Capítulo 15

13 1 5
                                    

E o preço que eu pago

É nunca ser amada de verdade

Ninguém me respeita nessa cidade

Amante não tem lar

Amante nunca vai casar

Amante Não Tem Lar - Marília Mendonça

Novembro de 1996

Boa tarde, amor! — Clara, apreensiva, atendia ao celular forjando despretensão. — Como estão as coisas aí no quartel? Difíceis? Hum... — E tamborilava os dedos na mesinha ao lado da poltrona. — Só nove horas? Tudo bem, amor. Te espero, viu? Te amo. Um beijo.

E pôs o telefone novamente em seu gancho. Olhou para o relógio: Quatro horas. Tinha tempo de sobra.

Isto é: Se ele não atrasasse.

A mulher andava de um lado para o outro. Ajeitava seu coque, olhava-se no espelho. O relógio marcava quatro e vinte, quatro e meia. Nada. Naquele dia excepcionalmente quente, o sol adentrava o vitrô e iluminava a sala em pequenos filetes.

Clara estava irritadiça. Havia marcado com ele às três horas. Será que algo justificaria aquele atraso? Ela sentia um enjoo irritante. Talvez fosse pela ansiedade, talvez fosse pela...

Ding-dong. A campainha tocou. Clara suspirou em alívio; Após uma hora e trinta e cinco de atraso, ele havia chegado.

No olho mágico, ela conseguia visualizá-lo. Seus cabelos lisos e escuros ajeitados com gel, seus olhos azuis e a barba por fazer. Ninguém menos que Lourenço de Castro.

Finalmente! — Ela disse, abrindo a porta. — Achei que não vinha mais.

Meu pai só me liberou agora. — Justificou-se. — É pesado o fardo de ser herdeiro das empresas Castro, sabia?

Clara revirou os olhos. Se fosse herdeira de um megaimpério como as empresas Castro, a última coisa que faria seria reclamar.

Sente-se aí. — Ela apontou para o sofá. — Tenho algo importante para te dizer.

Ei, calma. — Lourenço ergueu as mãos para cima. — Você nunca esteve afoita deste jeito. Não vai nem me servir um café?

Se você quer um café... — A este ponto, ela estava um tanto quanto inflamável. — Faça você mesmo.

O que deu em você? — Questionou Lourenço. — Sempre me recebeu com tanto carinho. Foi algo que eu fiz?

Ela estava ansiosa para contar. Ao mesmo tempo, porém, era como se as palavras se recusassem a sair de dentro de si. Clara sentia seu almoço voltando pela garganta; De que maneira diria aquilo?

Então? — Lourenço pressionou. — Eu não tenho o dia todo.

Lourenço... — Era o empurrão que ela precisava. — Eu estou grávida.

Lourenço arregalou os olhos. Alisou o bigode, chocado, e tentou não demonstrar espanto. Para manter a calma, puxou um cigarro de seu bolso e o acendeu.

Grávida? — E ergueu uma sobrancelha. — Como você pode saber disso?

Minha menstruação está atrasada, Lourenço! — Ela se via num beco sem saída. — Eu fiz um teste na farmácia. Deu positivo. Eu estou grávida.

O homem soprou a fumaça.

Bem... — Ele tentava chegar ao raciocínio óbvio. — Paulo, seu marido, é estéril...

Exatamente! — Clara não parecia querer dar a ele tempo para refletir. — De quem você acha que é essa criança, seu pamonha?

A pergunta era retórica. E a sua resposta caiu em cima da cabeça de Lourenço, com um peso imensurável.

Não deve ser tão ruim. — Lourenço tentava, ainda, pensar positivo.

Não é tão ruim? — Grunhiu Clara, desesperada. — Eu estou ferrada, Lourenço. Você vai ter que assumir essa criança.

Eu não posso. — Respondeu ele. — Eu sou casado, Clara. E já tenho um filho. Você sabe que eu não queria me casar com a Fabiana, mas, depois que ela engravidou, meu pai me obrigou...

EU TAMBÉM SOU CASADA! — Berrou. — E meu marido é estéril. Ah, Lourenço, se Paulo souber da gente, eu não sei o que será de mim. Eu tenho apenas dezenove anos! Não sei lidar com essa situação!

Você... — Lourenço tamborilou os dedos na mesinha. — Quer ter essa criança? Se quiser abortar, eu pago para...

Não. — Devolveu ela, ríspida. — Isso não é uma opção. Eu sou católica. Quero ter essa criança, e você vai assumir.

Clara... — Lourenço não queria sujar sua imagem dessa forma, tão novo. Ele teria um futuro brilhante e um filho fora do casamento seria um escândalo com o qual ele não queria lidar.

Não tem outra opção, Lourenço! — No pescoço, uma veia de Clara saltava. — Você não pode me deixar sozinha nessa.

E se você disser que o filho é de Paulo? — Sugeriu ele. — Apenas eu e vocês dois sabem que ele é estéril...

Você é estúpido? — Disse Clara, incrédula. — Eu posso tapear o mundo. Mas como vou tapear Paulo? Ele sabe desde adolescente que não pode ter filhos. Lourenço, você tem cada ideia...

Ele não precisa saber, Clara. — Lourenço respondeu, sério. Clara franziu uma sobrancelha.

Não? — Perguntou. — Como assim?

Lourenço fez uma pausa. O que tinha a dizer era pesado; O tom de voz diminuiu.

E se você... — Ele olhou para os lados, garantindo que estavam sozinhos. — Matá-lo? 

Nunca Mais Seremos os MesmosOnde histórias criam vida. Descubra agora