Giovanna Martins
O maldito tic-tac do relógio cuco que está pendurado na parede do meu quarto não me deixa pregar os olhos. Deitada na minha cama, de barriga para cima, olho para o vazio pensando no que ouvi minutos atrás.
Então ele havia descoberto toda a verdade? Ele descobriu que aquela infeliz só estava com ele por capricho, e como consequência inventou toda aquela mentira só para nos afastar?
O quarto está em silêncio e escuro, há uma certa tensão correndo pelas minhas veias desde a primeira troca de olhar com aquele homem, e depois de vê-lo me tocar daquela forma tudo piorou. Talvez saber que Santiago está a uma parede de distância, me deixa eufórica, irritada, mal-humorada e... feliz?
E, para completar, a minha mente me acusa: já são quase onze da noite, e eu não faço ideia se ele comeu alguma coisa durante o dia. Santiago estava péssimo quando chegou, e o conhecendo bem, certamente não comeu nada ainda. Ele é assim, toda vez que está com algum problema têm dificuldades para se alimentar.
Uma vozinha no meu interior está me dizendo:
O pai do seu filho está com fome, você não tem pena? Coitadinho...
Revoltada comigo mesma e com meu coração fraco, me levanto da cama e visto meu robe, saio do quarto pisando devagar no corredor para não acordar Christian. Então me vejo diante da porta do quarto, onde meu coração salta do peito pelo que estou prestes a fazer. Será isso uma boa ideia? Será que eu devo? E se ele estiver dormindo? E se... Antes que meus pensamentos me desencorajam bato na porta e digo:
— Santiago? — Sem esperar por uma resposta, confirmo com a cabeça convencendo a mim mesma de que preciso voltar para o meu quarto.
Está vendo ele está dormindo, agora vá dormir mocinha, ele não vai morrer de fome, penso já dando as costas, mas sou surpreendida quando Santiago não demora muito e abre a porta do quarto, usando apenas a calça de moletom do meu pai. Incrivelmente a roupa caiu muito bem em suas pernas torneadas.
Ele me olhar com curiosidade, enquanto eu esquadrinho todo seu abdômen definido, cheio de gominhos.
— Eu esqueci de perguntar, você quer comer alguma coisa? — Pergunto jogando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, para impedir que ele perceba meu desconforto.
Diz que não, e me deixe descansar em paz!
— Estou! — Ele diz.
Vou até a cozinha sendo escoltada por ele, que não diz nada, mas também não faz questão de se distanciar.
Abro a geladeira, e ele se senta na ilha da cozinha. A única coisa que temos são alguns restos de comidas rápidas que fiz nos últimos dias.
— Podemos pedir alguma coisa pelo aplicativo — digo e ele assente com a cabeça.
— Já são quase meia noite, e acho que os estabelecimentos já estão fechados — ele diz com certa pretensão em seu tom de voz. — O que vocês comeram no jantar?
Pego de cima da bancada as embalagens descartáveis do fast food, onde sempre compramos nossos lanches semanais e as sacudo.
— Sexta-feira. Dia do lanche — digo.
Ele abre um sorriso sacana.
— Ainda sabe fazer aquelas panquecas?
O avalio indignada. Como ele tem a coragem de me pedir para fazer panquecas? As malditas panquecas que fazem parte da nossa história?
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Depois que tudo deu errado
RomanceNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...