Capítulo 14

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Hermione sentou na beira da cama e colocou as mãos sobre o rosto. Era a primeira vez que ficava sozinha desde que tivera a conversa com Aberforth Dumbledore e, embora sentisse que a presença do conselheiro -quem havia lhe acompanhado e ouvido tudo o que o homem tinha a falar- era um apoio bem-vindo, ela sentia como se aquele instante de solidão fosse necessário para colocar seus pensamentos no lugar.

Sua mente viajava constantemente para Alvo Dumbledore, seu antigo mestre, com quem havia sido deixada quando era apenas uma criança e quem havia lhe criado até a sua morte. Ela havia ficado ao seu lado nos últimos momentos, ela havia lhe ajudado a preparar as poções que retardavam sua doença, sem saber de verdade o que havia causado aquela situação.

Hermione conhecia as habilidades do homem, sabia de seus feitos, sabia que ele havia encontrado uma forma de refinar o extrato retirado de uma erva conhecida por produzir venenos potentes, até transformá-lo em um poderoso elixir com propriedades curativas. Sabia que o processo havia adoecido o homem e era o causador da doença que, no futuro, viria a tirar sua vida. O que ela não sabia, no entanto, era a circunstância.

Antes, Hermione acreditava que a doença havia se dado devido à exposição constante à substância venenosa. Porém, quando Aberforth lhe contou sobre as experiências dos pais, como eles costumavam realizar os testes das poções e como Dumbledore havia salvado a vida da irmã, as peças se encaixaram em sua cabeça.

Em uma tentativa desesperada de salvar a vida da irmã e de dar um sentido para a trágica morte dos pais, seu mestre havia testado a substância em si próprio, levando o veneno para seu corpo e causando danos irreversíveis.

Embora tomasse regularmente poções que controlavam a infecção, Hermione percebeu que Dumbledore sofria com dores constantes, embora ele não reclamasse. Por vezes, ela notava que seus membros falhavam, embora ele sempre dissesse que a velhice estava lhe deixando cada dia mais desastrado. A verdade é que Dumbledore nunca quis receber os créditos por salvar a irmã, porque não se julgava merecedor. Também não queria que soubessem de sua condição, pois isso levaria as pessoas a fazerem perguntas a respeito. Dumbledore viveu e morreu carregando a culpa pela morte dos pais e Hermione sentia-se melancólica por jamais ter percebido.

A garota fechou os olhos por um momento, sentindo todas as emoções daquele dia lhe atingirem de uma só vez. Sentia-se triste por Dumbledore, por ele jamais ter sido compreendido. Sentia-se frustrada por ter sido incapaz de fazer mais por ele. Sentia-se estranhamente solitária, como se, de repente, existissem oceanos de distância entre ela e o resto do mundo. Ela soluçou.

-Foi mais difícil do que eu pensei. -O conselheiro murmurou entrando no quarto sem bater.

Hermione tentou disfarçar o choro, limpando o rosto com a manga do vestido e reprimindo os sons que ameaçavam deixar sua garganta. Malfoy parou, os olhos claros muito arregalados enquanto a analisava com cuidado.

Ao olhar os olhos prateados do conselheiro, no entanto, a muralha que protegia os sentimentos de Hermione ruiu. A garota sentiu todo seu corpo chacoalhar com o choro que irrompia de seu peito. Não sabia ao certo como havia chegado àquele ponto, não sabia porque, justo naquele instante, o choro havia decidido que era hora de deixá-la. Era como se todos os sentimentos revirados durante aquele dia tivessem encontrado essa única forma de extravasar.

O colchão ao seu lado se afundou. Hermione sentiu na lateral de seu corpo o toque suave das vestes do conselheiro que havia sentado ao seu lado e lhe olhava como se estudasse um animal perigoso e imprevisível.

-Majestade... -O conselheiro começou erguendo uma mão na direção de Hermione. A garota, que mantinha as mãos sobre o rosto, as afastou para olhá-lo, entregando um sorriso entre lágrimas.

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