Capítulo 18

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Hermione odiava cada um daqueles jantares em que ela deveria ser a anfitriã, embora não tivesse a menor vontade de receber nenhuma daquelas pessoas que, semana após semana, pareciam frequentar cada vez mais sua residência.

Naquela noite, não se sentia nem um pouco confortável, embora, precisasse admitir, que a chegada dos nórticos tinha trazido um ar interessante àquele evento interminável.

Sendo a soberana, Hermione estava no ponto mais alto da pirâmide social e, como também era a anfitriã, sentava-se à ponta da mesa, que, tradicionalmente, era ocupada pelo homem, o chefe da família. A menina sentia um certo prazer sádico ao perceber que os homens presentes sentiam um certo desconforto ao vê-la ocupar o lugar que um dia pertencera ao seu pai, seu avô e tantos outros homens poderosos que vieram antes dela. Um sorriso de canto escapava sem que ela quisesse por seus lábios.

Porém, havia também uma certa melancolia na situação, ela precisava admitir. Sendo a única que restara de sua família, sentava-se sozinha à mesa com desconhecidos, sem ter, ao menos, um único rosto familiar para recorrer em um momento de angústia. Ela costumava passar seus dias com os criados, a governanta, o conselheiro e, às vezes, até mesmo com o comandante. Essas eram as únicas pessoas com quem costumava conversar diariamente, as únicas pessoas com quem ela sentia um verdadeiro prazer e segurança em ter uma conversa longa. Como todos eram funcionários da corte, nenhum tinha permissão para participar do jantar como convidado, embora McGonagall estivesse por perto conferindo o andamento do jantar e certificando-se que nada faltaria. O Comandante Potter também estava nos fundos da sala de jantar, com os olhos fixos e bem atentos na rainha.

Todos aqueles homens e mulheres presentes, no entanto, não passavam de absolutamente estranhos ou semi-conhecidos que Hermione era obrigada a tolerar dia após dia. Estava cansada dos olhares desconfiados disfarçados de curiosidade. Estava cansada dos murmúrios que contestavam sua capacidade e das piadas sobre sua falta de jeito ou inabilidade que fingia não ouvir para não causar constrangimento a si própria.

Sua vida na corte era um eterno jogo de xadrez, em que ela precisava ter paciência e pensar cuidadosamente em cada um de seus movimentos para não levar um xeque-mate.

-Majestade, a comida está muito agradável. Não imaginei que a comida local fosse tão deliciosa. -Falou casualmente a mulher de um dos homens que viera com a comitiva do Príncipe Viktor. Hermione lhe deu um sorriso agradável, porém cansado.

-Fico feliz que tenha gostado. Nossos cozinheiros se esforçaram muito para agradá-los. -Hermione levou a taça de vinho até a boca, percebendo que a maioria dos presentes lhe lançou um olhar de esguelha antes de sacudir a cabeça em uma concordância cega.

-Eles fizeram um ótimo trabalho, majestade. -Viktor falou com um sorriso condescendente. Ele estava sentado à direita de Hermione, o lugar considerado de honra para qualquer visitante. Ao seu lado, um homem de expressões duras e traços grossos olhava a soberana com o canto dos olhos.

-Você parece ser bondosa e generosa com seus criados, majestade. Não me lembro de nenhum nobre admitir os esforços de seus funcionários por fazer um bom trabalho. -O homem que se chamava Igor Karkaroff, Porta-voz do príncipe, falou. Ele tinha os olhos azuis como dois cubos de gelo. Seu corpo era comprido e magro e seus gestos demonstravam uma alegria exagerada, como se tentasse demonstrar uma simpatia além da que realmente possuía. Os cabelos escuros e desgrenhados emolduravam sua cabeça. Ele tinha um sorriso amplo e constante, mas que jamais atingia seus olhos. Hermione o estudou por um instante.

De fato, o comentário do homem era algo que não passava despercebido. O conselheiro havia instruído Hermione sobre isso algum tempo antes, quando percebeu que a menina tinha a teimosa mania de agradecer a cada serviço dos criados. Na ocasião, Draco a lembrou que as aias, ele e até mesmo McGonagall estavam apenas fazendo seus trabalhos, portanto não havia motivo para agradecimento. Além disso, era uma quebra de etiqueta agradecer a um criado em frente a outros nobres.

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