De momentos que não se lembra, mas existem

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Foi como neblina sobre os olhos. Algo forte que os impediu de ver o que em dias normais seria claro e evidente. Quando os mesmos olhos que se cruzaram em uma festa do ensino médio voltaram a se ver em um clube no Greenwich Village, não foi como rever um passado distante. Nada aconteceu de esplendoroso ou perfeito. Houve um ou dois sorrisos, uma lenta aproximação e palavras incompreensíveis diante a música alta. O loiro alto que usava uma camisa branca por baixo de uma jaqueta azul de couro, desde sua chegada no seu clube favorito de Nova York estava acompanhado unicamente de seu copo de Oak Cask 18 Anos. A garota de vestido preto estava acompanhada de seus amigos, contudo, à medida que os copos de tequila se multiplicaram, os amigos se viram soltos por todo o ambiente. Só restou a ela toda a pista de dança e os olhos castanhos que não tinham a deixado desde que voltou para reabastecer seu copo.

— Acha que aquele homem está flertando comigo?

Virou-se para a barman e trouxe a questão para ela responder.

— Não tirou os olhos de você desde que se sentou aqui.

— Psicopaticamente ou de um jeito normal? — Nunca se viu tão bêbada como agora, não poderia confiar unicamente em seus olhos. — O conhece?

— Você não? — A mulher que deveria estar concentrada em seus drinks encarou outra vez o homem que tinha acabado de servir. — Achei que todo mundo conhecesse o autor de "17 noites"

Ainda que sua mente não fosse um artificio confiável nesse momento tentou lembrar do nome e talvez fazer isso demorou tempo demais, uma vez que, quando ela olhou em direção ao homem ele estava do seu lado.

— Oi. — Disse a assustando. — Sem muitos espaços livres escorou-se no balcão. — Não queria te assustar. — Em meio a música eletrônica, ouvi-lo foi quase um mistério.

— Não, está tudo bem.

O sorriso dele a forçava a sorrir também.

— Sou Ross.

Estendeu sua mão. Era o mesmo sorriso que apareceu no dia em que ela derramou sua bebida nele. Um dia pensou que jamais se esqueceria dele e não somente, porque tinha metade do código genético dele em sua casa.

— Laura.

Apertou a mão dele, que não soltou enquanto não perdeu a sensação de que não conhecia os olhos. Eram reconhecíveis, sabia que sim. Vinha tantas vezes a Nova York que ela poderia uma conhecida. Desconfiada afastou-se.

— Me desculpa, você me lembra alguém.

— Você também, mas fiquei sabendo que é um escritor, então, pode ser daí. — Do que lhe adiantava ter uma memória e eidética se bastava um pouco de álcool para ela falhar? — Trabalho com livros.

— Sério? Isso é realmente incrível. Você é de Nova York?

Precisava acabar com a sensação que a conhecia.

— Sim, você?

Depois de cinco anos, sim, ela era.

— Seattle. Vim a trabalho.

— Legal.

Quanto tempo fazia desde que saiu com um homem? Não tinha certeza se sabia fazer isso.

— Ainda tenho a sensação que tinha conheço.

Ele avisou pedindo mais um copo para a barmen.

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