Capítulo 34

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Hermione não teve tempo para se preparar entre o primeiro faiscar da lareira até o momento em que ela explodiu em chamas verdes e a tosse constante do recém-chegado fosse ouvida pela casa inteira. A menina sorriu de canto.

—Maldição. O que eu tinha na cabeça? —Viktor falou em meio a outro acesso de tosse. —Eu deveria ter morrido queimado para deixar de ser idiota.

O homem falava ainda dentro da lareira, esfregando as mãos sujas de fuligem no rosto, manchando toda a sua pele. Hermione se aproximou, tirando do ombro um guardanapo de tecido. Ela tentava disfarçar, sem muito sucesso, um sorriso divertido.

—Fez uma boa viagem? —Ela perguntou sorrindo, reprimindo uma risada com o pulo do homem ao, só então, notar sua presença. Viktor, recuperado do susto, arregalou os olhos negros, girando-o de um lado para o outro tentando reconhecer o local. —Eu estava começando a acreditar que você preferia entrar em guerra do que tentar usar o pó de flu.

—Onde estamos? —Ele deu um passo adiante, avançando em meio a sala de estar da cabana. Ele parecia confuso, contrariado até. —Como isso é possível?

—Estamos na cabana de Alvo Dumbledore —Hermione manteve o sorriso levando até o homem o guardanapo que segurava. —Esse é o local onde eu cresci.

—Aqui? —Viktor deu uma volta em seu próprio eixo, aceitando o pano que a garota lhe oferecia. Ele não disse mais nada, talvez para evitar ser rude, porém sua expressão deixava transparecer sua incredulidade e horror.

—Sim —ela riu diante da careta do homem. —Surpreso?

—Para dizer o mínimo —Viktor franziu a sobrancelha, olhando a menina pela primeira vez. Hermione ainda usava o mesmo vestido de cor preta daquela tarde, no entanto havia se livrado da crinolina que dava volume para as várias camadas de tecido. Agora, a saia de seu vestido parecia mais murcha, o que parecia dar maior liberdade aos movimentos da garota. —Como eu cheguei aqui? Por que você me fez vir até aqui?

—Você chegou até aqui usando magia, é claro —Hermione revirou os olhos como se aquela informação fosse óbvia demais até para uma criança pequena. —Eu precisava de um lugar seguro para conversar com você. Em seu castelo ou no meu teríamos ouvidos curiosos em todos os lugares —Hermione disse enquanto Viktor limpava o rosto. —Além disso, eu achei que você precisava de algum espaço de tudo o que estava acontecendo.

Viktor ficou em silêncio e olhou o pedaço de tecido, agora sujo de fuligem, em suas mãos. Por alguns segundos, Hermione achou que ele estava prestes a dizer alguma coisa, mas por fim ele assentiu por um momento, um suspiro exausto escapando por seus lábios.

O homem, que parecia grande demais para a pequena cabana, ergueu os olhos e, pela primeira vez naquele dia, Hermione viu sua expressão relaxar. De repente, Viktor Krum, o rei furioso que jurava perseguir centenas de pessoas naquela tarde, parecia apenas um garotinho assustado por ter se perdido dos pais.

Hermione deu um suspiro baixo. Alguns silêncio não podem ser preenchidos, ela pensou. O que há a se dizer para um filho que acabou de perder, para sempre, seu último vínculo com o conforto e proteção que apenas os pais podem prover? Que palavras podem trazer conforto a alguém que experimenta a pior dor que pode existir? A vida é um passeio, pensou tristemente, e nada é mais assustador do que o momento em que você olha em volta e se dá conta que foi deixado sozinho.

Ela esperou até seus olhos se encontrarem. Viktor forçou um sorriso sem humor e olhou em volta com curiosidade e humildade. Pela primeira vez ele sentiu o cheiro que vinha de algum lugar no interior da cabana. O vapor quente e delicioso parecia ir direto para seu peito como um abraço.

—Que cheiro é esse?

—Estou fazendo sopa. Gosta?

—Você está cozinhando? —Viktor sacudiu a cabeça, surpreso. —Isso é adequado?

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