Santiago Castillo
Quando recebi a notícia de que César conseguiu contato com a mãe de Giovanna, fiquei apreensivo e com medo de tudo aquilo acarretar problemas futuros, e quando ele me ligou dizendo que estava voltando de viagem e acompanhado, fiquei mais apreensivo ainda. Ele havia conseguido convencer a mãe de Giovanna voltar e ter um reencontro com a filha, e o pior de tudo é que nem mesmo eu vou poder estar presente quando ela desabar emocionalmente com reencontro, que certamente vai ser cheio de drama, questões a serem discutidas e uma grande chance de rejeição de Giovanna. Sei que não devo me aproximar tanto, não depois de tê-la beijado daquela forma. Eu a amo e isso é um fato inegável, mas também não posso interferir em sua vida. Se Giovanna prefere Bruno, que assim seja.
As coisas saíram um pouco do meu controle, César me deu a missão de cuidar da filha e do neto enquanto estivesse fora, mas acabei perdendo meu posto de "o protetor" para Bruno. Aquele pedido de casamento fez com que todos os meus planos e esperanças de reconquistar a Giovanna acabassem, junto da liberdade que eu tinha para cuidar das duas pessoas que mais amo na minha vida.
Dou a Bruno todos os detalhes dos acontecimentos e deixo claro as possibilidades desse reencontro. Também digo que deixei na mochila de Christian roupas e coisas necessárias para eles passarem o dia inteiro fora, porque quando Giovanna chegar em casa, vai ter uma surpresa que pode mudar sua vida completamente.
Com o coração cheio de tristeza, deixo meu filho com Bruno e Giovanna, eles parecem tão felizes juntos, e o fato de saber que ela passou a noite fora, só reforça mais a ideia de ela ter dado a ele o que tanto queria.
Eu juro, que esse cara estiver brincando com ela, eu acabo com ele.
Entro no meu carro e dirijo até a casa do meu amigo Álvaro, é sábado ele me convidou para ir almoçar com ele, a esposa, e minhas duas afilhadas.
Paro com o carro na calçada, vejo os clones brincando de pique no jardim, minhas afilhadas de cinco anos, são gêmeas idênticas, os lábios rosados, cabelos cacheados loiros e olhos azuis claros, são obra do meu amigo, e suas peles brancas com sardas, lembram os traços ruivos da mãe, elas são lindas.
— Ester, Rute, entrem filhas, o sol está forte! — Ouço Sônia dizer.
— Estamos esperando o padrinho? — elas dizem uníssono e eu rio afrouxando o cinto de segurança.
— Acabou a espera — saio do carro e abro os braços.
— Santiago — Sônia me recebe sorrindo. Enquanto as meninas pulam no meu colo, cada uma de um lado e beijam meu rosto. — Venha, vamos entrar, Álvaro já estava impaciente querendo aquecer a churrasqueira.
Rio e a acompanho. Durante o trajeto que fazemos pela casa, Sônia me pergunta sobre mim, sobre Christian e Giovanna, sobre os negócios e eu resumo tudo com "Estão bem, vai ótimo, está tudo bem", não posso admitir a minha derrota, não agora.
Álvaro está de costas para as portas dos fundos, tentando acender uma churrasqueira, rio quando vejo o desajeitado do meu amigo tentar fazer aquela simples tarefa com tanta dificuldade.
— Eu já disse: homens que têm mãos macias não sabem acender uma churrasqueira — ele olha para trás rindo.
— E você deveria deixar de babaca!
— Álvaro! –Sônia o repreende.
Mulheres, eles não fazem ideia de como nós homens nos tratamos pelas suas costas.
— O babaca aqui, vai ensinar a você a acender essa churrasqueira.
Rimos juntos e ele vem me cumprimentar com um abraço receptivo.
— Eu vou deixar vocês conversarem — Sônia diz nos dando as costas. — Vamos meninas, precisamos terminar a sobremesa.
As crianças seguem a mãe para dentro da casa.
— Como é que vão as coisas, cara? — Álvaro pergunta provido de uma mansidão que não sei de onde vem.
