Capítulo 42

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Are you lost in your lies?

Do you tell yourself I don't realize

Your crusade's a disguise

Replaced freedom with fear, you trade money for lives

I'm aware of what you've done

No, no more sorrow

I've paid for your mistakes

Your time is borrowed

Your time has come to be replaced

No More Sorrow - Linkin Park

Fabiana caminhava por um longo e vazio corredor, acompanhada pela carcereira. O ambiente era tétrico; homens enclausurados pediam por misericórdia, clamavam pela salvação de, quem sabe, um Deus. Embora aquele ambiente fosse repleto de dor, ela não tinha pena. Sabia que haviam feito algo para estarem ali.

Dentre inúmeros gritos e pedidos de ajuda, Fabiana alcançou o seu destino. Francisco Ferreira descansava em uma cela solitária, utilizando uma roupa branca e algemas nas mãos. Seu olhar parecia perdido, e ao encarar a sua madame de cima a baixo, sentiu um frio na barriga.

― Vocês têm vinte minutos. ― Declarou a carcereira, abandonando Fabiana com o criminoso.

Francisco pendeu a cabeça para um lado. Estava derrotado, completamente abandonado. Não era daquela forma que ele gostaria de ser visto por uma pessoa de tão alta estirpe.

― Madame... ― Ele pronunciou a palavra com dificuldade. Fabiana não esboçou reação alguma, apenas contraiu os lábios numa expressão de desgosto.

― Você falhou, Ferreira. ― Lançou a mulher, com seu tom julgamental. ― Eu te pedi uma coisa. Fiz tudo o que você me pediu. E, ainda assim, você falhou.

Francisco lambeu os lábios. Não precisava ser relembrado do seu fracasso; era certo de que a madame iria querer algum acerto de contas após o trágico desfecho de sua tentativa.

― Eu quase consegui. ― Respondeu ele. ― Foi por um triz, um mínimo...

― Mas você não conseguiu. ― Cortou. ― Você falhou. E, agora, Leonardo está vivo.

Francisco nunca entendeu muito bem a razão pela qual aquela mulher tão rica queria a morte do garoto que, agora ele sabia, era namorado de sua enteada. No entanto, ela parecia muito obstinada em seu objetivo.

― Se não fosse a minha enteada... ― Ele tentou se justificar, mas Fabiana cortou mais uma vez:

― Se não fosse a sua incompetência, Ferreira. ― Disparou. ― Você não estudou corretamente as possibilidades do plano dar errado. Você é um palhaço.

Bem, palhaço não era exatamente o melhor dos adjetivos, pensou ele, mas poderia ser pior.

― Eu não tinha como imaginar que o garoto namorava a minha enteada. ― Embora fosse inútil, ele ainda tentou se defender. ― Por favor, madame, cuidado com as palavras.

Fabiana, ao contrário do que Francisco gostaria, acabou-se na risada.

― Cuidado com as palavras? Para um ser patético como você? ― Ela não tinha respeito algum por Francisco, e isso estava bem claro. ― O que é você além de um rato de esgoto, Ferreira?

Certo, "Rato de esgoto" definitivamente não era um bom epíteto. Ele preferiria continuar com o "palhaço".

― Mas eu deveria ter imaginado. ― E balançou a cabeça de um lado para o outro. ― Se você fosse bom no crime, sairia daquele moquifo em que mora.

― Madame... ― Francisco umedeceu os lábios, sem ter muito o que dizer. Fabiana, apesar de tudo, continuou:

― Você é patético, Ferreira, mas a pior aqui sou eu. ― Seguiu ela. ― Porque confiei em um traficante amador que é incapaz de limpar a própria cozinha. Não, eu deveria ter feito isso sozinha. Jamais ter me associado a gente da sua laia.

― Da minha laia? ― Francisco questionou, confuso.

― Sim. Da laia dos fracassados. ― Fabiana pronunciava cada palavra com desprezo. ― Porque você jamais deixará de ser um fracassado, Ferreira. Você é um pedaço de esterco, porque nem mesmo o esterco inteiro é capaz de ser. Sinceramente, não sei como uma pessoa tão fina e tão importante como eu aceitou se associar com um... Mal-ajustado como você.

― Ei! ― Francisco sentia-se humilhado. Jamais tinha recebido tantas características ruins em tão pouco tempo. ― Mais respeito comigo.

― Respeito? Ferreira... ― Fabiana riu sarcasticamente. ― Você não merece respeito algum. Você é apenas um resto ambulante que vaga por aí buscando seu local no mundo. Mas jamais conseguirá, porque está predestinado para a derrota.

Se não estivesse algemado, Francisco certamente desferiria um soco contra a madame tão arrogante; como estava, só lhe restou ouvir a tudo passivamente.

― Eu vou terminar o trabalho que você tentou começar. ― Disse, enquanto os passos da carcereira ficavam cada vez mais próximos. ― Sozinha, como deveria ter sido desde o começo.

A carcereira finalmente apareceu com o molho de chaves e destrancou a cela para que Fabiana passasse.

― O tempo de vocês acabou. ― Ela disse, rígida. ― Vamos, circulando.

E Francisco, que durante muito tempo acostumou-se a ter o ego inflado, jamais havia recebido uma humilhação tão grande em toda a sua vida. Cedo ou tarde, vingaria-se de Fabiana, e já estava arquitetando um plano para tal feito.

Não falharia desta vez. Francisco Ferreira não era um completo fracassado, como ela havia insinuado.

***

― Henrique? ― Com o telefone antigo que trocara por alguns maços de cigarro na prisão, Francisco teclou o número de seu ajudante. Foi um pouco difícil mexer naquele teclado dos anos 2000, mas era o que estava disponível a ele. ― Bolas, Henrique, atende!

Depois de alguns segundos, a voz de Henrique apareceu do outro lado da linha.

― Alô? ― Disse. ― Se for da Claro, já aviso que não tenho interesse em suas ofer...

― Para de graça, Henrique, sou eu! ― Francisco controlava a voz, para que não chamasse a atenção dos carcereiros.

― Francisco! ― Exclamou o jovem, assustado. ― Como você conseguiu um celular?

― Não importa. ― Retrucou ele. ― Olhe, eu preciso saber como você está. Se está sendo investigado pela polícia ou algo do gênero...

― Sim. ― O garoto disse, baixinho. ― A sua enteada alegou ter visto o meu carro no lugar em que a vítima foi apanhada. Eu estou com o cu na mão. Mas, se eu te conheço, você não está preocupado com o meu bem estar...

Francisco respirou fundo. De fato, suas intenções eram um pouco mais sórdidas.

― Olhe, eu vou dar um depoimento falando que você não me ajudou em nada. ― Prometeu. ― Que eu usei o seu carro, sem que você soubesse a finalidade, mas quem cuidou da operação toda fui eu.

― Mas...? ― Henrique não era idiota. Sabia que nada de Francisco viria gratuitamente.

― Mas você terá que fazer os prints da minha conversa com a madame chegarem no senhor Castro.

Um silêncio sepulcral tomou conta da linha telefônica. Era possível ouvir apenas a respiração de Henrique, que cogitava se aquilo valeria a pena ou não.

― Tá. ― Afinal, o que ele tinha a perder? ― Sei onde está o seu celular. Mas por que você quer explanar a madame?

― Porque, Henrique... ― Francisco murmurou, entre os dentes. ― Eu não sou o idiota que ela alega. E irei provar isso, pelo bem ou pelo mal.       

Nunca Mais Seremos os MesmosOnde histórias criam vida. Descubra agora