18' - n o i t e d e a z a r

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O QUE TÁ ROLANDO ALI, GRAHAM?

Me sobresaltei no sofá de estofado duro, quase deixando as linhas da rede se embolarem de novo. Elle não devia ser tão furtiva assim, não quando estávamos a cinco minutos de uma partida estressante e metade das minhas unhas das mãos já estavam reduzidas a frangalhos. Queria parte daquela autoconfiança repentina de quando enfrentei Madeleine Smith de volta, um pinguinho já bastava.

Era possível ouvir o rugido das arquibancadas do outro lado das paredes verdes. O sofá em que eu estava também era verde, o piso liso, as lâmpadas no teto, o tapete felpudo no centro da sala, tudo. Nunca achei que fosse possível sentir tanto asco por uma simples cor.

— Do que tá falando?

Elle apontou com o queixo para o outro lado da antessala, onde Viola conversava animadamente com Devin, que lhe dava ouvidos sem ao menos piscar. Estava óbvio para quem quisesse ver, exceto claro, para Sovereign e sua nula capacidade de ler entrelinhas.

— Isso aí é ciúmes?

O tom zombeteiro de Elle me fez despertar para a realidade e, independente da minha atenção e cuidado ao revisar a crosse, as linhas da rede se tornaram uma torção de nós em meus dedos.

— Inferno!

— Ei, ei, relaxa. — a número treze tranquilizou, bagunçado meus cabelos de forma quase fraternal — Pâmela e Vi são só amigas, garanto.

Grunhi, um som frustrado do fundo da garganta, e finalmente desisti de tentar trançar a rede. Elle tomou meu trabalho inacabado com um cantarolar tranquilo, seu bastão já pronto e devidamente inteiro apoiando em outro sofá. Ainda era estranho olhar diretamente para ela dado nosso passado — que, pelo visto, somente eu me lembrava —, e só ficou pior depois daquele flagra totalmente fora de contexto. Não era como se Viola e eu estivéssemos namorando, comprometidas e completamente atadas uma a outra. A cada toque furioso, beijo seco e desprovido de emoções, eu sentia que ela tinha total noção do buraco em que se enfiava. Ou tentava enfiar, já que sempre surgia alguma interrupção dos mais variados tipos.

— Não me importo se ficam, se odeiam, moram juntas ou sei lá! — as dispensei com um gesto irritado, procurando qualquer outra coisa para ver. Alanna e Spencer tirando no palitinho para ver quem tinha coragem de rabiscar uma frase suja nas paredes imaculadas do ginásio era uma boa — Viola não é mais minha namorada.

O bastão foi arremessado em minha direção, mas eu já estava preparada depois de algumas pancadas na cabeça e o apanhei no ar.

— Então, tipo — Rizzo continuou alheia ao meu desconforto quando se largou no assento ao meu lado. Sua armadura e equipamentos de proteção já a postos lhe davam um ar mais intimidador que o comum, e era uma das poucas pessoas sortudas que ficavam bem naquele uniforme — a cada gol marcado ela te dá uma recompensa, é isso?

Fosse pelo seu tom malicioso ao pronunciar "recompensa" - com direito a sotaque italiano acentuado e tudo - ou a lembrança do embaraçoso flagra revivido na íntegra em minha mente, pois senti um nó de marinheiro em meu estômago e uma vermelhidão isopitável subiu pelo pescoço. Torci que tivesse algum felino por ali, qualquer coisa para culpar e não assumir o que realmente estava acontecendo.

Elle notou minha reação, soltando um risinho conhecedor e cínico que só não foi quebrado pelo meu punho porque Raynolds assoprou seu apito, reunindo as Tormentas. O caos das torcidas do outro lado do portão pareceu triplicar juntamente com o grito de guerra das Four Clover. Elas já estavam entrando.

— Seguinte, — a treinadora gritou em nosso círculo fechado, transitando um olhar sombrio em cada uma — perdemos, saímos. Ganhamos, lutaremos contra o próximo time com o máximo de garra possível. É um ciclo simples, e repetiremos em cada partida até a final.

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