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— LOGO VAI CHOVER, PELO VISTO

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— LOGO VAI CHOVER, PELO VISTO.

Jean Darwin ignorou o homem resmungando às suas costas, subindo a gola do sobretudo para proteger seu rosto do vento e de possíveis olhares, mesmo que estivesse um tanto longe de Felicity Lake. Nunca saberia quando aqueles ratos da cidade sem sal sairiam de suas tocas, e ter que explicar para alguém o que ele fazia ali traria um estresse desnecessário. Algo que não queria.

Odiava cada um deles. A família Devin e seu restaurante cafona de fachada, o diretor capacho que se achava grande, Santiago e sua sociopatia de garotinho mimado, cada um deles. Idiotas arrogantes que não enxergavam além do cifrão, e odiava seu pai também. Afinal, fora por causa de renome e dinheiro que Tyler havia sido deserdado da família.

Se seu pai não tivesse expulsado-o, nunca precisaria ser Beauregard Evans. Nunca teria ido longe demais para agradar os chefes e ser aceito de volta. Não estaria ali, cercado por tijolos brancos em um túmulo coberto de ervas e rachaduras que não faziam questão de mandar alguém para cuidar.

Jean se ajoelhou, arrancando algumas das plantas imundas que se agarravam a última memória de Evans. Tyler. Não era justo. Tudo o que sempre fez, o que sempre fizeram, foi dar sangue e lágrimas para chegar onde estavam, e em um deslize, desmoronou. E ninguém se importava com a merda do túmulo deteriorado no meio de tantas outras lápides bem cuidadas e enfeitadas com flores e mensagens de entes queridos.

Evans sequer teve um funeral. Ninguém poderia desconfiar que o filho mais velho do grande político Darwin, na verdade, estava na cadeia e não no exterior cursando uma faculdade renomada.

Não era justo. Como acabou assim? O que não deveria ter acontecido?

— Senhorzinho? — o motorista insistiu, encabulado com as nuvens cinzentas — Está se sujando, acho melhor voltarmos para o carro.

— Vá você. — senhorzinho. Como se não passasse de uma versão inacabada de seu pai.

— Mas...

Some daqui, porra!

O homem se atrapalhou com o chapéu de choffer, encolhendo os ombros e sussurrando algo sobre como os herdeiros poderiam ser tão esnobes quanto seus pais. Jean deslizou as mãos pela fotografia de Tyler em um retrato simples, embaçado pela chuva e rachado por pedras e ventania. Ele parecia feliz ali. Ainda era Tyler, não Evans. O que aconteceu que não deveria ter acontecido?!

Se largou contra o túmulo, batendo a lama e grama das luvas antes de puxar o capuz sobre a cabeça. Deveria ir logo. Howard, o velho que cuidava do cemitério de Port Town, mal prestava atenção em quem visitava o local, mas não poderia arriscar. Um deslize poderia ser fatal e levar embora outro Darwin. O último herdeiro.

Horas poderiam ter se passado com ele ali, observando os tijolos brancos de uma garota jovem repleta de rosas. Belo túmulo. Achava estar sozinho entre fantasmas e lembranças de pessoas mortas, até que passos o fizeram se levantar por impulso quando deveria se esconder. Por que alguém deveria estar ali tão cedo e na quase chuva?

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