O grande problema com mentiras é que a verdade é algo esmagador e diante dela, o menor e inofensivo dos enganos é destruído.
Desde que havia se mudado para Nova York, era a primeira vez que Vanessa passava tanto tempo sem ir na casa de Laura. Estava com saudade como nunca dela, das sobrinhas e dos outros, já que não estava indo também na livraria. Ela estava evitando a todos, incluso Rocky. A mentira doía e a verdade não era fácil de ser dita, por isso estava indo de casa para o trabalho.
Normalmente, por causa das crianças e amigos, quase não notava o cansaço diário. Riley sempre a levava para alguma brincadeira inusitada e Emma, sua pequena loirinha a fazia esquecer qualquer problema com sua risada barulhenta. Entretanto, sem eles, pela primeira sentiu a exaustão de um dia inteiro trabalhando. Quando chegou em sua casa, procurou pela chave dentro de sua bolsa e talvez fosse por isso ou todos esses pensamentos que não tivesse notado a presença de uma pessoa na porta do apartamento.
Ainda que não estivesse pronta para encontrar Laura, pior do que ver ela ou Ross era encontrar Ellen.
— Espero que não se incomode, pedi a uma das amigas de sua irmã o seu endereço.
A mãe revelou afastando-se da porta da casa dela.
— Entra.
Séria e sem esboçar nenhum tipo de emoção entrou em seu apartamento e abriu espaço para que a mulher entrasse.
— Desculpa vir sem avisar. Sei que trabalha muito, mas vou voltar para a fazenda hoje ainda e pensei em vir para me despedir de você.
Retomar vínculos com a filha mais velha mostrou-se mais difícil do que com Laura. Enquanto falava, Vanessa andava por todo o grande apartamento, como se quisesse evitar olhar para a mãe.
— Fez isso vinte e dois atrás. — Iria pegar um copo de água, mas quando viu a garrafa de tequila na estante a abriu e se serviu. — Pode ficar tranquila, diferente da Laura eu estou bem. Não tenho fantasmas me assombrando.
— Nessa...
— Não, não pode me chamar assim. — Corrigiu rindo nervosamente. — Só a minha mãe me chama de Nessa e ela morreu quando eu tinha quatro anos.
Ellen apareceu em um momento em que seus níveis de estresse estavam gritantes. Se fosse em outros dias, poderia ser calma e medir as palavras, todavia, no momento estava guardando um segredo de vida da sua irmã e não era fácil ficar tão longe dela.
— Não tem o que eu diga que te faça me perdoar ou seja justificável.
— Concordo. — Tentou se sentar no sofá, mas não conseguiu se acalmar o suficiente para ficar parada em único lugar. — Não tem nada que você diga que me faça entender ou perdoar que tenha deixado suas filhas. Eu tinha quatro anos e***! Laura nem sabia falar direito. — Ellen abaixou a cabeça pronta para ouvir a filha desabafar. — A esposa do papai, a Cintia, era péssima, a Laura não se lembra, mas ela não conseguia acordar de madrugada, então era eu que levantava para acalmar minha irmã. No aniversário de 15 anos dela, eles viajaram e comemoramos em casa. Minha irmã e eu fomos a família uma da outra. — Ellen agora entendia a fala de Laura.
— Nes...Vanessa, eu sinto muito, me perdoa, queria ter voltado antes para vocês.
— Mas, não voltou. Olha, se quer meu perdão, sinto muito. — Abriu a porta de sua casa. — Tenha uma vida feliz.
De formas imperfeitas a vida de Vanessa e Laura se deu e seria muito pedir que algo como o perdão viesse abruptamente. Assim como colisões são necessárias, perdoar vai no mesmo caminho que receber um pedido de desculpas. Pedir e conceder perdão são parte de uma logística humana.
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O Que Vem Depois?
RomanceTudo começou há sete anos em Santa Mônica. Para Laura e Ross bastava a atração que sentiam. Sem complicações e sentimentos, isto era a base sólida que se colocaram. No entanto, agora não tinham mais 18 anos e as escolhas que tomaram antes se mostr...