Capítulo 48

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Giovanna Martins 

Christian está deitado no meio da cama, o que é um verdadeiro desafio para minha paz de espírito. Eu fico no canto, enquanto Santiago se posiciona na beirada, de costas para nós — um lugar estratégico para garantir que nossos desejos reprimidos não ganhem vida própria. E que, pela manhã, minha calcinha esteja em qualquer canto do quarto, menos em mim.

Me movo na cama, procurando uma posição mais confortável. Um dos maiores desafios de estar grávida é que nenhuma posição parece boa na hora de dormir. Christian, ao meu lado, se mexe, jogando suas perninhas para cima de mim, enquanto seus bracinhos voam ao meu rosto, o que só aumenta o meu desconforto.

— Menino espaçoso — murmuro baixinho, sentindo as pontas dos meus dedos pressionando a testa, tentando aliviar a dor. Ouço o som do corpo de Santiago se mexendo no colchão e, ao olhar para o lado, vejo-o se virando em minha direção. Apesar do quarto estar escuro, as luzes externas entram pelas janelas e iluminam seu rosto, permitindo-me ver seus olhos brilhando, e eu me perco nesse olhar...

— Ainda acordada? — ele pergunta com a voz baixa, mas potente, suficiente para me arrancar da quietude que eu tentava encontrar.

— Shhh! — murmuro, fazendo um gesto para que ele se calasse. — Minhas costas estão me matando — sussurro, com uma leve irritação na voz. — Seu filho é tão espaçoso quanto você.

A resposta dele vem em forma de um sorriso, revelando dentes brancos que brilham na penumbra.

— Deita aqui do meu lado, põe o menino no canto, me deixa te fazer um carinho. Sei que não vai aliviar o desconforto, mas pode te ajudar a dormir melhor.

Penso um instante sobre a proposta. Estar mais perto dele não vai resolver minha dor nas costas, mas ele está se mostrando uma boa companhia, um homem apaixonado, como aquele que cantou para mim com tanta intensidade, como se ainda tentasse reconquistar o meu coração. Sem mais hesitar, troco de lugar com Christian e me deito no meio da cama. Quando toco o travesseiro, deixando a barriga para cima, sinto as mãos grandes de Santiago tocando minha barriga, por cima da camisola. Ele se aproxima um pouco mais.

Um suspiro escapa dos meus lábios e permaneço em silêncio, absorvendo os carinhos suaves de suas mãos enquanto penso em tudo, em como me sinto bem perto dele. Mesmo que minha vida tenha se tornado um caos, é bom saber que ele está aqui, ao meu lado, para me ajudar a não desmoronar.

Olho para o teto e sinto uma vontade incontrolável de desabafar. Santiago merece saber de alguns segredos que carrego comigo, coisas que não compartilhei com ninguém.

— Fiquei apavorada — confesso, ainda com os olhos fixos no teto.

Santiago mexe o queixo, o tocando suavemente em minha cabeça, enquanto eu me aproximo mais de seu peito, colocando minha mão sobre a sua.

— Com o quê?

— Quando acordei no hospital e Bruno me contou sobre a gravidez.

— Vocês não estavam se cuidando, não é?

— É — faço uma pausa, pensando nas palavras. — Foram apenas algumas vezes. Eu pedi para ele se proteger, mas ele me garantiu que não iria "acertar o alvo".

— Hum — ouço um gemido mal-humorado. — Você tinha falado que não iria ceder... Porque resolveu antecipar o "presentinho" dele?

— Não sei — respondo com um suspiro, sentindo o peso da confissão. — Ele me pediu. Eu pensei que fosse o momento certo, afinal, ele já havia me pedido em casamento. Fiquei preocupada em fazer a coisa certa dessa vez, porque no fundo, ainda me sinto mal toda vez que lembro do meu pai dizendo que sou inconsequente e irresponsável. E acho que ele tem razão... Me arrependo um pouco... Não pela criança que estou gerando, mas por não ter escutado você e minha mãe — confesso, e mais uma vez, ouço risos.

Ele sorri amplamente, seu riso suave e reconfortante.

— Está me dizendo que reconhece que eu estava certo, e que você foi uma menina muito teimosa, insistindo em uma relação sem futuro?

— É, foi isso mesmo — murmuro, sentindo a tensão no meu corpo relaxar. — Eu sinto que decepcionei meu pai. Só queria entrar na igreja de véu e grinalda, aquela coisa toda que dá orgulho aos pais. Mas nada na minha vida saiu como eu planejei. E aqui estou, frustrada, carregando o filho de um homem que nunca amei, e essa criança nunca vai conhecer o pai biológico.

— Olha — ele inclina a cabeça em direção à minha, deixando nossos olhares se alinharem. — Não quero que se martirize pelo que não deu certo. A vida segue, você ainda é jovem, tem uma vida inteira pela frente. Tenho certeza de que o bebê que você está carregando vai ser muito amado por todos. E eu sempre estarei aqui, ao seu lado — ele se inclina e beija minha testa, um gesto simples, mas cheio de conforto. Eu me aconchego ainda mais em seus braços, sentindo o calor que ele emana, e fecho os olhos, grata, por ter um homem como ele ao meu lado. Alguém em quem posso confiar, que me escuta, me entende e sempre sabe como me fazer sentir menos sozinha.

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora