Depois que tudo deu errado

Capítulo 56

Alguns dias depois...

— Pelo amor de Deus! Não vai deixar que meus sócios pensem que você não tem responsabilidade para gerir a empresa — resmungo mais uma vez, enquanto vejo meu irmão cruzar os braços atrás da nuca e pendurar as pernas sobre minha mesa no escritório.

Tudo está praticamente pronto para a viagem. Passagens compradas, malas feitas, e uma empolgação crescente para passar um tempo com Giovanna e Christian longe dos problemas. Um tempo que servirá para eu compensar o tempo perdido, longe das pessoas que mais amo.

Segui os conselhos de Giovanna e deixei a presidência da empresa nas mãos do meu irmão. Preciso fazer isso, preciso confiar nele se quero esse tempo para mim.

Meu irmão me encara com aquele olhar de confiança inabalável.

— Fica tranquilo, maninho. Vai lá, aproveita a viagem, se distrai dessa tensão que você vive. E faça muito sexo com a Giovanna, você está igual ao nosso pai, chato e resmungão.

— Ela está grávida! Não se faz sexo com mulher grávida — retruco, já sentindo o desconforto da conversa.

Ele ri alto.

— Mas é claro que se faz! De que século você é?

— Ah! — Resmungo, me sentindo enojado com o assunto. — Você tem a maturidade de um camundongo, sabia?

— E você de um velho chato!

— Cala a boca, seu...

Antes que eu pudesse completar a frase, o telefone da sala toca. Retiro o aparelho do gancho e ouço a voz de Ana Júlia.

— Susana está na recepção, querendo falar com você.

Desde aquele dia, em que tivemos a conversa, ela não atendeu mais aos meus telefonemas. Giovanna me disse que Susana havia se mudado para seu apartamento, e as duas quase não se falavam mais.

— Mande-a entrar.

As portas se abrem, e meu irmão imediatamente retira os pés da mesa, observando atentamente a figura de Susana, que entra na sala. Ela está vestida de forma mais comportada: calça jeans, camisa polo e sapatilhas, com uma bolsa pendurada no ombro.

— Santiago? — Ela diz meu nome, mas seus olhos vão direto para o meu irmão, que a observa com interesse, avaliando-a de cima a baixo.

— Susana, que surpresa — respondo, tentando esconder meu desconforto ao ver a reação de Lucas.

Ela sorri suavemente.

— Eu fiquei sabendo que você e Giovanna vão viajar juntos, e vim conversar, antes de você ir...

Meu irmão, impaciente, limpa a garganta, ansioso para ser apresentado.

— Ah! Esse é meu irmão, Lucas. Lucas, essa é minha amiga, Susana.

— Prazer, querida — diz meu irmão, se levantando, se aproximando de Susana e puxando sua mão para beijá-la. Depois, lança um olhar feroz para ela. — Porque não me disse que tinha uma amiga tão bonita?

Susana cora, tentando desviar do olhar ardente de Lucas.

— Eu não sabia que você tinha um irmão, Santiago — ela diz, tentando se afastar das cantadas do meu irmão.

— Sim, tenho dois irmãos — respondo, notando que os olhos dela continuam fixos em Lucas.

Coço a cabeça, irritado com a situação.

— Então, o que você queria falar comigo?

Finalmente, ela me olha, e, com um sorriso tímido, fala:

— Ah! Eu fiquei mal por alguns dias, por ter interpretado errado a situação. Queria dizer que entendo tudo o que aconteceu. Espero que vocês sejam felizes. Giovanna é uma boa amiga, eu não quero perder a amizade dela e nem a sua.

Sorrio, aliviado pela reação dela.

— Obrigado, Susana, por ter entendido — digo, observando o rubor nas bochechas dela, intensificado pelo olhar indiscreto de Lucas. — Mas, você realmente está bem?

— Sim... — ela dá de ombros, tentando disfarçar o desconforto. — Se não estiver, vou ficar. O importante é saber que você e Giovanna se acertaram. Vocês merecem ficar juntos.

Nesse momento, meu irmão puxa a conversa em outra direção.

— Você não é a dona daquela boate...? — Ele pergunta, com um sorriso travesso.

Susana ri e joga os cabelos para trás com um gesto elegante.

— Sim, sou eu mesma...

E aí começa o bate-papo entre os dois, como se eu não estivesse ali. Percebo o que está acontecendo, então, decido sair discretamente da sala, deixando-os conversar. Quem sabe eles não se apaixonam, e Susana consegue colocar juízo na cabeça do meu irmão? Ou, quem sabe, seja o contrário.