Capítulo 22

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Hermione observou por trás das cortinas de seu quarto quando a comitiva nórtica partiu na manhã seguinte. O jardim, antes ocupado com as barracas dos grandes e espirituosos homens, agora estava vazio e só restavam os últimos vestígios esquecidos sobre a grama imaculada.

Havia se recusado terminantemente a descer e encarar o príncipe ou qualquer um dos outros naquela manhã. Para a rainha, qualquer conversa que poderia ter com o príncipe havia sido finalizada na noite anterior e, embora agora temesse, de fato, um rompimento com o país vizinho, Hermione julgava que valia a pena levando em consideração o que havia acontecido.

É claro. Viktor não havia dito nada de diferente do que qualquer outro nobre pensava ou poderia vir a dizer em qualquer outro baile que Hermione poderia vir a frequentar. Para falar a verdade, agora, à luz do dia, nem sequer entendia porque havia se sentido tão impactada e ofendida com as palavras do nórtico.

Usuários de magia eram e sempre seriam tratados com desprezo se algo não fosse feito para mudar a realidade. Muitos inocentes haviam sofrido horrores impensados apenas por terem nascido com habilidades diferentes dos demais.

Sua avó havia sido uma dessas pessoas.

Draco e sua família também.

Embora achasse que era um pensamento ingênuo, algo havia ocorrido a Hermione ao fim da noite passada. A conversa com Draco na varanda (e ela estava tentando evitar pensar em como aquilo havia acabado) havia levantado hipóteses que até então não havia lhe ocorrido. Provavelmente, Hermione era a usuária de magia com maior poder e no maior nível da hierarquia social da história até então. Talvez muitos tivessem tentado lutar por direitos melhores, talvez muitos pudessem ter feito muito mais do que ela era capaz, mas não podia fugir da realidade. A coroa do reino, para o bem ou para o mal, havia caído em sua cabeça e Hermione acreditava que deveria fazer mais do que apenas receber nobres e participar de bailes e festas.

Ela podia, de fato, fazer algo por alguém e, se no caminho conseguisse libertar uma ou outra amarra que prendia alguém, melhor ainda. Talvez ela fosse capaz de quebrar as correntes que um dia haviam prendido sua avó e ainda prendiam tantas pessoas. Talvez os usuários de magia que viriam depois de si tivessem uma vida mais livre que aqueles que vieram antes.

Uma única batida baixa na porta tirou a menina de seus devaneios. Ela se virou lentamente, seus olhos encontrando os olhos acinzentados do conselheiro. Hermione sentiu o rosto enrubescer. Não havia o encarado desde a noite anterior e, para ser sincera, havia pensado tanto no homem durante toda a noite que sentia como se ele, de alguma forma, soubesse que ele havia estado em todos os seus pensamentos e sonhos.

—Majestade, já está acordada —ele falou com o tom costumeiro e Hermione franziu a testa.

—Não consegui dormir direito. —Hermione sorriu fraco. —Tinha muitas coisas para pensar.

—De fato, foram muitos acontecimentos na noite passada —Draco falou caminhando até o seu lado e lançou um olhar pela janela para o andar debaixo, a tempo de ver as carruagens nórticas sumirem na linha do horizonte em direção ao porto. —O príncipe Viktor deixou uma carta para sua majestade. Ele disse que era uma carta muito pessoal e pediu que fosse entregue imediatamente a você.

—Você encontrou com ele? —Hermione o olhou curiosa e preocupada. Após a conversa na varanda, ela havia compreendido porque ele evitava deixar o castelo durante a estadia dos nórticos. Embora ele fosse apenas uma pequena criança quando deixou Durmstrang, ele temia que alguém, de alguma forma, pudesse reconhecê-lo ou ao seu estigma. Hermione encolheu-se com a lembrança.

—Minha família, como você deve imaginar, fazia parte da nobreza. Meu pai era o Duque de Varna e, quando foi desmascarado pelo mentor do príncipe Krum, foi um verdadeiro escândalo. O julgamento foi aberto ao público que pedia a morte de toda a minha família. Por fim, nossos títulos foram retirados, assim como todos nossos bens, então fomos marcados em praça pública, como animais a ferro quente.

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