(1058 palavras)
O TAL delegado chegou no fim da tarde, meu pai passou as coordenadas de como nos encontrar e quando ele chegou já foi direto ao assunto.
— Eu sinto muito por ainda não termos conseguido prender esses bandidos, rapaz.
Não disse nada, só o observei. Felipe não foi para casa, também não sei o que ele inventou para os pais, só sei que ele estava ao meu lado me apoiando e tentando me manter calmo, como eu sempre imaginei que um amigo deveria agir.
— Bem, não conseguimos rastrear a mensagem. Ele pode ter enviado de um celular descartável ou roubado que já deve ter sido bloqueado. Mas temos um plano, vamos deixar eles mostrarem a cara...
— Ele disse que eu deveria encontrá-lo em Jardim, amanhã. Então, tempo é algo que eu não tenho.
— Ele também tem muito a perder, Giovanni. Não vai fazer nada à luz do dia ou mesmo algo que levante suspeitas. Creio que ele queira mais te assustar e te manter calado, do que realmente pensar em matar você ou alguém.
— Não sei...
Então o delegado nos disse o que havia planejado para prender o Ceifador e o Olho de peixe, era arriscado, muito arriscado, mas era melhor tentar algo que fugir, afinal fugir não era nem uma opção.
No outro dia, passamos e repassamos tudo várias e várias vezes, fui de ônibus para Jardim, já que não havia carro para me levar, quer dizer, havia o carro do Felipe e do delegado, mas eu queria o Felipe o mais distante possível de tudo isso, então ele ficou na minha casa com minha mãe, irmã e um policial. Eu fui de ônibus com meu pai, mas como eles pediram para que eu fosse sozinho, ele só me acompanharia até próximo, não iria até o local comigo.
Desci do ônibus e fui em direção ao antigo Ginásio de esportes da cidade, era bem isolado e pelo que vi, ninguém ia ali há muito tempo, só lembrando que morei na cidade por um tempo quando era mais jovem, então eu conhecia alguns locais e também, meu pai me explicou como chegar até o local combinado, ele queria ainda que eu continuasse fugindo e fugindo até que eles esquecessem de mim, mas isso implicava em eu recomeçar tudo outra vez em outro lugar, com outro nome, longe novamente de minha família, do meu amigo e da minha carrapatinha. Fora que quem me garante que eles não me encontrariam outra vez e eu teria que fazer isso não sei quantas e quantas vezes.
Coloquei a mão no bolso e enrolei o terço nela, notei que as correntes que prendiam os portões foram rompidas e estavam no chão junto com o cadeado, olhei ao redor antes de entrar e vi o delegado acenando pra mim escondido atrás de um monte de material de construção abandonado. Respirei fundo, olhei para o outro lado e vi o seu investigador também escondido e acompanhado de mais um cara que eu não sabia quem era.
Novamente respirei fundo e abri o portão devagar, ouvindo o seu ranger devido a falta de lubrificação, passei por ele e notei que havia muito mato seco, outros ainda verdes, olhei em volta e não havia ninguém.
— Será que ele só marcou aqui para me deixar ansioso e não...
— E então, japonês, finalmente nos vemos de novo... você é um grande fujão!
Olhei para o lado direito vendo ele entrando, devagar e sorrindo.
— Eu tô aqui, agora pare de ficar ameaçando...
— Tsc tsc tsc - ele fez o barulho com a boca, negando com a cabeça e me interrompendo — Você não tá em condições de pedir nada, nem exigir nada.
Procurei pelo Ceifador e não o vi em parte alguma.
— O que você quer?
— Pra começar... que você avise aos seus cachorros de guarda que não se aproximem ou vocês morrem.
— Que cachorros?
— Garoto... sabemos que o delegado está lá fora, com mais dois policiais. Se eles entrarem aqui, não será só você quem vai morrer...
Engoli em seco.
— Deixa eu te mostrar uma coisinha... - ele se aproximou e tirou o celular do bolso, ficou atrás de minhas costas e acendeu a tela — Quer que ela morra?
Eu não sabia mais como respirar, comecei a buscar o ar com muita força e olhava para os lados, para o chão... tentando pensar no que deveria fazer.
— Vem comigo...
— Paradinho aí!
Meu corpo foi girado e usado como escudo protetor. Olho de peixe se colocou atrás de mim, com uma arma apontada para minha cabeça, notei o delegado com arma em punho, assim como os outros dois.
— Desista! Se entregue e prometo que poderemos negociar sua prisão.
O cara riu.
— Se der mais um passo delegado, ele morre e mais gente vai junto com ele. Acaso está vendo o Ceifador por aqui? - o delegado fez um gesto com a cabeça para que o investigador fosse dar uma ronda pelo local e ver se tinha mais alguém — Tá perdendo o seu tempo... eu vou sair daqui, acompanhado pelo rapazinho e se alguém vier atrás, a cabeça dele será presenteada com uma bala. Vamos! - ele disse pra mim.
Olhei para o delegado e o Olho de peixe deu um passo para trás, com a arma ainda apontada pra minha cabeça e me segurando com o outro braço e na mão mantinha o celular. Mas eu não dei um passo, permaneci imóvel, eu queria um tempo para criar uma ideia e sair dali.
— Melhor você vir comigo, agora - ele sussurrou no meu ouvido.
— Isso tem que acabar...
— Ah, verdade, tem mesmo. Foi você quem pediu - ele parou, novamente colocou o celular no meu campo de visão para que eu visse o que o Ceifador fazia.
— NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO - gritei com todo o ar em meus pulmões.
— Essa é a primeira, quer ver outra? - balancei a cabeça num não — Ótimo, venha comigo - ele colocou o celular no bolso da minha bermuda, abraçou-me por trás e voltou a caminhar de costas — Já sabe, se vierem atrás, ele morre!
— Giovanni... - o delegado deu um passo e eu fiz não com a cabeça.
Entramos no carro dele e só então notei outro cara ao volante.
— Liga essa joça e corre, já temos o que viemos buscar.
O cara ligou o carro e saiu em disparada, logo senti uma pancada sendo desferida contra minha cabeça e tudo ficou no breu.
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𝕾ob o Véu
RomanceTrancado desde os seus 13 anos e não por seu desejo ou amor, mas por obrigação e para salvar sua vida e de quem ama. Seu maior desejo é sair de lá e viver uma vida normal como os jovens de sua idade. Porém, sabe que é muito arriscado e não quer co...