Vinte Três

757 66 30
                                    

— Eu consegui um emprego. — anunciou Vi, calmamente. Caitlyn ficou silêncio.

— Emprego?

A Warwick assentiu.

— Enquanto eu não assumir o Última Gota, vou trabalhar como gerente num dos bares. — explicou. — O tio Vander queria que eu trabalhasse no bar oficial, mas é muito longe e a vaga já está ocupada. Vou trabalhar num que fica aqui, na frente da sua casa.

A Kiramman prosseguiu calada, pensando.

— Isso é ótimo, mas por que fez isso? — questionou. Não é como se Vi precisasse trabalhar, ela havia nascido num berço de ouro. Só precisava esperar os tios se cansarem (ou morrerem), que ela assumiria no lugar deles.

— Ah, eu só estive pensando que seria adequado ter o meu próprio dinheiro para cuidar da gente, só isso. — disse.

Cuidar da gente?
Cuidar da gente?! Mas o que diabos Violet Warwick estava dizendo?!
Para Caitlyn, ela estava falando com uma outra pessoa. Não era possível.
Vi morreu e foi substituída por outra que estava preocupada com a vida conjugal das duas?

— Ah, eu entendo... — disse a dos cabelos escuros.

— Bem, era só isso. Eu tenho que voltar agora. — Violet deu um passo até a porta. — Se precisar de alguma coisa, me liga.

— Ok.

Quando Violet saiu, a Kiramman então se sentou na cama.
Ficou pensando que Violet pelo menos estava se esforçando para ter a sua própria independência. Não faria mal algum se ela fizesse o mesmo, não é?
Mas Caitlyn não pensou nisso, ela foi para o banheiro colocar suas roupas normais.

~~~

Vander estava no jardim, num fim de tarde, bebendo uma boa cerveja do jeito que gostava.
Paz e tranquilidade.
Jinx havia saído para ir na pista de skate com os amigos, Silco trabalhando e Vi na casa da noiva.
Sem ninguém gritando na cabeça dele.
Isso. Era vida.
Mas durou pouco. Assim que ele ouviu o som de um capacete de moto batendo forte na mesa, teve que segurar a expressão de decepção.

— Que cara é essa, Vi? — ele perguntou, do jeito mais caloroso e gentil que um tio como ele poderia ser.

— Estou apaixonada. Pela Caitlyn. Eu amo a Caitlyn. — confessou.

Vander então sorriu. Ele já sabia disso, todo mundo já sabia disso.
Só Violet que não.

— Ah, isso é ótimo para vocês, eu acho. — ele declarou, pondo o copo sobre a mesa. — Contou para ela do emprego que seu tio te forçou a ter? — riu o mesmo, visto que antes, Violet não estava nada interessada em "bancar a esposa". Mas agora, ela parecia ter repensado no assunto. Na verdade, parecia ter repensado em tudo que envolveria Caitlyn.

A mais nova assentiu.
Foi então que Violet se lembrou de uma questão: Sarah Fortune. Sem dar muita explicação para o tio, a Warwick saiu correndo para seu quarto e ligou para a mesma. Demorou um pouco, mas ela atendeu:

— Aconteceu alguma coisa? — questionou a ruiva, do outro lado da ligação.

— Esqueça tudo. — declarou Vi, deixando a outra confusa. — Os planos, não preciso deles mais. Eu descobri que amo a Caitlyn.

Sarah abriu um sorriso.

— Então deu certo.

— O quê?

— Meus planos, deram certo. — explicou. Mas Violet ainda não entendia. — Você finalmente entendeu que gosta da Kiramman, do jeito que eu queria.

Foi então que Vi percebeu. Como ela era tola, estava na sua frente o tempo todo! Os planos de Sarah nunca as separavam, na verdade, apenas as uniam cada vez mais!

— Cara, se eu não tivesse descoberto que eu amo a Caitlyn, eu ficaria furiosa com você. — as duas deram uma risada. — Mas agora, eu não sei o que fazer. Não acho que ela goste de mim, não do jeito que eu acho.

— Então eu vejo que meus planos para unir vocês ainda estão de pé?

Vi ficou em silêncio por um tempo — ainda não acreditava que tinha caído numa mentira dessas por tanto tempo —, mas então confirmou:

— Sim, estão sim.

