Giovanna Martins
A segunda coisa mais importante a fazer hoje é conversar com Susana. Desde aquele dia em que Santiago e eu fomos flagrados nos beijando na cozinha da cobertura, ela decidiu se mudar para o próprio apartamento, e, desde então, nós não nos falamos mais. Sei que ela está magoada comigo, e não é difícil entender o porquê. Susana sempre deixou claro o que sentia por Santiago, e isso torna ainda mais delicado o que aconteceu. Respeito os sentimentos dela e, sinceramente, me sinto péssima por estar no caminho. Sei como dói uma desilusão amorosa, como é ter o coração despedaçado, e a última coisa que quero é ser egoísta ou insensível diante do sofrimento dela.
Ainda assim, sinto muito a falta da minha amiga. Mais do que qualquer outra coisa, quero vê-la feliz. Não só por ela, mas também por mim. Sinto falta das nossas conversas sem filtro, das confidências, dos momentos em que éramos apenas nós duas contra o mundo. Susana é especial, quase uma irmã para mim. E, além disso, é a tia do meu bebê. Mesmo com suas loucuras, ela sempre esteve ao meu lado nos piores momentos. Sempre foi uma amiga fiel, e eu preciso recuperar isso.
Depois de me despedir da mãe de Bruno no cemitério, volto para o carro com o peito mais leve. Ainda é cedo. Pego o celular e decido ligar para Susana. Ela atende com a voz carregada de sono, o típico "alô" arrastado que conheço tão bem. Não hesito e vou direto ao ponto: digo que precisamos conversar e a convido para a nossa lanchonete favorita. É um lugar cheio de boas lembranças, e talvez isso ajude a tornar a conversa menos difícil. Além disso, minha fome já está gritando.
Pouco depois, estou sentada em uma das mesas da lanchonete. Folheio o cardápio, e as imagens parecem ainda mais apetitosas do que o normal. Faço meu pedido enquanto espero por Susana. Meu celular vibra, chamando minha atenção para as mensagens de Santiago.
"Bom dia, moranguinho, já está tudo pronto para a viagem?" 😉
"Bom dia! Prontíssimo! Estou animada!" 😄😄😄
"Ótimo! Também já aprontei tudo, e estou muito animado para visitarmos meus pais. Queria passar o dia conversando com você, mas tenho assuntos a resolver. Mais tarde passo na sua casa para ver você e... os nossos filhos. Até logo!" 😘😎
Leio "nossos filhos" mais de uma vez, deixando as palavras ecoarem na minha mente. Nunca pensei que uma frase pudesse soar tão perfeita. Sorrio feito uma adolescente apaixonada, deixando minha mente flutuar em fantasias sobre o futuro, até ser trazida de volta à realidade por um pigarrear próximo à mesa.
— Hum-hum!
Levanto a cabeça e vejo Susana parada à minha frente. Está vestindo um conjunto de moletom rosa, com os cabelos presos em um rabo de cavalo e o rosto ainda brilhando de suor.
— Veio correndo? — pergunto, tentando quebrar o gelo.
— Meu apartamento é aqui perto — ela responde, sentando-se com firmeza. — Estou aderindo à moda do desenvolvimento sustentável: sem gasolina e combustíveis poluentes. Digam não aos carros e sim às bicicletas! — diz, erguendo o punho fechado como uma ativista convicta.
— Isso é ótimo... — murmuro, tentando conter o riso. De onde ela tira essas ideias?
Ela mesma ri, e o clima entre nós começa a relaxar.
— O que foi? Por que está me olhando assim? Sou uma jovem progressista! Uma presidente em potencial, querida.
Solto uma risada mais aliviada. Se ela quisesse me odiar, não estaria brincando desse jeito.
— Susana, você é tudo, menos uma presidente em potencial.
Rimos juntas, mas logo ela se recosta na cadeira, o sorriso desaparece devagar, e me encara com seriedade.
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Depois que tudo deu errado
Любовные романыNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...