Alérgica a Morangos

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Santa Mônica, 2015

Laura naquele dia chegou em casa e para ela parecia que assim que pisou dentro de casa tudo que tinha passado durante o dia havia sumido

A garagem estava aberta e ela podia ver as caixas que seriam enviadas para doação já fechadas e prontas para irem embora. Ao lado das caixas era possível ver as malas de Vanessa, que também estava se arrumando para voltar para a universidade.

Vanessa estava tão centrada com a arrumação de suas coisas no porta-malas do carro, que nem percebeu os braços de sua irmã vindo ao seu redor.

— Me perdoa? Eu sinto muito, por ter sumido no seu último dia em casa.

Laura falava com um tom de voz tão fino que era como se fosse uma criança se desculpando.

— Ei, não é para tanto. — Vanessa riu do tom melancólico da irmã. — Eu sou a parte dramática da nossa relação.

— Eu queria fazer algo para te recompensar. Era nosso último dia e eu saí.

Vanessa nessa época não fazia a mínima noção que sua irmã tinha um tipo de relacionamento com alguém. Laura sair sozinha pela cidade não era uma informação assustadora.

— Do jeito que você fala parece que nunca mais voltarei para casa. — Vanessa beijou a têmpora da irmã caçula que a abraçava com muita força. — Mas, se você quiser mesmo me recompensar, há uma forma.

— Qualquer coisa.

— Você sabe que organiza tudo melhor do que eu, certo?

Ela apontou para seu porta-malas.

— Deixa comigo.

Laura riu sentindo que faria isso maravilhosamente bem. Vanessa assistiu sua irmã pegar todas as malas, as caixas que estavam ao redor como se não pesassem nada e de frente para o carro ficar pensando em formas de colocar todas as coisas dentro do automóvel com um entusiasmo que era engraçado de assistir.

— Pinky, eu sei que a gente já teve essa conversa.

Vanessa estava ensaiando como falar com Laura desde que ela saiu de casa e agora que estava a observando sentia que não teria outra oportunidade tão cedo.

— Que conversa?

Estava tão verdadeiramente concentrada em organizar as malas, que sua atenção para Vanessa era quase nula.

— Você sabe, aquela conversa que tivemos quando você tinha dez anos e depois quando viajei pela primeira para conhecer o campus.

Elas nunca tiveram segredos entre si, pelo menos Vanessa achava, mas o assunto que Laura rapidamente tinha descoberto qual era causava um desconforto nelas.

— O que tem?

Laura fingiu não saber do que a irmã queria falar.

— Eu sei que não é um assunto que falamos tanto e temos óbvios motivos para isso, mas será que podemos conversar?

Vanessa sentou mais próximo da traseira de seu carro e tentou chamar atenção da irmã.

— Se você quiser pode falar, que te escuto, estou aqui para isso.

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