Giovanna Martins
Quando abro os olhos pela manhã, sinto um alívio inesperado. A opressão que vinha me esmagando parece ter cedido, e, embora uma sombra de tristeza persista, ela não é forte o suficiente para me prender na cama. Estou mais disposta. Mais animada.
Já pronta para o dia, saio do quarto com os cabelos arrumados e um vestido longo casual. Minha bolsa pendurada no ombro carrega não só o essencial, mas também a intenção de uma nova perspectiva. Quero visitar meu pai e pegar a chave da casa de Petrópolis. Sempre gostei daquele lugar, e um tempo longe de tudo pode ser o que preciso para reorganizar minha mente e meu coração.
— Bom dia, mãe! — cumprimento ao entrar na cozinha, onde ela arruma a mesa do café.
— Bom dia, querida. — O sorriso dela é largo, quase um reflexo de alívio por me ver melhor. — Você está tão bonita. Vai sair?
— Sim, vou visitar o papai. — Sento-me à mesa e pego uma uva da fruteira. — Pensei em pegar a chave da casa de Petrópolis para passarmos um fim de semana tranquilo, longe de tantos problemas.
— É tão bom ver você assim, mais disposta. — Ela se inclina, beijando minha cabeça com carinho. — Mas eu não vou poder ir com vocês. A mãe de Bruno voltou de viagem e me convidou para uma visita. Ela ainda está tão mal... Vou prestar meu apoio.
Minha mãe é um anjo.
— Faça isso, mãe. O Christian está dormindo, e não quero acordá-lo. Pode ficar com ele para mim? Volto logo.
— Claro, querida. Faço qualquer coisa por você. — Ela se senta à minha frente, mas seu semblante muda sutilmente. Não preciso de mais do que isso para saber que algo a incomoda.
— Susana não dormiu em casa. Liguei várias vezes, e ela não atendeu. Estou preocupada.
— Não? — franzo a testa, aceitando a xícara de café que ela me estende. — Estranho.
— Ando tão aflita com essa menina... — murmura, mexendo na xícara com o olhar perdido.
— Fique tranquila, mãe. Ela deve ter dormido no apartamento dela. A boate fecha tarde, é comum ela virar a noite.
— Não sei... — ela diz com a voz baixa. — Não gosto de vê-la envolvida com aquele lugar. Susana é doce demais, isso não combina com ela.
— Concordo, mas ela insiste.
O choro de Christian ecoa pelo corredor. Quando começo a me levantar, minha mãe me impede.
— Nada disso! Termine seu café. E lembre-se de se alimentar bem por causa do meu novo netinho. Eu cuido do pequeno. — Ela se levanta com um sorriso antes de sair.
Dirijo até a casa do meu pai, animada para surpreendê-lo. Já faz um tempo, e sei que ele deve estar sentindo minha falta tanto quanto sinto a dele.
Ao chegar, estaciono entre a casa de Santiago e a de meu pai. Toco a campainha repetidas vezes, mas a ausência de resposta me faz desistir. Resolvo bater na porta do meu antigo vizinho. Nunca pensei que sentiria saudade até das suas inconveniências... mas aqui estou.
A porta se abre rapidamente, revelando Santiago, sem camisa, cabelos molhados, uma toalha pendurada no pescoço e um short comum. Ele está descalço, como sempre, à vontade em sua casa.
— Bom dia. — Seu sorriso é aberto, caloroso.
— Bom dia. Vim visitar meu pai, mas acho que ele não está. — Tento evitar olhar para os gominhos em seu abdômen, que parecem gritar por atenção.
— Ele saiu cedo com Vanessa. — Santiago segura minhas mãos com gentileza.
— Não sabia que você stalkeava meu pai agora! — brinco, arrancando uma risada dele.
— Por que não entra um pouco? Eu já estava indo ver o Christian.
Sorrio tímida, hesitando. Talvez esteja na hora de enfrentar o que sinto por ele. Santiago me conduz pela casa com uma delicadeza que só aumenta minha confusão interna.
— Já alimentou o bebê? — pergunta, tocando de leve minha barriga. Aquele simples toque provoca cócegas e desperta um desejo inexplicável por mais daquela atenção.
— Já. Minha mãe fez questão disso. Mas tenho sentido tanta fome, você nem imagina.
Ele ri e ajeita uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, seu olhar deslizando pelo meu rosto como se estivesse hipnotizado.
— Você está mais linda do que nunca. — Ele murmura com sinceridade. — Eu daria tudo para ter visto você grávida do Christian.
Meu coração vacila. Quero convidá-lo para ir comigo e Christian à casa de Petrópolis, mas Susana vem à mente. Ela o ama. Não posso magoá-la.
Me afasto um pouco, tentando ignorar o aperto no peito. Quando olho para o alto da escada, meu mundo desaba.
Susana aparece, usando apenas uma camisa social longa que claramente pertence a Santiago. Os cabelos molhados denunciam que acabou de sair do banho.
Ele de cabelos molhados. Ela de cabelos molhados. Não preciso de mais explicações.
O sorriso some do meu rosto. Dou alguns passos para trás, o olhar fixo nela e nele, como se esperasse que uma palavra quebrasse esse momento e provasse que estou errada.
— Oi, amiga. Bom dia! — Susana diz com naturalidade, parando ao lado dele e apoiando o cotovelo em seu ombro, como se fosse o lugar dela.
— Oi. — Minha voz soa fria, quase seca. — Desculpa, não queria atrapalhar. Já estava indo. Só queria ver meu pai, mas ele não está... então...
Viro as costas rapidamente, mal conseguindo terminar a frase. Meu corpo age sozinho, caminhando para fora da casa em passos apressados.
Quando entro no carro, as lágrimas finalmente vêm, quentes e intensas. A dor é cortante, como se alguém tivesse arrancado algo de dentro de mim.
Vejo Santiago sair da casa, chamando meu nome e acenando para que eu espere. Mas ligo o carro e saio em disparada, ignorando tudo e todos.
Preciso fugir. Dele. Dela. Dessa situação. E talvez, de mim mesma.
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Depois que tudo deu errado
Любовные романыNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...