1 - Tons de negação.

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Tem uma coisa sobre a vida que me custa a entender, e quanto mais eu penso sobre, menos sentido faz: morrer em vida, é o mesmo que dizer que seu espírito está andando pela terra, mas diferente do que dizem as lendas e teorias, as pessoas te veem, ...

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Tem uma coisa sobre a vida que me custa a entender, e quanto mais eu penso sobre, menos sentido faz: morrer em vida, é o mesmo que dizer que seu espírito está andando pela terra, mas diferente do que dizem as lendas e teorias, as pessoas te veem, falam com você, te cumprimentam e interagem. O que não fazem é dar uma olhada se você está se decompondo intelectualmente.

Em minha opinião, sou um espírito que está se decompondo, e disfarça isso com perfumes doces, de puta, muitas perucas, conversas banais com a única amiga que eu tenho e nada de muito interessante no resto do tempo que me sobra. Eu resumiria tudo a trabalho, se não fosse só isso, mas é quase, pois não paro em casa e não tenho tempo pra ficar de conversinha com quem mora comigo.

Aliás, eu deveria ter passado lá pra pegar as chaves novas. E sabe o que isso significa pra mim? Que vou me foder bonito. O que adiantaria ficar me fazendo de biscoito e pedir pra ele me dar as chaves? Nada, porque nesse sentido aqui, na realidade, sou um espírito a qual ele ignora a existência a não ser quando precisa descontar em alguém seus dilemas que, claro, só ele tem!

É impressionante! Um detalhe abstrato e tudo na minha mente se forma. Primeiro me questiono a singularidade da morte em vida, agora tenho o responsável por causa disso, aquele que tem uma arma e todo dia usa aquela única bala para acertar a própria filha. Assim é bom demais ter filhos, penso em fazer alguns pra ter o que socar no fim do dia. Alguém pra culpar, graças a merda de vida que tenho. Alguém que vá com certeza se foder no meu lugar e por minha causa, enquanto coço o saco em cima do sofá.

Caraca, tudo em cima, essa é a moral da história.

Na realidade, eu não estaria pensando merda se Hinata não fosse tão lenta! Às vezes quero pegar aquele cabelão e chacoalhar de um lado para outro. Em algum momento, farei isso.

Levei o vape até a boca e... meu corpo relaxou no momento em que o fiz e tive o prazer de sentir a massa gasosa dentro de mim, invadindo meus pulmões e fodendo com a minha respiração. Será que já estou viciada? Disseram que era melhor que cigarro...

— Não acredito que está fumando isso na minha sala de estar! Guarda isso! — Resmungona, parece uma velha. — Trouxe o que você pediu e não entendi porque queria uma peruca preta e outra branca. O que está aprontando?

O de sempre, me surpreende ela perguntar. Há dois meses atrás, Hinata teve o desprazer de conhecer o que realmente faz, a pessoa que ela insiste em chamar de melhor amiga. Tipo assim, conhecer realmente. Somos coleguinhas desde o nono ano, e desde então tenho suportado ela, seus dramas, péssimo gosto pra música. Uma bonequinha de luxo, como eu sempre chamo.

Peguei a peruca de sua mão. É curtinha, é sintético também, não parece que vai durar muito e se eu tingir, vou perder. Mas por trás de uma câmera, quem nota esses detalhes mesmo?

— Que tontinha! Você sabe o que eu estou "aprontando". — Fiz aspas e guardei o meu veneno sintético. — Tem lingerie nova? As minhas estão rasgando muito fácil.

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