Uma xícara de algo

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O esperado era que com o final de fevereiro chegando, o inverno ficasse menos rigoroso e abrisse espaço para a primavera, mas o oposto começou a acontecer nas últimas semanas.

— Anotação, não sair sem um cachecol, gorro e mais três casacos, aliás é melhor nem sair daqui. — Rocky reclamou com o irmão mais novo, enquanto sentia o frio passar por entre seus dedos, mesmo já dentro do quarto do hotel em que Ross estava hospedado. — Achei que o clima mudaria. — Rocky poderia pensar que estava em uma conversa, mas apenas ele falava no momento. O ruivo discursava sobre o clima, enquanto seu irmão dividia sua atenção entre um livro e o copo de uísque. — Ross! Ei, está tudo certo com você?

— Sim, claro que sim.

Ele poderia dizer que o tempo todo seus pensamentos eram confusos. Não tinha uma linha de raciocínio única, todavia agora ele tinha encontrado um ponto focal, aliás um rosto. Laura.


Não conseguia tirar ela de seus pensamentos. Qualquer tema que fosse razão para um pensamento racional logo sumia e seu cérebro o forçava a voltar a ela. Isso perdurava há semanas. —Vou pedir um café ou qualquer coisa quente para gente. — Rocky avisou pegando o telefone do hotel. — Já foi ver Riley? Rocky perguntou observando o irmão inquieto e pensativo.



— Não, estou indo daqui a pouco. — Amava sua filha e passava grande parte do tempo com ela, entretanto tinha que admitir, a distância até a casa de Laura cansava as vezes. — Você tem planos para hoje à noite?

— Vou ficar com a Vanessa, por quê?


— Pensei em sair. Aproveitar uma noite em Nova York, como fazíamos antes, claro que com sua namorada agora.


Ross não conseguia segurar o riso, enquanto bebia ao pensar que o irmão estava namorando seriamente.



— Claro, vou falar com a Vanessa e te dou uma resposta. — Rocky conhecia ele tão bem. Parte, porque era seu irmão e outra, porque conhecê-lo fazia parte de seu trabalho até mês passado. — Ei, você superou aquele problema com a Laura, não é?


— Que problema?



— Você sabe, atração fatal. Desejo incontrolável


Explicou vendo Ross se afastar dele.


— Ah, esse problema. — Se jogou na poltrona da sala, que era acoplada ao quarto. — É, está sob controle.



— O que você quer dizer com sob controle? Você saiu com alguém?



— O que você considera controle? Porque se controle for não beijá-la eu estou indo muito bem, eu não a beijei. — Ele considerou o pensamento com o irmão. — Mas, se controle for não pensar em beijar ela ou não pensar completamente nela e nos lábios dela ou na risada que ela tem quando fica tímida ou naqueles olhos, que são os únicos que fazem aquilo. Então, eu estou indo muito mal.

Ross jogou a cabeça para trás e fez um som que era difícil explicar, porém só significava mais um sinal de seu momento de lamentação.



— O que os olhos dela fazem?

Rocky tinha muito a dizer, mas começou com um questionamento simples.



— Eles sorriem, mesmo quando ela está séria, os olhos dela sorriem e tem aquelas marquinhas ao redor deles. É só algo poético, ok? O que eu faço?




— Eu te daria o mesmo conselho de antes, mas...



— Eu sei, sair para ficar com outras pessoa né? Pensei nisso também.


Ross interrompeu Rocky, porque estava dentro de seu próprio mundo interno.

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