Capítulo 39

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Quantas chances desperdicei

Quando o que eu mais queria

Era provar pra todo o mundo

Que eu não precisava provar nada pra ninguém

Me fiz em mil pedaços pra você juntar

E queria sempre achar explicação pro que eu sentia

Como um anjo caído, fiz questão de esquecer

Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira

Mas não sou mais tão criança

Oh, oh

A ponto de saber tudo

Já não me preocupo se eu não sei porque

Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê

E eu sei que você sabe quase sem querer

Que eu vejo o mesmo que você

Quase Sem Querer - Legião Urbana

Raquel despertou às sete da manhã. Maycon despediu-se da garota com um abraço rápido e foi para o trabalho tão logo o sol raiou; e, enquanto o irmão dava duro fora de casa, ela também tinha alguns desenhos para fazer à distância.

Estava feliz com a popularidade que seus desenhos haviam alcançado nas redes sociais; depois que uma conta de grande alcance retweetou uma de suas obras, Raquel viu os pedidos por comissões explodirem. Ainda não juntavam um montante capaz de sustentá-la sozinha, de forma que ela ainda precisaria da ajuda de Maycon, mas aqueles quatrocentos reais a mais que brotariam no orçamento dos irmãos seria muito bem-vindo.

Ela cogitou procurar um emprego formal inúmeras vezes, uma vez que viver de arte seria inviável. No entanto, Raquel pouco conseguia se expressar, tendo péssimo tato social e habilidades de convivência. Entrevistas de emprego, para ela, seriam uma tormenta, bem como trabalhar com o público. Seguia na luta pela sobrevivência diária, mas enquanto a carteira assinada não chegava, ela se virava com seus desenhos.

A comissão do dia era particularmente trabalhosa, mas estava na sua área de conforto: Um trabalho cheio de vísceras e sangue. Depois de arte erótica, corpos dilacerados eram o que Raquel desenhava em maior quantidade. Parte de si queria se convencer de que era uma maneira de lidar com o trauma do acidente, a outra parte simplesmente apreciava sangue e entranhas.

Quando se cansava de tanto vermelho, Raquel olhava para cima e observava a pintura que fizera de Helena: Sua bela vulva, estampada em cores vivas e chamativas. A garota sorriu; aquela era sua obra prima, o trabalho pelo qual tinha mais carinho. Poucas coisas poderiam ser tão íntimas quanto pintar a vulva da namorada, e isso representava o forte laço que havia entre elas.

Enquanto pensava no quanto Helena era especial para si, a campainha soou. A garota franziu o cenho; o relógio marcava oito e meia da manhã. Era uma terça-feira, quem iria visitá-la logo no início do dia?

Deu de ombros. Salvou o arquivo do desenho no computador, para não perdê-lo, e caminhou lentamente em direção à porta. Quando espiou pelo olho mágico e percebeu que a visita era de sua amada, Raquel abriu um longo sorriso.

— Ruiva dos lábios de sangue! — Ela exclamou, abrindo a porta com entusiasmo. — Que surpresa tê-la aqui. Achei que estivesse trabalhando.

— Meu trabalho é de tarde. — Embora Raquel estivesse verdadeiramente feliz em vê-la, Helena parecia desanimada. Talvez fossem resquícios do acontecimento com João, pensou. — De qualquer forma, meu chefe me liberou essa semana por causa do... Do que aconteceu com o meu irmão.

Nunca Mais Seremos os MesmosOnde histórias criam vida. Descubra agora