Capítulo54

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Santiago Castillo

Todos estão nos observando através do vidro. Giovanna ainda está nos meus braços, tensa, tentando não demonstrar o quanto está abalada. Vejo seu pai, com um olhar severo e ainda em choque. Sua mãe, embora disfarçada, não consegue esconder a incredulidade estampada no rosto. Dona Ieda, com sua postura rígida e irredutível, é o retrato da desaprovação, e Susana, ao contrário de sua usual animação, está agora com as mãos na cintura, seus olhos estreitados, uma mistura de tristeza e raiva.

 Giovanna, percebendo a situação, tenta se desprender de meus braços, mas eu a seguro firme. Não posso mais recuar. Chegamos a um ponto onde tudo precisa ser resolvido, mesmo que as consequências sejam devastadoras.

Dona Ieda, com o rosto fechado, cruza o vidro e entra na sala. Ela caminha até nós com passos decididos, sua presença intimidadora preenchendo a varanda. O silêncio é cortante, e, ao seu lado, Susana se aproxima com os olhos fixos em Giovanna, que já começa a se encolher, lutando contra as lágrimas que ameaçam cair.

— Então é essa a consideração que você tem pelo meu filho, Giovanna? — Dona Ieda dispara, a voz carregada de frustração.

Giovanna, com os olhos marejados, tenta abrir a boca, mas Dona Ieda não a deixa falar.

— Não! Não fazem nem dois meses que Bruno morreu, e você se joga nos braços do seu ex, dentro da cobertura que era do meu filho?!

Giovanna começa a chorar, e meu coração aperta. Ela sempre tentou esconder seus sentimentos, mas agora, diante de todos, a verdade explode em sua face.

— É verdade, Giovanna... — Susana também se pronuncia, a voz baixa, mas dolorida. — Você dizia que amava meu irmão, e agora... o que é isso?

Giovanna olha para ela, mas, antes que possa responder, a dor transborda. Ela enxuga as lágrimas e toma uma decisão. Caminha até Dona Ieda e Susana, fazendo um movimento brusco com as mãos, afastando um pouco a tristeza.

— Quer saber de uma coisa? Eu estou cansada de ser a noiva enlutada para agradar vocês! Eu nunca amei o Bruno, nunca! Só aceitei casar com ele porque descobri que estava grávida! Mas a verdade é, Susana — ela olha diretamente para a cunhada, — é que eu sempre amei o Santiago. Ele é o pai do meu filho e o homem da minha vida!

O impacto de suas palavras reverbera pela sala, e ela continua, agora com a voz rouca, olhando para todos, seu olhar se tornando mais desafiador, mas também profundo.

— E se vocês querem saber da verdade... eu me sinto a pessoa mais infeliz do mundo, sempre tentando agradar a todos, principalmente a você, pai, que nunca aprovou meu relacionamento com Santiago. Mas... eu não posso mais... — Ela solta um suspiro profundo, chorando sem parar, e se vira, indo em direção ao corredor.

Ela para antes de sair de vista e, com um último olhar para todos, grita, como uma afirmação definitiva:

— É uma menina, uma menina!

A sala fica em completo silêncio. Eu tento me mexer para ir atrás dela, mas Cesar me interrompe.

— Não! Ela é minha filha, eu vou falar com ela!

Cesar e Manoela trocam um olhar preocupado e, juntos, saem em direção ao quarto, seguindo o caminho de Giovanna. Agora, a sala está dividida entre os que estão chocados.

Susana, ainda de pé, me encara, os olhos cheios de uma dor silenciosa, mas visível. A decepção em seu olhar é devastadora.

— Desde quando? — Ela pergunta, com a voz baixa e quebrada.

Eu respiro fundo, tentando encontrar as palavras certas.

— Há alguns dias... nós conversamos, e acabamos nos aproximando — Respondo, sentindo a culpa pesar.

Susana balança a cabeça, como se estivesse em choque, e então a dor transborda em suas palavras:

— Porque não me disse logo? Por que me deixou penando achando que...

Eu a interrompo, a frustração transbordando.

— Não... Você não entende, Susana! — Meu tom sobe, mas logo me controlo. — Eu... eu fiz isso porque o seu irmão pediu! Foi ele quem me pediu para cuidar de você caso ele não sobrevivesse à cirurgia. Satisfeita?!

O silêncio que se segue é desconfortável. O olhar de Susana se torna vazio, como se uma parte de ela mesma tivesse se quebrado. Ela não consegue mais responder, apenas caminha até a porta, e sai da sala com passos pesados, claramente abalada.

Olho para Dona Ieda, esperando uma reação, mas ela não diz nada de imediato. Ela pega a bolsa, sua expressão impassível.

— Não precisa explicar. Eu também já estou indo embora. — Dona Ieda diz, e se despede de Vanessa, antes de sair da cobertura com a postura firme e o semblante fechado.

Agora, estou sozinho no centro da confusão. Vanessa vem até mim, colocando a mão suavemente no meu ombro.

— Fica tranquilo, tudo vai ficar bem... Eu vou ficar lá fora com Christian.

Ela se retira com a mesma postura calma e serena de sempre, mas não consigo sentir alívio. Sento na cadeira e esfrego o rosto, sentindo o peso de cada decisão, de cada mentira que construímos. Meus olhos se fecham, mas o peso da culpa não me permite descansar. Eu estou arruinando a vida de Giovanna novamente.

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora