Santiago Castillo
— Tudo bem mãezinha, assim que eu desembarcar do avião ligo para vocês... Não fica tão ansiosa e tome seus remédios da pressão, a viagem vai ser longa... Também amo a senhora, manda um beijo para meus irmãos e para o meu pai, até mais. — Desligo o celular e olho para a mala já pronta em cima da cama.
Me dói muito saber que estou indo e deixando parte de mim para trás, parte dos meus sonhos e parte de tudo o que amo, mas é necessário, eu já não posso mais viver como a sombra de Giovanna, do nosso passado, de tudo o que tivemos um dia. Ela tomou uma decisão e deve segui-la; conhecendo bem aquela teimosa, ela não vai desistir da ideia.
O discurso de "não desistir" de Álvaro ainda está na minha mente, mas eu já não tenho forças, idade e nem paciência para disputar o amor de uma mulher, como na adolescência. Eu sou um homem que tem quase quarenta anos, e que precisa tomar decisões importantes. Sei que minha decisão de partir vai deixar meu filho decepcionando, mas com o tempo ele vai entender.
Depois de colocar as bagagens no carro, volto para o quarto com a necessidade de pegar o passaporte e os documentos da embaixada espanhola. A ideia de partir definitivamente parece menos sufocante quando estou ocupado. Tento evitar pensar no que estou deixando para trás.
Ao descer novamente as escadas, sou surpreendido pelo som repentino da porta se abrindo com força. E então vejo Giovanna. Ela está na minha casa, parada ali, no meio da sala, como uma visão que não deveria estar ali. Seu cabelo está bagunçado, os olhos vermelhos, e a palidez de seu rosto contrasta com a raiva que parece arder em seu olhar.
Ela respira rápido, como se tivesse corrido, e antes que eu possa dizer qualquer coisa, dou dois passos em sua direção, o coração batendo mais forte.
Será que aconteceu algo com o nosso filho?
— O que houve? Está tudo bem com o Christian? — pergunto com urgência, me preparando para o pior.
Mas a resposta dela vem como uma acusação, carregada de emoção.
— Aonde você pensa que vai? — Sua voz é um misto de choro e raiva, como se cada palavra fosse difícil de sair.
— Para a Espanha — respondo com simplicidade, sem rodeios.
— E quando pretendia me contar? Você ia ao menos se despedir do nosso filho?! — Ela avança contra mim, me empurrando com força, como se quisesse arrancar uma resposta física para a dor que está sentindo.
O esgotamento me atinge como uma onda. Estou tão cansado. Cansado dessa guerra interminável, de um amor que só parece me consumir.
— Nunca deixarei de ser pai dele. Mas ficar aqui... perto de você, vendo tudo isso? —Faço um gesto amplo, indicando a situação. — Isso está me destruindo, Giovanna — grito, o peito apertado com a frustração acumulada. — E sinceramente, eu não te entendo. Você me expulsou da sua casa no dia do seu noivado, me humilhou diante de todos, e agora aparece aqui exigindo explicações? Se você não me quer na sua vida, eu me retiro. Vou repetir: Eu. Me. Retiro!
Minha voz ecoa pela sala, e ela leva as mãos à cabeça, os dedos cravando no cabelo como se estivesse tentando conter a dor. Um soluço fraco escapa de seu peito, e vejo a determinação em seus olhos se desfazer em algo mais frágil.
Ela dá um passo hesitante na minha direção, lágrimas escorrendo livremente por seu rosto. Quando tenta me tocar, eu me afasto. Um instinto de autoproteção, de manter a distância que ela mesma impôs entre nós tantas vezes.
— Santiago, você não pode ir embora — sua voz é fraca, quase um sussurro, cheia de um desespero que me desmonta por dentro.
E eu quero. Quero tanto beijá-la, segurá-la nos braços e dizer que não vou a lugar nenhum. Que tudo vai ficar bem. Mas não posso fazer isso sozinho. Não sem que ela escolha, sem que ela me escolha.
— Diz para mim, Giovanna. — Minha voz é firme, carregada de um último fio de esperança. — Diz que me ama. Que vai terminar esse noivado com Bruno e ficar comigo. Diz isso, e eu fico.
Ela me olha, os olhos inundados de lágrimas, como se a luta interna dela fosse maior do que tudo.
— Santiago, eu ainda... Eu... eu... — Ela começa a gaguejar, tropeçando nas palavras e nas próprias pernas. Seus olhos parecem perder o foco, e ela cambaleia, as mãos tateando as paredes em busca de apoio.
Meu instinto assume o controle, e corro para segurá-la antes que ela caia. Seus joelhos cedem, e quando a seguro nos braços, ouço sua voz quebrada, baixa, como se ela estivesse entregando a única verdade que não conseguiu mais esconder.
— Eu ainda amo você... — E então ela desmaia, o corpo desfalecendo completamente contra o meu.
— Giovanna! — Grito seu nome, o desespero queimando em cada sílaba. — Giovanna, acorda! Fala comigo!
Meu coração parece parar enquanto a seguro, o rosto dela tão pálido, os lábios quase sem cor. O medo toma conta de mim, e tudo o que consigo fazer é chamá-la, implorando para que ela volte para mim.
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Depois que tudo deu errado
RomanceNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...