(2423 palavras)
SÓ VOLTEI ao hospital, muitas horas depois e isso só porque o padre José praticamente me expulsou da igreja dizendo que ia fechá-la. Eu reclamei, bati meu pé, tentei persuadi-lo dizendo que as portas da casa de Deus devem permanecer sempre abertas a quem necessita, mas de nada resolveu.
— Joana, no hospital há uma capela que fica aberta durante todo o dia e noite. Se precisa tão urgentemente orar, vá para lá. Você sabe que Deus está em toda parte, principalmente aqui - ele apontou no meu peito.
— O senhor sabe que meu coração é pequeno para caber alguém dentro dele, não é? Principalmente alguém tão onipotente como Deus.
— Joana...
— Ok, entendi. Agora, além de perder meu terço, tenho que orar numa capela de um hospital. O senhor tem noção que um hospital é muito barulhento?
— É noite, Joana, não é tão barulhento assim - ele saiu do meu campo de visão, indo para uma salinha e eu me levantei, fiz o sinal da cruz e ia saindo — Joana... tome.
Padre José me deu um novo terço e esse era ainda mais bonito que o outro. Era azul com prateado.
— É muito bonito, padre. Obrigada.
— Tome muito cuidado com ele. Foi me dado por um padre, quando eu ainda era seminarista. Esse terço foi benzido pelo Papa da época.
— Então, não posso aceitar... ele é valioso.
— Sim, é valioso, mas eu quero que fique com você.
Olhei para o terço em minha mão e olhei novamente para o padre, agradecendo.
Me despedi do padre José e me pus a caminhar de volta para o hospital, porém quando estava já no meio da praça, senti uma mão segurar com força o meu braço. Me virei e dei um soco bem no meio da cara.
— Ai... Joana! Sou eu, caramba!
— Felipe? - ele passou a mão pelo nariz uma ou duas vezes para ver se não estava sangrando, mas por sorte não estava — A culpa foi sua... como chega assim de fininho?
— Eu acabei de fechar a lanchonete e vi você saindo da igreja. Vim falar com você... caramba - ele passou a mão outra vez no nariz.
— Deixa eu ver - coloquei o terço no bolso do hábito e me aproximei dele, segurando em seu rosto e observando seu nariz — Deve ter sido mais o choque... nem bati tão forte assim. Da próxima vez, você avisa que tá chegando... senão eu chuto você bem no meio da cara.
Soltei o seu rosto e me virei para o caminho em que estava indo e ele se aproximou.
— Como está a Laura?
— É... acho que tá bem.
— Acha? Você não deveria estar com ela? - ai meu Deus, olha eu adquirindo mais um pecado para minha lista de pecados... odeio mentir.
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𝕾ob o Véu
RomanceTrancado desde os seus 13 anos e não por seu desejo ou amor, mas por obrigação e para salvar sua vida e de quem ama. Seu maior desejo é sair de lá e viver uma vida normal como os jovens de sua idade. Porém, sabe que é muito arriscado e não quer co...