~~~

— Três pontos?! Só isso?! — gritou Jayce para a pontuação do karaokê, com um microfone em mãos. — Ah, para, eu nem fui tão ruim assim, né?

No entanto, quando o mesmo se virou para trás, viu Caitlyn com os ouvidos tapados pelas próprias mãos. Viktor, que já estava preparado no caso do amigo resolver cantar, havia trazido seus fones de ouvido.
Mel Medarda olhava para o Talis com uma cara de enjôo:

— Você ainda reclama? Essa máquina foi até piedosa por te dar três pontos. — declarou a mesma.

— Argh, vocês são péssimos jurados! Não sabem o que é uma voz boa de verdade! — ele declarou, fazendo biquinho. — Mas quem vai agora? Ninguém? Tudo bem, vou cantar outra...

— NÃO! — gritaram em uníssono.

A moça mais velha então se levantou do sofá em que os outros três estavam sentados e tomou o microfone das mãos de Jayce.

— Vem, Caity, vamos cantar um pouquinho? — sugeriu ela para a Kiramman.

No entanto, a mesma negou. Logo, o karaokê foi deixado de lado. Caitlyn Kiramman não estar interessada em cantar no bom e velho karaokê era uma grande novidade, novidade séria que necessitava da atenção dos outros três.

— Foi a Violet, não foi? — perguntou Jayce. — Por que agora todos os seus problemas são culpa da Violet!

— Não, Jayce, não foi a Violet! — negou ela. — ... Na verdade, eu preciso fazer uma pergunta. Me respondam com honestidade!

Viktor ajustou sua coluna. Caitlyn fez uma pausa para reajustar seus pensamentos, e então, voltou a falar:

— Minha madrinha falou que as provas para a polícia começam no próximo mês. — começou ela. — A Violet arrumou um emprego para "cuidar de nós duas", de acordo com ela. Então... Vocês acham que eu deveria me inscrever.

Os três então se entreolharam. Não pareciam olhares de reprovação. Muito pelo contrário, pareciam mais de orgulho.

— Bem, eu acho que sim. Você costuma dizer que se interessa pela vida de policial. — Mel disse, com um sorriso no rosto.

— E você daria uma boa oficial, gosta de ficar mandando, mandando, mandando... — brincou Jayce, fazendo todos darem risada.

— Mas... E quanto aos seus pais? — questionou Viktor, acabando com as risadas.

Tudo ficou em silêncio, Caitlyn se afundou mais no sofá.

— Eles não precisam saber, não agora. — ela confessou, para a surpresa dos dois.

— Caitlyn Kiramman, você enlouqueceu?! — perguntou Jayce.

— Eu só vou fazer a prova em segredo! Se eu passar, eu conto. Se eu não passar, fingimos que nada aconteceu. — ela explicou. — Eu vou ficar trancada no meu quarto todos os dias, mas dessa vez estudando. Eu invento uma desculpa no dia da prova para sair de casa e pronto, eles nem vão perceber!

— Seu pai ficará uma fera. — alegou Viktor.

— O problema dessa vez nem sequer é meu pai. Se fosse, eu nem cogitaria fazer esse teste. — explicou. — O problema mesmo é minha mãe, ela vive dizendo que essa história de polícia é muito perigosa e blá-blá-blá... Mas ela vai entender depois. — a mesma então olhou para o relógio de seu celular. — Já está tarde, melhor eu ir para casa.

Pela noite, Caitlyn estava no seu quarto. Olhava fixamente para a tela do computador, que implorava para ela colocasse seus dados e se inscrevesse na prova. Depois de muito pensar, a mesma pegou o celular e mandou uma mensagem para a madrinha:

Se você ver meu nome na lista dos participantes da prova, não conte — em hipótese alguma — para os meus pais, ok?

Na Alegria e na TristezaOnde histórias criam vida. Descubra agora