— Indo... — Sou pouco enfático quando percebo que essa pergunta diz respeito a Giovanna e meu filho. — Não sei, as coisas tem tomado um rumo diferente, nada do que planejei deu certo — falo e vejo as sobrancelhas do meu amigo dar um sobressalto.
— Isso é em relação a Giovanna ou o cara que você quer incriminar?
— O que mais poderia ser — pego o acendedor de sua mão e me direciono a churrasqueira de pedra. — Ela aceitou a se casar com aquele cara.
— O cara das investigações?
— Sim. E o pior de tudo é que meu filho gostou da ideia quando a mãe contou. Eu estou perdendo, Álvaro. E eu ainda não encontrei nada para provar que ele não é quem aparenta ser.
Meu amigo ri.
— Ele é um bom homem, Santiago, tira isso da sua cabeça. Se você realmente quer reconquistá-la, não deve desistir, existem conquistas sem batalhas, e nem vitórias sem luta.
— Independentemente de estar perdendo, eu só os quero vê-los felizes. Mas, ainda não confio naquele cara. Se pelo menos, Giovanna me perdoasse — falo. — Me passa o carvão.
Meu amigo estica o saco em minha direção.
— Você só deve estar com ciúmes. Eu já disse várias vezes, você nunca vai conseguir o perdão de Giovanna se não conseguir se perdoar, talvez ela nem mais esteja magoada, só está tentando fazer dar certo com um outro alguém.
Coço a sobrancelha e o encaro.
— Não vem com esse discurso de perdão. Não vou deixar você me fazer lavagem cerebral, com essa ideia de Jesus Cristo, como Sônia fez com você.
— Não é sobre lavagem cerebral cara, é sobre o que faz bem para você. Comigo funcionou.
Começo a espalhar o carvão na churrasqueira.
— Quem te viu, quem te vê, de um bêbado galinha para um puritano, em ação.
Ele ri e me olha com passividade.
— Espero que um dia aconteça o mesmo com você, Santiago.
A manhã é tranquila, nos sentamos na varanda da casa, conversamos, comemos churrasco e rimos de algumas mancadas do passado, e incrivelmente eu me sinto bem quando estou junto de meus amigos, talvez o fato de passar tanto tempo longe da minha família que vive na Espanha a quase dez anos, me tem feito sentir muito sozinho. Sinto falta da minha mãe, dos meus irmãos que por mais que briguem tanto, estão sempre se metendo nas confusões um do outro, e do meu pai, que gosta tanto quando estamos todos reunidos, e eu já nem me lembro quando foi a última vez que isso aconteceu.
A tranquilidade do dia, as conversas e a forma como Álvaro diz sentir falta do irmão que foi viajar para o Egito e não quer mais voltar, me faz refletir e tomar uma decisão: após o casamento de Giovanna, eu vou para a Espanha, nem que seja por um tempo, quero estar novamente na companhia das pessoas que me amam, sei que vou deixar um buraco no peito de Christian, mas eu preciso fazer isso, por Bruno, pelo meu filho e principalmente Giovanna. Sei que ela fica muito tensa quando Bruno e eu estamos compartilhando o mesmo ambiente.
Vai ser muito duro saber que meu garoto vai estar sendo educado por outro homem. E que o amor e fidelidade da mulher que tanto amo vai ser entregue a outro.
Se eu pudesse voltar no tempo faria tudo diferente, eu nunca deixaria Giovanna escapar de mim, nem pela idade ou por qualquer outra circunstância.
— Até o dia do "sim", muita coisa pode acontecer — Sônia fala e se senta ao meu lado, como se estivesse lendo meus pensamentos. — Álvaro me contou o que está acontecendo, e sinceramente eu sinto muito por tudo. E o meu conselho é: não desista. Se não conseguir fazer Giovanna enxergar o homem que você é de verdade, não vai conseguir despertar nela novamente o amor que sentiu um dia — ela aperta meu ombro com força. – Nós vamos estar orando por você.
— Espero que Deus esteja ao meu lado na torcida — ele ri e me avalia por um tempo e depois se retira para dentro da casa, para receber mais convidados que chegaram.
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Depois que tudo deu errado
RomanceNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...