QUERIA AFIRMAR COM TODAS as letras que meu pai havia criado uma filha forte e irredutível em suas decisões, mas seria mentira. Assim que a porta do depósito de ferramentas se fechou, nos cobrindo com o escuro total, comecei a me desculpar.
— Não fique brava com eles, só estão tentando se divertir! — cochichei. Não sabia se poderia elevar meu tom de voz ali — Se tiver algum lugar pra ir e quer acabar com essa bobagem logo...
— Foi você que me trouxe, Viola. — Alisson contrapôs. Não havia nada em seu tom de voz que entregasse irritação ou aceitação, só a monotonia de sempre — E foi você que nos meteu nesse cubículo. O que tá pensando?
O que eu estava pensando?
Desde o momento em que fui silenciada, deixada embasbacada e a deriva no vestiário, não consegui tirar da cabeça que tinha algo a mais ali. Tinha que ter. Se ela me odiasse tanto, se apenas olhar para a minha cara fosse um lembrete constante de tudo o que passou, e se o perdão era mesmo inatingível para mim, ela nunca teria aceitado — mesmo que relutante — minha aproximação. Ela nunca teria me permitido ver aquela lasca de um passado a muito perdido. Viva. Aquela Alisson feliz apesar de tudo, gentil e amada ainda estava viva em algum lugar atrás daquela muralha de indiferença e desgosto.
E eu iria destruir aquela barreira, pedra por pedra, até chegar a ela. Apenas por curiosidade, jurei a mim mesma. O nosso relacionamento nunca mais poderia ser como era antes, então esperanças eram inúteis. Nunca seríamos o que éramos.
— Fui desafiada. — menti. Ser mantida no escuro era uma merda, não conseguia captar as pequenas nuances das expressões de Alisson — De todas as pessoas nesse lugar, acredite, você é a menos propensa a pensar algo a mais sobre... Isso.
Quando gesticulei entre nós, esbarrei a mão em seu peito. Só assim pude notar que estava rindo.
— Entendi, entendi. — Graham proferiu — Sua presença é tão magnética e sensual que se preocupa com seduzir as pessoas sem querer. Foi por isso que eu fui a felizarda de ter a honra de te levar à festa do Mercedes, não é?
Não sei se foi o óbvio tom ácido e sarcástico de suas palavras ou o fato de que ela realmente estava certa sobre a última parte que me fez dar um passo envergonhado para trás. Minhas costas rasparam contra a superfície dura de uma prateleiras e os utensílios nela chacoalharam, mas Alisson não havia acabado.
— Ou você achou que poderia ser bom pra sua reputação lixosa ser vista com uma santinha? — Acusou. Pela respiração quente em meu rosto, sabia que ela estava se aproximando — Depois de ter traído seu namorado, seria bom as pessoas verem que não é uma patricinha arrogante.
Meu sangue se transformou em gelo nas veias, e tudo pareceu parar. Pobre garoto traído. Sempre a vítima, eu sabia. Estava ciente de que ainda me viam como a vadia que se atracou com o melhor amigo do bondoso César, e aguentar os olhares de adversidade havia se tornado inconsciente. Me acustumei a ser taxada como a vilã daquela história e, mesmo com os rumores diminuindo, ainda estavam lá.
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FAKE GAME | ⚢
Teen Fiction¬ Viola Sovereigh vem de uma família abastada em uma cidade pacata de Ontário. Capitã do time de lacrose, a garota se vê pressionada em um meio social de aparências a ter um par para uma importante festa, e a primeira pessoa que vem a sua cabeça é s...