigindo o presente mais caro que já recebi em vida, carregando bebidas e quitutes naturais em uma trilha com uma garota de sapatilha de camurça e sueter quadriculado. Clichê era um termo não muito atribuído a mim, mas Viola Sovereign e suas apostas aleatórias que atingiam bem o meu pecado mortal tinham o poder de quebrar zonas de conforto.
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FAKE GAME | ⚢
Novela Juvenil¬ Viola Sovereigh vem de uma família abastada em uma cidade pacata de Ontário. Capitã do time de lacrose, a garota se vê pressionada em um meio social de aparências a ter um par para uma importante festa, e a primeira pessoa que vem a sua cabeça é s...