(2945 palavras)
QUANDO CHEGAMOS à cidade, ele se encaminhou em direção ao convento.
— Não vamos almoçar? - perguntei. Não trocamos uma única palavra no restante do caminho. Ele estava focado em olhar a estrada, e eu confuso, não entendi a reação dele. Ok, o que aconteceu foi esquisito, pra dizer o mínimo, mas esperava que ele não me ignorasse assim, eu preciso de esclarecimento.
— Melhor levar você de volta. Você já passou mal e eu não quero que a Madre proíba você de sair comigo outras vezes, achando que fui um irresponsável. E também, eu tenho uma irmã, mais velha que nunca precisou de mim... eu nunca cuidei de uma garota, nem saberia o que fazer.
— Eu tô bem, Felipe. Poderíamos almoçar? - acho que deveríamos conversar, achar uma forma de perguntar a ele o que foi tudo aquilo.
— Você está com fome? - finalmente ele olhou pra mim enquanto eu já o encarava o caminho inteiro. Eu queria, sei lá, alguma explicação, não só pelo beijo, mas por ele ter feito e... fugido?
— Tô. Comeria um boi...
— Magra desse jeito, eu duvido.
— Não duvide de mim. Os magros são os que mais comem.
Ele sorriu parando o carro e me encarando. Aquele olhar de novo... eu não sei se corro, se bato nele ou se fico e vejo no que dá. Me imprensei em direção a porta ao meu lado e ele voltou seu olhar para a estrada.
— Melhor te levar pra casa.
— Casa?
— Sim, o convento.
— Ok - não queria mais discutir e sei que ele queria se livrar de mim.
Ele mal me deixou no convento, tiramos as coisas do carro e dessa vez, eu ajudei, mas logo que terminamos de tirar minhas coisas, ele entrou no carro, só acenou com a mão e foi embora.
Garoto bipolar!
[...]
Então né... passaram-se cinco longos dias, e eu voltei a encher o saco de Deus. Fiz inúmeras perguntas para ele e ele não se dignou a responder nenhuma.
— Olha só, você já me colocou aqui, e eu não pedi por isso. Me obriga a me esconder, me anular... e eu só tô te pedindo uma única resposta... Por que o Felipe sumiu e o que foi aquilo? - claro, ele não falou nada... até fui para o laguinho, fiquei debaixo da árvore lendo e o questionando, esperando que talvez alguma árvore daquele lugar pegasse fogo e uma voz grossa me dissesse 'Filho, seu amigo está muito ocupado. Espere e ele logo aparecerá, pare de me encher o saco!' Claro que não aconteceu nada disso, o máximo foi meus joelhos doerem por eu ficar ajoelhado orando e minha bunda, que ficou dormente de eu tanto esperar debaixo daquela árvore.
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𝕾ob o Véu
RomanceTrancado desde os seus 13 anos e não por seu desejo ou amor, mas por obrigação e para salvar sua vida e de quem ama. Seu maior desejo é sair de lá e viver uma vida normal como os jovens de sua idade. Porém, sabe que é muito arriscado e não quer co...