(3114 palavras)
APÓS ALGUNS passos, olhei para trás e vi o Felipe de cabeça baixa, indo em direção ao muro. Parei e pensei em voltar, mas ele limpou os olhos, subiu no muro e pulou para o outro lado.
Ele tava chorando e aquilo partiu o resto que havia sobrado de meu coração despedaçado. Já perdi a josefina e o que mais temia era perder o meu único amigo, Felipe. Não me importava a nossa sociedade, não queria pensar naquilo, mas como eu disse já muitas e muitas vezes, eu prezava a amizade que tinha com ele. Felipe, era um rapaz muito legal e desde o início estava me ajudando sem pedir nada em troca que não fosse atenção e carinho. Sei que disse inúmeras vezes que ele era doido, bipolar e muitas outras bobagens, mas eu gosto dele, ele me olha como um igual, com carinho, não julga minhas roupas, meus modos brutos, minha inexperiência e eu ser uma pessoa sem convivência com muitas coisas. Ele me ensinava com toda paciência do mundo, quando eu lhe dizia que não sabia de algo e sei como dói perder alguém que se gosta.
Quando cheguei na metade da trilha, Laura estava me aguardando.
— A irmã Celeste...
— Aqui - a interrompi, devolvi o celular dela e segui para o convento.
— Joana... Joana - ela apressou o passo e se aproximou de mim — Tá tudo bem?
— Só quero ficar sozinha.
Ela parou de andar e eu passei pela porta, não parei para falar com ninguém e fui direto para minha cela. Me joguei na cama e chorei, chorei muito... era como se tivesse perdido o Thiago outra vez, mas agora, a dor era maior. Não sei se por eu ser maior e entender melhor as coisas ou se o que eu sentia pelo Felipe era diferente de um laço de sangue que eu tinha com o Thiago.
Laura veio até a cela, e quando ela adentrou, eu puxei o lençol e me cobri até a cabeça.
— A Madre mandou lhe chamar para a ceia... - senti ela tocar meu ombro — Você não vem comer?
Não respondi e ela me deixou sozinho com minhas lágrimas. O mesmo aconteceu quando ela veio dormir, tentou puxar assunto, mas eu me mantive na mesma posição. Geralmente a Laura dorme muito rápido, mas isso não aconteceu naquele dia, e mesmo após as luzes terem sido apagadas, ela continuava acordada, volta e meia ela me chamava, dizendo que se eu precisasse desabafar, que ela estava ali. Só que eu não poderia desabafar com ela, nem com ninguém. Aquela dor ficaria só comigo...
Era já bem tarde, quando levantei e peguei meu terço, saindo da cela e fui para a capela, sentei e olhei o pequeno altar.
— Eu te pedi tanto, Deus... por que tirá-lo da minha vida? O senhor sempre soube que eu jamais poderia corresponder ao amor dele ou de qualquer outro... não deveria deixar ele se apaixonar por mim. Não deveria me deixar conhecê-lo. Eu o amo muito, mas não assim... o Felipe é o irmão que eu nunca tive. Eu queria poder corresponder e deixar ele feliz, mas eu não posso, meu amor por ele não é assim.
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𝕾ob o Véu
RomanceTrancado desde os seus 13 anos e não por seu desejo ou amor, mas por obrigação e para salvar sua vida e de quem ama. Seu maior desejo é sair de lá e viver uma vida normal como os jovens de sua idade. Porém, sabe que é muito arriscado e não quer co...