Santiago Castillo
Quando os enfermeiros trouxeram o corpo de Giovanna, pálido e imóvel, para a sala de emergência, meu coração parecia ter parado. A angústia se espalhou por meu peito como uma onda imensa, esmagadora. Eu estava ali, assistindo, impotente, sem poder fazer nada, e me sentia pequeno, desesperado, como uma criança perdida em uma noite fria de inverno, sem saber onde ir, sem saber se ela voltaria.
O medo de perdê-la nunca me deixou. Eu sempre soube que ela era o meu tudo, e mesmo quando a distância nos separou, essa certeza nunca me abandonou. E agora, ali, diante de mim, o único pensamento que eu tinha era: não posso perder Giovanna. Ela me disse que me amava. Aquela frase, embora fraca, me dá um pouco de esperança, um pouco de tempo para pensar no que fazer, esperando que ela tome a decisão de se afastar de Bruno.
Depois de passar em casa para comer alguma coisa e trocar de roupas, decido voltar para o hospital. Manoela, visivelmente cansada, me disse que precisaria descansar, então eu a tranquilizei, dizendo que iria até lá pessoalmente e que logo a ligaria para dar notícias.
Atravesso a recepção do hospital. O lugar está calmo demais para o turbilhão de pensamentos que passam pela minha cabeça. Vejo César e dona Ieda conversando. Ela está sorrindo, visivelmente contente com algo, mas eu não consigo me importar com aquilo. O que eu mais quero agora é ver Giovanna, ouvir dela que está tudo bem, que nada aconteceu.
Quando passo pelo corredor, vejo Bruno e Susana de costas na sala de espera. Decido me aproximar, sem fazer barulho, para ouvir o que estão conversando.
— Bruno, tenha cuidado. Não dá para planejar um casamento em menos de um mês — diz Susana, com a voz cheia de preocupação.
— Claro que dá — ele responde, com confiança. — Agora eu tenho mais motivos do que nunca para me casar com ela.
— Ah, irmão... Não sei, você não superou ainda a Brenda, e já está falando em casamento sem pensar nas consequências.
Bruno parece impaciente. — Já te falei, Brenda é passado. E agora, com a Giovanna... Eu tenho o maior motivo do mundo para me casar com ela.
Susana então faz um pequeno grito de empolgação e abraça Bruno. — Meus parabéns, irmão! Que ótimo!
Eu me afasto rapidamente, tentando não ouvir mais.
Decido seguir em direção ao quarto de Giovanna. Quando chego, abro a porta com cuidado e vejo ela sentada na cama, com o avental branco ainda sobre os ombros, mas sem a medicação na veia. Ela parece mais tranquila, mas o olhar distante me incomoda. Ela está ali, alisando a barriga com uma das mãos, olhando para o chão, como se estivesse longe de tudo e de todos.
— Giovanna — chamo, e ela levanta a cabeça devagar. Quando me vê, sua expressão fica triste, e ela volta a olhar para baixo, como se quisesse se esconder.
— Você está bem? — pergunto, com a esperança de ouvir algo que me traga alívio.
— Sim, eu... estou melhor — responde, mas sua voz está vazia, distante.
Me agacho na frente dela e pego suas mãos, tentando estabelecer algum tipo de conexão.
— Giovanna, eu sei que você está se recuperando, mas... você se lembra do que me disse antes de desmaiar? — pergunto, tentando ao menos fazer com que ela volte àquele momento. Ela se afasta rapidamente, puxa as mãos para longe de mim e se levanta. Caminha até a janela, ficando de costas para mim.
— Não, eu não me lembro — ela diz com frieza, sem sequer olhar para mim.
— Você disse que ainda me ama e pediu para que eu ficasse — falo, tentando trazer à tona as palavras que ela me disse.
Ela balança a cabeça e me responde sem firmeza. — Eu não me lembro disso, Santiago. Talvez eu estivesse confusa.
A dor no meu peito é quase insuportável, mas não posso demonstrar fraqueza. Não posso. Seguro seus braços, tentando ao menos fazer com que ela me olhe nos olhos.
— Tente lembrar, por favor — peço, minha voz quase implorando. Mas ela se desvencilha de mim e começa a caminhar em direção à porta.
— Eu não me lembro, Santiago. Me desculpa — ela diz e, antes que eu possa responder, a porta se abre.
Bruno entra, seguido de Susana. Ele está sorrindo, com um ar de quem sabe exatamente o que está fazendo. Susana vai até Giovanna, abraçando-a com entusiasmo.
— Meus parabéns, cunhadinha — Susana diz, sorrindo para mim, com aquele sorriso que me soa como uma provocação disfarçada.
— Obrigada — Giovanna responde, quase sem emoção. Ela tenta não demonstrar o desconforto, mas posso perceber que está tentando se afastar de mim, como se não quisesse mais lidar com o que está acontecendo entre nós.
Bruno então a abraça, beijando sua testa com possessividade. — Já sabe da novidade, Santiago? — ele diz, e o tom vitorioso em sua voz me faz apertar os dentes. — Eu vou ser pai. Giovanna está esperando um filho meu.
Eu congelo. A notícia bate como um soco no estômago. Ela está grávida dele? O pensamento se repete na minha mente, mas eu não posso acreditar. Não depois de tudo o que ela me disse, não depois de tudo o que nós dois vivemos. Mas a dor é tão intensa que parece que tudo o que construímos se desfez em um segundo.
— E vamos antecipar o casamento! — Susana grita, com aquele entusiasmo que me faz sentir um nó na garganta. Ela abraça Bruno e Giovanna, e eu fico ali, parado, assistindo a cena como se estivesse fora de mim. Minha cabeça está em choque, meus sentimentos em um turbilhão. Sinto como se estivesse assistindo à minha própria perda.
Eu olho para Giovanna, mas ela não me encara. Ela se afunda no peito de Bruno, desviando o olhar de mim. A dor no meu peito é imensa, mas eu tento manter o controle.
— Meus parabéns — eu digo, com um sorriso forçado, sabendo que não sou convincente, mas sem saber o que mais fazer.
Sento o peso da solidão tomando conta de mim. Saio do quarto, sem saber para onde ir, sem rumo, sem saber o que fazer. Minhas opções parecem sumir diante de mim. Talvez seja hora de ir embora, de seguir meu caminho, mas uma parte de mim ainda está presa ali. Será que devo continuar com meus planos de ir para a Espanha? Ou ficar até o último momento, até o dia do "sim"?
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Depois que tudo deu errado
RomanceNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...