Capítulo 68

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Giovanna Martins

Bem... alguns dias passaram desde que Santiago e eu fomos pegos na mentira. Para todos nós estávamos apenas unidos pelo nosso filho, mas a verdade é que a nossa união ia muito além disso. Eu amo o Santiago com todo o meu ser, com tudo o que tenho e sou, e... eu cansei! Cansei de me esconder, cansei de esconder dos outros o meu verdadeiro sentimento, cansei de me sentir uma fraude.

Sabia que seria difícil quando tudo viesse à tona, mas era necessário enfrentar meus temores e lutar pelo amor que eu ainda sentia pelo pai do meu filho.

Santiago estava empolgado com a nossa viagem para a Espanha, e sinceramente, eu também. Queria aproveitar aquele momento para dar uma chance para nós dois. Não havia mais o que pensar ou decisões a tomar, havíamos chegado em uma linha limite onde tínhamos que decidir o nosso futuro, e eu estava louca para que tudo voltasse para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

Santiago foi o meu primeiro homem e meu único amor, e nós merecíamos uma segunda chance, mas eu ainda sentia um certo incômodo por saber que haviam questões a serem resolvidas e uma delas era com o Bruno.

O dia ainda está escuro quando me levanto da cama e olho para o canto do quarto onde as malas já estão prontas para a viagem. Me estico um pouco sentindo a colunar protestar por ter passado a noite toda rolando para todos os lados na cama, pensando em Bruno, no homem a quem eu enganei. Deveria ter sido sincera com ele desde o início, mas preferi agir como uma garota birrenta e mimada, e acabei estragando tudo.

Tomo um banho rápido e visto um conjunto de moletom; casaco e calça. Por causa da barriga que cresce a cada dia, todas as minhas roupas ficaram pequenas, então só me restaram as roupas que esticam.

Saio do quarto de fininho e espio o quarto de Christian, e ele está em um sono profundo aninhado com seu ursinho de pelúcia favorito, caminho mais um pouco e observo que a porta do quarto da minha mãe está entreaberta e através da fresta consigo ver que ela também dorme. E, quando olho para o quarto que pertenceu a Susana me sinto péssima, e àquela é uma das situações que preciso resolver antes de entrar no avião rumo a Espanha.

Vou para a cozinha e lá tomo apenas uma xícara de café quente, pego a chave do meu carro e deixo um bilhete para a minha mãe dizendo que precisei sair, e como sei que ela sempre acorda primeiro que Christian, pedi que ela ficasse com ele por alguns instantes. Sei que ainda é cedo, mas onde vou é um lugar que nunca parece cedo ou tarde para uma visita.

Depois de deixar o bilhete em cima da ilha da cozinha, entro no elevador do prédio e me dirijo até o estacionamento, vou até a vaga onde deixei meu carro estacionado, entro nele e dou partida.

Durante o trajeto, percebo o sol nascendo no horizonte atrás de um colchão de nuvens rosadas, o dia dá vários indícios que vai ser lindo e isso é só mais um incentivo de que devo me acertar com as pessoas a quem eu magoei.

Em minutos chego no meu destino, e quando vejo o extenso gramado com jazigos, aperto forte o volante e limpo uma lágrima quente que escorre nos meus olhos. Sinto meu peito apertar, e então abro a porta do carro segurando a barriga, e me exponho ao clima húmido e frio do cemitério onde Bruno foi enterrado.

Existe um silêncio gritante no local, não há ninguém, somente eu caminhando pela rua de gramas umedecidas pelo orvalho, que dão acesso aos túmulos.

Olho para todos os jazigos que indicam o fim de tantos sonhos, o lugar que é definido pela palavra ,fim, e volto a olhar para o final do cemitério onde o corpo de Bruno está guardado.

Quando me aproximo sinto outra lágrima escorrer por me sentir tão desleal a ele, me aproximo do jazigo de mármore onde seu nome, a data de seu nascimento, e a data de sua morte estão gravadas, e me agacho colocando os joelhos na grama macia.

Aliso a placa delicadamente com uma mão, enquanto a outra toco na minha barriga, e começo a falar sentindo a voz embargada:

— Oi, Bruno... Sei que está ocupado com Deus, mas, eu preciso de só um minutinho de sua atenção. — Limpo uma lágrima e respiro reencontrando minhas forças. — Eu vim dizer que vamos ter uma menina — sorrio entre lágrimas. — E, eu estou muito feliz por isso e eu prometo que sou sempre dizer para ela o homem maravilhoso que você foi... — sinto o peito subir e descer com o desabafo, as lágrimas escorrem pelos meus olhos e caem em cima do mármore do Jazigo. — Sinto muito por tudo o que aconteceu, e também por eu não tê-lo correspondido da forma como merecia. Eu sinto tanto por esconder de você que eu sempre amei o Santiago... Odiava-me por ficar presa nesse amor sofrido, mas eu cansei de lutar contra isso, e eu o amo, e isso é inegável. — Limpei mais algumas lágrimas. — Me perdoa. — Molho os lábios. — Me perdoa por ter sido tão impulsiva e fraca. Só aceitei o seu pedido de casamento porque sabia que Santiago ainda me amava e queria fazê-lo sofrer como um dia ele me fez, e eu me sinto uma pessoa horrível por isso. Me perdoa por não ser para você o que você merecia de verdade.

Quando termino de falar minhas palavras, encosto a cabeça no jazigo e choro; choro deixando escorrer pelos meus olhos toda a culpa que sinto, e de repente, sinto uma brisa suave tocar a minha pele e levar os meus cabelos, como se Bruno estivesse ali e eu estivesse recebendo o seu perdão.

Sorrio sentindo o peito mais leve, e suspiro aliviando os pulmões e quando menos espero, sinto uma mão delicada tocar no meu ombro. Tomo um susto e quando olho para trás, vejo a mãe de Bruno em pé usando um vestido social preto e segurando uma rosa vermelha.

— Conhecendo bem o meu filho, é claro que ele te perdoaria, Giovanna.

Limpo as lágrimas e rapidamente me levanto, recompondo-me.

— Dona, Ieda?

Ela se inclina tranquilamente e coloca a rosa em cima do Jazigo, beija a mão e toca em cima no nome gravado com o mais triste pesar, depois ela ajusta seu corpo e olha em minha direção.

— Sempre venho nesse horário. Não esperava você aqui.

Lembro-me de que preciso me justificar para ela também.

— Dona Ieda, olha me desculpe por tudo eu...

— Não filha... — inesperadamente ela me abraça e alisa minha barriga. — Não precisa se desculpar, entendo você. Sei que as decisões que você tomou não foram as mais corretas, mas sou mulher e sei o que é ter um coração magoado, e a confiança traída por alguém, sua mãe me contou tudo a respeito do seu passado com o pai do seu filho... sinceramente acho justo que vocês sejam felizes juntos. Não estou aqui para julgá-la. Só quero que você seja feliz. Me desculpe se eu fui egoísta pensando que você deveria viver um luto eterno por causa do meu filho, me esquecendo que você é jovem, bonita — ela alisa meu rosto sorriso —, e merece ser feliz com quem você realmente ama. Além de que vai ser a mãe da minha netinha — ela volta a alisar a minha barriga e sorri limpando algumas lágrimas.

Sem perder tempo abraço a mãe de bruno e choro em meu ombro, por ela ser tão compreensiva, sentindo-a alisar meu cabelo e sussurrar que está tudo bem, que tudo vai ficar bem.

Depois que tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora