Capítulo 37

28 4 1
                                    

A noite silenciosa parecia sufocante, apesar da brisa gelada que soprava do mar. Nada que se comparasse ao inferno gelado do inverno nórtico, é claro. Naquela época do ano, embora as noites longas de inverno estivessem contadas, a neve ainda pintava de branco toda a paisagem de Durmstrang. Ainda assim, ele preferia o frio paralisante dos países do norte, do que aquele vento gelado acompanhado de maresia que era tão típico dos países mais ao sul.

O vento gelado da costa de Abyssius vinha acompanhado por minúsculos grãos de areia que voavam com o vento, flutuando em espirais pelo ar, chocando-se contra a pele de seu rosto e causando minúsculos arranhões que eram impossíveis de se enxergar a olho nú, mas que eram suficientes para causar uma irritação na pele de sua bochecha, deixando-a vermelha e dolorida.

O ar úmido que soprava do oceano parecia grudar nas poucas áreas expostas de seu corpo, deixando-o gelado e com um aspecto pegajoso, como se toda a sua carne subitamente fosse substituída por uma espécie de borracha fria que revestia seus ossos. Karkaroff odiava cada aspecto daquele lugar.

Nuvens grossas e escuras se arrastavam pelo céu, parecendo a tampa muito pesada e baixa de uma caixa pequena, dando a ele uma sensação de estar encurralado. Por algum motivo, sentia-se claustrofóbico.

Nada naquele país lhe agradava. Nos dias que passaram ali, meses atrás, não podia se lembrar de nem um único dia que teve a luz solar integralmente, sem ser interrompida por pancadas de chuva ou sem o nevoeiro molhado que envolvia todo o castelo de Abyssius pela manhã. Sentia como se estivesse lidando com algum tipo de divindade local. Algum deus temperamental responsável por controlar o clima daquela região que, em seus rompantes, descarregava toda a sua fúria naquela terra maldita.

Agitou os olhos pela escuridão da noite, tentando reconhecer algum movimento. O silêncio da cidade também não lhe agradava. Estavam fora dos limites da cidade, cercando-a por todos os lados. Aquelas pessoas nem imaginavam as armas que ele tinha para batalhar. Era apenas uma questão de tempo e de estratégia que tivesse todas aquelas velhas construções derrubadas com uma única ordem, porém não estava tendo a reação que esperava.

Estava no comando. Tinha um exército de homens bem treinados esperando por suas ordens, porém sentia como se estivesse gritando para uma caverna vazia, sua única resposta sendo o eco de suas próprias palavras.

—Vossa graça, um pássaro está se aproximando —Um de seus homens falou, enquanto observava o céu noturno com uma luneta.

—O que é?

—Parece uma coruja. Vem da direção do palácio.

—Muito bem —murmurou satisfeito. Seus gritos finalmente haviam chegado em algum lugar.

Em poucos segundos pode ver o que o soldado havia visto com a luneta. As asas brancas da ave cortavam o céu com velocidade e, enquanto se aproximava, ia baixando lentamente sua altitude, voando em direção à Karkaroff. Sem parar para esperar uma resposta, a coruja deixou cair um pequeno pergaminho enrolado aos pés do homem, enquanto, com um xiado, voltava a se erguer em direção ao céu.

—Devo abatê-la?

—Não há necessidade —falou, curvando-se e pegando o pergaminho em suas mãos.

Ele girou o rolo em suas mãos, analisando-o com cuidado. Era diferente das cartas tradicionais, enviadas normalmente pelos palácios. Não havia o envelope grosso e pesado que revestia a correspondência com a caligrafia sofisticada, tão característico da coroa de Abyssius. Apesar disso, Karkaroff não tinha dúvidas de quem havia mandado.

Talvez a coruja tenha sido enviada pelo rato patético que servia como conselheiro real, porém a caligrafia fina já era conhecida por ele depois de ler as inúmeras cartas entre a rainha e o príncipe Viktor.

Unbreakable VowOnde histórias criam vida. Descubra agora