Na Alegria e na Tristeza

Dois

O sol já estava nascendo. Estava na serra Vi, apoiada em sua moto, bebia um suco de caixinha oferecido pela irmã e Ekko. Os dois adolescentes estavam observando o bairro de longe. Dava para ver a mansão Warwick e a escola bem ali.
O que aquele trio estava fazendo ali? Simples: fugindo do super-protetor Silco Warwick.
Vi sabia que sua irmã precisava de um ar fresco, e ela não ligava para a bronca que levaria depois. Ver um sorriso estampado no rosto de Powder — Jinx, como a dos cabelos azuis preferia — era gratificante.

— 'Tá vendo minha unha? É o esmalte novo da tia Babette. — falava ela para seu amigo, mostrando as unhas tingidas de azul e rosa.

Vi soltou uma risadinha, e voltou a beber o suco de morango — o favorito de Jinx, por sinal. A casa tinha um estoque deles.
De repente, a Warwick mais nova comentou:

— Sabe quem vai vir nos visitar Ekko? — ela chamou pelo amigo, mas olhava diretamente para a irmã. — Caitlyn Kiramman!

— Caitlyn Kiramman? Quem é essa? — o rapaz perguntou.

— A namorada da Vi! — riu ela, fazendo biquinho.

Violet revirou os olhos, sorrindo de lado.
A existência de Caitlyn Kiramman não lhe fazia diferença alguma. Mas, se algum dia aquela garota sumisse, Violet comemoraria.

— Fica quieta aí, vai, Pow-Pow. — murmurou ela. — Os pais dela tem negócios com nossos tios, ela só veio os acompanhar. Depois disso, ela some.

— Essa é a minha parte favorita das visitas: quando elas somem! — concluiu Jinx, triunfante.

Não puderam conversar mais, logo ouviram o barulho do carro. Sevika, a segurança da família, saiu. Dava para ver da janela fechada Silco, preocupado com sua sobrinha favorita. Ele garantiu que a protegeria, e não fracassava com essa promessa por nada.
A mulher imediatamente arrumou os óculos escuros e foi até a Vi. Ela não queria que Jinx ficasse presa também, mas só seguia ordens.

— Seu tio está uma fera, Violet. — comentou ela, fazendo sinal para que Jinx entrasse no carro.

— Me diz quando Silco Warwick não está uma fera? — brincou a rosada, se virando para os dois. — Vai com ela, Powder. Eu e o Ekko vamos logo em seguida.

Contrariada, a adolescente entrou no carro emburrada. Sabia que o tio só fazia aquilo para seu bem, mas Jinx queria só uma coisa: viver independente dessa proteção e das vozes na sua cabeça, que já a prejudicaram muito.
O carro partiu feito um foguete após Sevika assumir o volante novamente.
Vi e Ekko subiram na moto da mais velha e partiram logo em seguida. O rapaz adorava subir naquela moto, parecia até que voava. E Violet ficava satisfeita em poder dar essas memórias para ele.
Ela deixou o garoto em casa, que era na rua abaixo da sua, e partiu. Mas agora, se preparando para o sermão.
Ela entrou em casa, tirou seu capacete e colocou-o no lugar de sempre.

— Seu tio virou monstro! — alertou um segurança alto, forte e gordinho. Isso significa que Silco estava com raiva.

Ela suspirou, e fez um movimento com a cabeça como agradecimento pelo alerta. Chegou na sala e lá estavam seus tios. Vander estava sentado em sua poltrona, como uma expressão preocupada. E Silco, irritado como sempre quando Vi pegava a irmã e sumia.
A mulher pôs as mãos na cintura e fez uma pausa, antes de finalmente começar a se defender:

— Ela 'tá bem, você viu isso, não é? E nem fomos tão longe!

— Mas ela podia ter se machucado. — interrompeu bruscamente o homem.

— Se machucado? Por favor, eu estava de olho nela e no Ekko! Algum dia eu já fracassei?! Por que você não consegue enxergar que a Powder precisa disso?!

— A Powder precisa estar segura.

— A Powder precisa viver!

— Violet Warwick, você já tem dezenove anos e deveria ter entender isso! — esbravejou ele, se levantando. Vander o encarou assustado. — A vida da sua irmã nunca mais vai ser a mesma depois daquele acidente. Já perdemos os seus pais, não vamos querer perder ela também. Eu não quero brigar com você por agora, não tenho mais como fazer isso, então espero que isso já seja o bastante.

Ele foi até a porta, insinuando que sairia. Ninguém disse nada.

— Enquanto os Kiramman estiverem aqui, não quero saber dessas fugas repentinas de vocês duas. — ordenou ele.

— ... Certo. — respondeu ela, num murmúrio.

Levemente satisfeito, Silco saiu. Vander olhou para a sobrinha calmo e sereno.

— ... Ele só faz isso pelo bem da Powder, Vi. Sabe disso. — confortou ele, se levantando.

— Mas não é isso que ela precisa!

— Eu sei, eu sei... — ele se aproximou da mesma e a deu um beijo na mesma. Vi ainda era sua garotinha, sempre seria. — Mas, por agora, obedeça ele. Não queremos escândalos enquanto os Kiramman estiverem aqui.

— ... Eu sei. Sem escândalos por agora, eu juro.

~~~

— Preciso falar com a sua irmã. — Caitlyn disse, ultrapassando Garen.

— ... Está bem! Posso saber o que é tão urgente assim? — perguntou o mesmo.

— Não. — ela se sentou no sofá. — São assuntos meus e de sua irmã.

O homem suspirou. Caitlyn Kiramman era muito esquisita, ele não gostava da proximidade de sua irmã com a vizinha.
Mas o que podia fazer? Os Kiramman eram ricos, seus pais fariam de tudo para que Lux e Caitlyn fossem amigas para sempre.

— Enquanto minha irmã estiver bem, é melhor eu não me meter. — falou para si, subindo as escadas a fim de chamar Lux.

Minutos depois, a mocinha loira dos olhos azuis desceu as escadas radiante até a sala.

— Caitlyn! Que surpresa te ver! — disse ela, dando um abraço na maior. — O que você veio fazer aqui?

— Preciso da sua ajuda urgentemente, Lux. Meus pais querem me obrigar a ir com eles até a casa dos Warwick.

— Oh, sério? Warwick é a família da Vi, que você odeia, né?

— Exatamente. Por isso, pode me convidar para dormir aqui amanhã? — implorou. — Meus pais não vão poder me levar nesse caso?

— Eu adoraria! — disse sorrindo. Sorriso que se murchou rapidamente. — Mas eu não posso. Também vou viajar amanhã...

Caitlyn a olhou pasma.
Lux era sua última esperança, e ela havia sido em vão.

— ... O quê?

— Eu vou visitar meus avós, sinto muito, Caitlyn. — lamentou a Stemmguarda.

A Kiramman então teve que forçar um sorriso. Não era capaz de fazer a pobre Lux se sentir culpada por causa de seus problemas.

— Não tem problema, Lux. — garantiu a mesma. — Agora, acho que eu vou ter que suportar Violet Warwick mesmo. Mas tanto faz, eu aguento. Era só isso, obrigada por me ouvir. Me liga se precisar de algo!

— Ok!