Capítulo 6

2K 160 2
                                    

Santiago Castillo

A minha ideia de preparar o café da manhã para Giovanna, foi sensacional. Ela não disse que gostou, mas, percebi que havia um brilho extra em seu olhar indicando que acertei.

Agora estamos lavando a louça do café e organizando a cozinha, ambos em silêncio. Quando nosso filho não está perto, ela se limita a conversar comigo. Sei que ela só está me aturando por causa dele, ou talvez ela ainda sinta algo por mim, e é isso que quero saber.

— Já sabe o que vai fazer, daqui adiante? — Ela diz terminando de secar os copos.

— Não, eu ainda estou em dúvida entre ir para a Espanha ou ficar por aqui — respondo.

— Não precisa ficar se não quiser. — Ela fala e desvia o olhar de mim enquanto seca as mãos no pano de prato. Sei o que ela quer dizer. "Nosso filho não é um fardo!".

— Essa é a questão Giovanna. Isso não diz respeito somente a mim, e você? O que acha disso? Quer que eu fique? — Pergunto e ela me olha espantada.

— Bem... eu... não sei — ela diz, dando de ombros e puxando os cabelos para trás da orelha, visivelmente desconfortável.

Aproveito a pausa, lavo as mãos para tirar o sabão e secá-las com calma. Então, com passos lentos, me aproximo dela. Sinto que o momento pede cautela. Estico o braço e toco suavemente seu rosto. Ela me encara, e por um instante, a tensão no ar parece desaparecer.

É a primeira vez em muito tempo que ela me permite esse tipo de aproximação. Aproveito a oportunidade e, com a outra mão, toco delicadamente seu rosto, sentindo a suavidade de sua pele. Seus olhos, os mesmos de sempre, os olhos cor de mel, brilham de um jeito que me prende. Eles estão profundos, intensos, e de alguma forma, estão gritando, pedindo... implorando que eu fique. Eu vejo tudo isso, claramente, como se suas íris estivessem falando sem palavras.

Ela me quer, ela me deseja, só é orgulhosa demais para declarar isso em voz alta.

— Diz para mim, Giovanna. Diz que você quer que eu fique, e volte a fazer parte de sua vida. — Eu digo me aproximando de seus lábios lentamente, enquanto ela fecha os olhos para me receber. Já consigo sentir nossas respirações se unindo, e nossos lábios perto de ser colados, quando ouço:

"Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais" ...

Que mulher inacreditável, quem usaria aquela música como toque de chamada? O celular dela começa a tocar e a vibrar em cima da mesa, quebrando o encanto do momento, a minha oportunidade de ouro de reconquistá-la.

Levo a mão para trás da cabeça e coço a nuca, inconformado. Quem tinha que ligar logo naquele momento?

— Desculpe — em um reflexo rápido ela se esquiva de mim. — Eu preciso atender.

Ela pega o celular, visivelmente mexida com o que acabou de acontecer e o atende.

— Alô... — Ouço sua voz trêmula, e logo ela puxa uma cadeira, se sentando com um suspiro. — Bom dia! Hoje? Não... Não vai dar, sinto muito. Meu pai foi viajar e a babá não pode vir. Isso mesmo... Vamos deixar para outra vez — ela desliga o celular e bufa, colocando as mãos sob o queixo, olhando para o vazio como se fosse uma decisão que ela realmente gostaria de adiar.

Uma ideia, quase diabólica, passa pela minha cabeça. Pela análise que fiz a alguns segundos atrás, vejo uma brecha, uma chance de fazer ela mudar de ideia, de deixar de me odiar e voltar a ser minha.

— Você tem algum compromisso agora? Pode sair, eu fico com o Christian — digo, tentando manter a calma enquanto vejo os olhos dela se voltando na minha direção, carregados de aversão. — Qual é? Eu sou o pai dele, e não sou irresponsável.

— Santiago, da última vez em que você ficou sozinho com ele, o menino foi parar dentro da máquina de lavar.

Não consigo segurar a risada. Ela também solta um sorriso, lembrando do incidente.

— Não foi minha culpa, estávamos brincando de esconde-esconde, e ele foi se esconder dentro da máquina de lavar! — me defendo, rindo ainda mais.

— E olha que foi por poucos segundos. Eu só tinha ido na casa da vizinha entregar uma encomenda que o carteiro deixou aqui por engano.

Volto a rir, e ela também, nossos olhares se entrelaçam de uma forma que há muito tempo não acontecia. Os sorrisos vão desaparecendo aos poucos, mas o clima leve permanece.

Puxo uma cadeira e me sento à mesa, com mais calma agora.

— Pode ir, eu cuido dele. Você merece se divertir um pouco.

Ela sorri de leve e desvia o olhar, como se tentasse esconder um traço de vulnerabilidade.

— Não tenho certeza, Santiago.

— Eu posso cuidar de uma criança, sabia? — resmungo com certa firmeza.

Ela me encara de novo, o olhar amolecendo um pouco, como se estivesse começando a acreditar.

— Posso confiar em você?

— Sim — confirmo, e vejo o sorriso dela se ampliar, quase como um alívio.

— Eu não vou demorar, prometo!

Minutos depois, ela está pronta, usando uma calça jeans me mostrando que ela ganhou mais corpo de um tempo pra cá e uma blusa solta, tênis e uma bolsa pendurada no ombro. A maquiagem é forte, olhos bem contornados de um azul escuro e em volta de sua boca o gloss salienta seus lábios carnudos.

— Filho, obedeça a seu pai, tá bom? — Ela diz ao se agachar para beijar o menino.

— Sim, mamãe — o menino diz e volta correndo para a sala, onde estava dançando ao som dos Backyardigans.

Observamos tudo com um sorriso orgulhoso no rosto. E, quando nos vemos a sós, Giovanna suspira apreensiva, deixa o sorriso e pressiona a alça da bolsa com força. — Vocês vão ficar bem mesmo?

— Claro, confie em mim. Se algo der errado eu prometo que ligo para você.

Com a minha promessa, ela me dá as costas e sai de casa, minutos depois ouço o som do motor do seu carro arrancar, e em segundos somos somente nós. Meu filho e eu.

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora