Capítulo 21

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Giovanna Martins

Depois que comecei a estudar, minha rotina tem sido uma maratona sem fim. Entre os estudos, as tarefas de casa e cuidar do meu filho, não sobra tempo para mais nada. Ainda bem que aquele cretino do Santiago tem me ajudado bastante. Ele pega o Christian na escolinha e passa a tarde inteira com ele, o que me dá tempo suficiente para chegar em casa, tomar um banho e começar a dar conta das minhas próprias obrigações.

O céu ainda está cinza quando pulo da cama, já pensando nas tarefas do dia. Tenho que preparar o café da manhã, conferir o material escolar do meu filho e organizar minhas matérias para a aula de hoje.

Após uma higiene matinal rápida, vou para a cozinha preparar a mesa do café. Quando meu pai passa a madrugada de plantão, ele costuma chegar cedo em casa, e eu gosto de recebê-lo com o café da manhã pronto. O aroma do café recém-passado invade o ambiente, e, no exato momento em que estou colocando os últimos itens à mesa, o som da maçaneta da porta gira. Meu pai entra, segurando uma maleta preta. Pendurado no braço, estão seu jaleco e o estetoscópio. Ele está visivelmente abatido, com os ombros caídos e a expressão marcada pela exaustão.

— Bom dia — ele diz, já se sentando à mesa que preparei, parecendo mais cansado do que o habitual.

— Bom dia — respondo, servindo-lhe uma xícara de café quente. Ele suspira com o peso de uma noite difícil.

— Essa vida de médico não é fácil! — Ele sempre diz isso quando perde um paciente.

— Não é culpa sua, pai. Sei que deu seu melhor — respondo automaticamente, mesmo sem saber qual foi o caso desta vez.

— Uma criança na idade do meu neto — ele diz, a tristeza na voz, enquanto leva a xícara aos lábios. — Passei a madrugada inteira tentando salvar, mas não consegui.

Eu não sei o que dizer para aliviar a dor dele, então tento dar algum conforto.

— Não pode se culpar pelas dores do mundo, pai — digo, me sentando à sua frente. — O senhor é o melhor médico que conheço. — Acaricio suas mãos, e ele me olha com um carinho que, de certa forma, me traz algum alívio.

— É bom chegar em casa e saber que você está bem. Que você e o meu neto estão bem — ele corrige, e eu sorrio. — Amanhã vou viajar — ele solta, e eu o encaro, surpresa.

médicos, que ele faz questão de ir para rever seus antigos colegas de profissão. Apesar de preferir a tranquilidade de casa, essas viagens acabam sendo uma das poucas ocasiões em que ele sai de sua rotina.

— Duas convenções em menos de um mês? — Brinco, tentando aliviar a tensão.

— Sim. Isso mesmo — ele diz, passando as mãos pelos cabelos brancos, ajustando-se na cadeira. — Me conta? Porque está com essa cara?

Sinto que meu pai está tentando esconder algo, mas sei que as minhas preocupações são maiores.

— Ah! — respiro fundo, espalhando manteiga na torrada. — Pai, preciso de ajuda. Não aguento mais.

— O que houve? — Ele me olha, estreitando os olhos.

— Conversa com o Santiago, por favor. Ele tem sido intrusivo, inconveniente e irritante. — Eu desabo. — Acredita que ele foi procurar o Bruno e fez a maior confusão?

— Não brinca? — Meu pai faz uma careta, entre o humor e o deboche. — Eles brigaram? Quem saiu na pior?

— O Santiago deu um soco na cara do Bruno, pai. O coitado está com o lábio machucado, tudo isso porque o Santiago ficou convencido de que o Bruno não presta.

O semblante de meu pai muda instantaneamente. Ele fica sério, molha os lábios e me encara profundamente.

— O que eu devo fazer, ou até mesmo te dizer? Você já é uma mulher, Giovanna, não posso mais mandar e desmandar na sua vida. E não se esqueça, quando cheguei de viagem, ele já estava aqui, com o seu consentimento. Se isso saiu do controle, foi porque você deu liberdade para que acontecesse. Então... resolva.

"Resolva?" É só isso que o homem que me trouxe ao mundo tem a dizer? Resolva?

Não bastando meu pai se isentar de qualquer responsabilidade, Santiago desce as escadas com Christian no colo. O menino ainda usa o pijama azul, enquanto Santiago veste o short e a camisa solta, a mesma roupa que usava quando chegou à nossa casa na noite anterior. Aquele infeliz dormiu no quarto com o menino, se aproveitando da desculpa de me "ajudar".

— Bom dia, sogrão — ele diz, com um tom de deboche, ao ver meu pai à mesa comigo.

Meu pai me lança um olhar de desaprovação, como se quisesse dizer: "Tá vendo aí?", e balança a cabeça, claramente sem paciência.

Santiago ajusta Christian na cadeira e se senta, olhando para a mesa como se estivesse avaliando tudo o que está ali.

— Maravilha, o que temos para o café da manhã? — ele diz, pegando uma xícara e enchendo-a com café.

— Uma boa dose de inconveniência — respondo, brava, e todos me olham em silêncio. — É o que temos para o café da manhã, Santiago!

Meu pai, visivelmente desconfortável, arrasta a cadeira para trás e se retira da mesa.

— Bom dia para vocês, e não briguem na frente do meu neto — ele diz, antes de sair, já sem querer se envolver.

Eu respiro fundo, tentando manter a calma. Viro para o menino e falo com um sorriso forçado:

— Filho, toma seu mingau, não podemos nos atrasar — digo, fugindo do olhar debochado de Santiago que me queima e me irrita a cada segundo que passa.

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora