SOPHIE ESTAVA TAGARELANDO AO MEU LADO, provavelmente indignada com o fato de Ares não tê-la chamado para a fogueira.
Mesmo que não quisesse, dei ouvidos a ela. Deveria ser ótimo ter preocupações mundanas enchendo sua mente ao invés do eco de palavras perversas. Toda vez que a campainha da lanchonete soava, eu instintivamente me inclinava na chapa para ver quem estava entrando através da janela que separava a cozinha do saguão, a espera de ver o grande homem tatuado que sempre levava recados do Clã. O mensageiro da minha ruína.
Meu pai não saia mais do escritório desde o aviso, inerte na cadeira de couro como se as prateleiras de livros fossem sua fortaleza. Entrei naquela tarde carregando a bolsa com seus remédios, troquei seu cilindro de oxigênio e levei sopa para o jantar. Ele não fez sinal algum de que havia me percebido ali até que eu estivesse de saída, murmurando sobre ir trabalhar até tarde. Seus dedos firmes se fecharam em meu pulso e a voz arranhada levou arrepios em minha coluna.
— Como foi na escola?
Em uma família convencional, seria uma preocupação genuína, curiosidade sobre minhas notas ou convívio com colegas, mas não. Poderia muito bem substituir aquelas palavras por "Alguém tentou te pegar?".
Não contei a ele que tinha faltado as aulas, e muito menos passei a tarde em casa. Só havia um lugar onde eu poderia ficar a sós com meus pensamentos, mesmo que eles me torturassem com mil e uma possibilidades do que poderia acontecer. E fiquei por lá até que o frio se tornasse incômodo e o Sol não passasse de um borrão alaranjado no horizonte.
— E eu tenho certeza absoluta que ele é gay! — Sophie exclamou, equilibrando os pratos sujos de um dos últimos clientes para por na lava-louças — Só isso poderia explicar porque não tenho chances.
A pesar das preocupações, consegui soltar um leve arzinho pelo nariz. Ela não poderia estar mais errada.
— Desculpa atrapalhar a noite das meninas. — meu chefe apareceu, bem humorado como de costume — Alguém precisa cuidar do balcão, tenho que receber um carregamento nos fundos.
Chequei o horário no relógio de ponteiro na parede. Faltava apenas alguns minutos para acabar meu turno, e o movimento estava relativamente fraco dado a festa que acontecia do outro lado da cidade contendo grande parte da clientela comum. Não seria um sacrifício atender os desgarrados da noite.
— Sophie, termine de fritar essas batatas, por favor. — Pedi, retirando o avental e touca de cabelo.
Assim que atravessei as portas dobráveis que delimitavam os acessos, um veículo conhecido estacionou de frente para a entrada, quase como se quisesse ser visto. Se Joshua não fosse um dinossauro que abominasse qualquer tipo de brincadeiras e pegadinhas durante o serviço, eu poderia apostar que ele havia feito aquilo de propósito.
Era inevitável atendê-la, pois tínhamos uma politica de 100% dos clientes satisfeitos, sem excluir nenhum. E eu já tentei convencer o chefe a proibir a entrada de certos babacas do High Tree, mas foi em vão. Viola atravessou as portas com a confiança de quem gerenciava o local, mechas encaracoladas perfeitamente alinhadas e caindo nos ombros, um vestido platinado perfeitamente ajustado ao corpo e saltos finos da mesma cor. Ela não aprendera a lição com as escadas, pelo visto.
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FAKE GAME | ⚢
Novela Juvenil¬ Viola Sovereigh vem de uma família abastada em uma cidade pacata de Ontário. Capitã do time de lacrose, a garota se vê pressionada em um meio social de aparências a ter um par para uma importante festa, e a primeira pessoa que vem a sua cabeça é s...