Um mês depois...
Giovanna Martins
Estou achando esse rostinho tão tristinho para quem vai realizar o sonho do casamento — minha mãe se senta ao meu lado na loja de noivas e alisa meu rosto com os nós dos dedos. Sua voz é doce, mas seu olhar me analisa com precisão. — O que está acontecendo, meu amor?
— Não é nada, mãe — digo, tentando disfarçar o peso no peito enquanto volto a fitar a paleta de cores dos tecidos.
Desde o dia do noivado, me sinto péssima. Minha cabeça está uma bagunça, como se pensamentos conflitantes disputassem espaço o tempo todo. O coração está apertado, uma sensação constante de culpa e arrependimento. Quase enlouqueci ao ver Santiago tão próximo de Susana naquele dia, como se ela pudesse ocupar um lugar que eu, no fundo, ainda desejava que fosse meu.
A forma como agi está me matando por dentro. Expulsá-lo da festa, diante de todos, foi cruel e desnecessário, mas eu não conseguia controlar a raiva e o ciúme que tomaram conta de mim. Agora, cada vez que fecho os olhos, revivo o olhar dele, magoado e incrédulo, como se não acreditasse que eu pudesse tratá-lo daquela forma.
E para piorar, desde então, ele tem me ignorado. É como se um abismo tivesse se aberto entre nós, e eu não soubesse como construir uma ponte para alcançá-lo novamente. Tento me convencer de que foi o melhor, que essa distância é o certo para nós dois, mas meu coração insiste em dizer o contrário.
A ideia de vê-lo indo embora, de perder a presença dele nos pequenos momentos do nosso dia a dia, me corrói. Talvez, no fundo, eu saiba exatamente o que estou sentindo, mas tenho medo de admitir, porque isso significa questionar todas as decisões que tomei até agora.— E quem é esse "não é nada"? Se ele fez algo com você, eu acabo com ele! — Ela tenta aliviar o clima com humor, mas sua preocupação é evidente. Meu silêncio só parece aguçar sua intuição. — Sei que não convivemos tanto, mas como mãe, eu conheço o olhar da minha filha. Algo está te incomodando.
Ela está certa. Não posso negar.
— O Santiago... Ele está me ignorando desde o noivado.
Minha mãe solta um longo suspiro, quase como se já soubesse o que eu iria dizer.
— Seu pai me contou o que aconteceu. Não precisava tê-lo mandado embora daquela forma, querida. Ele tem sido tão bondoso com você. Sempre preocupado, sempre presente... Sem falar que ele me ofereceu um emprego.
— Emprego? — Pergunto, franzindo a testa.
— Sim. Ele quer que eu cuide da casa enquanto estiver fora. — O tom dela é casual, mas a frase "enquanto estiver fora" acende um alerta em minha mente. Tento entender o que ela quer dizer, mas fico calada.
— Agora, me conte. O que te levou a agir tão mal com ele?
— Eu... fiquei furiosa quando vi a Susana, irmã do Bruno, tão próxima dele, cheia de intimidade. Não sei... Senti que, se não fizesse algo, eu iria explodir de raiva — desabafo, exasperada, tentando explicar o inexplicável.
Minha mãe passa os dedos pelo meu cabelo, um gesto que sempre me acalma, mas sua próxima pergunta me faz congelar.
— Tem certeza de que você não sente nada por ele?
— Eu... eu não sei. E agora é tarde para arrependimentos — respondo, desviando o olhar para os vestidos de noiva na vitrine, que parecem ainda mais distantes da minha realidade do que antes.
— Filha, você não pode se casar sem amor.
— Não é sobre amor, mãe! — Rebato, sentindo o nó apertar na garganta. — Santiago e eu vivemos um amor intenso no passado, e tudo o que isso trouxe foram marcas profundas. Com o Bruno é diferente. Ele nunca me magoou, nunca quebrou as regras. Ele é seguro, confiável, e me dá sinais claros de que me quer. Não sei... — Cubro o rosto com as mãos, sufocada pelas dúvidas. — Estou perdida.
Minha mãe suspira, seus olhos cheios de pesar.
— Então é melhor se decidir logo, porque, quando saí de casa, o pai do seu filho estava fazendo as malas.
— Fazendo as malas? — Pergunto, arregalando os olhos enquanto o peso daquelas palavras me atinge.
— Sim. Ele disse que vai para a Espanha.
A notícia me atinge como um golpe. Meu coração acelera, a respiração falha. Ele vai embora? Santiago vai nos deixar? Não vou mais vê-lo todos os dias? E nosso filho? E eu? E tudo o que vivemos?
O turbilhão de pensamentos é tão avassalador que sinto o estômago revirar. O ácido sobe pela garganta, e eu corro até as portas de vidro da loja. Assim que alcanço a calçada, vomito todo o café da manhã.
— Filha? — Minha mãe corre até mim, segurando meu cabelo e me amparando quando sinto o mundo girar ao meu redor. — Meu Deus, você está pálida! Está bem? Fala comigo, filha!
Quando finalmente me recomponho, respiro fundo e, entre a fraqueza e a clareza repentina, tomo uma decisão. Não posso deixar o pai do meu filho ir embora. Não hoje. Talvez nunca.
Olho para minha mãe, os olhos ainda marejados, mas agora determinados.
— Mãe, precisamos ir para casa. Agora!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Depois que tudo deu errado
Любовные романыNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...