Capítulo 43

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Santiago Castillo

É quase fim da tarde de uma sexta-feira e eu ainda estou afundado no trabalho, afrouxo a gravata que sufoca meu pescoço e me deixo cair na cadeira do escritório. Meus olhos percorrem os documentos à minha frente, mas minha mente está longe, presa na notícia da gravidez de Giovanna. A criança que ela espera nunca conhecerá o pai, e essa verdade pesa como uma âncora no meu peito.

O pedido de Bruno ecoa na minha cabeça. Antes de morrer, ele me encarregou de cuidar de Giovanna, do bebê que carrega, e de sua irmã, Susana. Agora, com ele ausente, sinto como se a responsabilidade por essas duas vidas tivesse sido jogada sobre mim. Só que cuidar delas não é tão simples. Me aproximar é como navegar por águas desconhecidas: um passo em falso pode causar tempestades, seja na mente rebelde de Giovanna, seja na vulnerabilidade mascarada pela força de Susana.

E aí tem o olhar dela. A forma como Susana me olha às vezes me faz sentir como se estivesse segurando uma granada prestes a explodir. Não quero complicar ainda mais as coisas. Giovanna anda tão triste, tão perdida desde a morte de Bruno, que qualquer movimento errado meu pode piorar seu estado. Susana tem sido uma boa amiga para ela, talvez sua única fonte de apoio emocional. O último coisa que quero é estragar isso, criar mais confusão numa situação já tão frágil. Tudo o que desejo é que tudo volte a ficar bem.

O telefone toca, interrompendo minha linha de pensamento.

— Diz — minha voz sai carregada de cansaço e desânimo.

— Senhor, tem uma moça na recepção querendo falar com o senhor — responde Ana Júlia do outro lado da linha, com um tom neutro.

— Quem é? — pergunto, já antecipando que não será algo fácil de lidar.

— Susana — ela responde, e por um instante hesito, tentando imaginar o motivo da visita.

Lembro que dei a Susana meu endereço como uma forma de cumprir a promessa que fiz a Bruno. Ela sabia onde me encontrar se precisasse. Respiro fundo e ajeito a postura na cadeira antes de responder:

— Mande entrar.

Não demora muito para que ela atravesse a porta. Susana surge com um sorriso que ilumina a sala, uma energia contagiante que parece incompatível com a seriedade do momento. Meus olhos correm por sua figura com rapidez, capturando a imagem de sua calça preta justa e a blusa curta que deixa a barriga à mostra, o piercing no umbigo brilhando sob a luz. A sensualidade dela é tão evidente quanto desarmadora, e a forma como ela caminha até minha mesa faz a sala parecer menor.

— Oi, grandão — ela diz, com uma confiança provocante que só ela tem.

— Olá, loirinha — respondo, levantando para cumprimentá-la com um beijo no rosto.

Ela me observa, os olhos azuis analisando cada detalhe da minha expressão.

— Que cara é essa? — pergunta, inclinando levemente a cabeça, um sorriso curioso brincando nos lábios.

Estou cansado, chateado e preocupado, mas não quero que ela perceba o quanto estou sobrecarregado.

— Muito trabalho — simplifico, voltando a me sentar na cadeira.

— Eu imaginei, por isso vim aqui. Quero te tirar dessa prisão de escritório. Que tal sair comigo hoje à noite?

Levanto uma sobrancelha, surpreso.

— Veio até aqui só para me dizer que sou viciado em trabalho?

— E que precisa de algo mais forte que café, exatamente! — responde ela, com um sorriso travesso. — Santiago, você só vive entre esse escritório e sua casa, se dividindo entre cuidar do seu filho, se preocupar comigo e com Giovanna. Por que não tira essa noite para relaxar um pouco?

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora