2. Minha metade

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Pov'Andrew.

Desde sei lá, talvez desde que nasci Carina é a melhor parte de mim, somos gêmeos, minha tia que nos criou falava que sempre foi assim, e mesmo depois da morte da nossa mãe foi assim, nosso pai era um homem desconhecido, e nossa mãe morreu quando tínhamos 8 anos de câncer, então nossa tia nos criou, até morrer 12 anos depois da irmã com a mesma doença, mas nessa época já éramos adultos, então foi só nós dois, estudamos juntos o mesmo curso de biologia marinha, morávamos no mesmo apartamento, até por que aos 36 anos nenhum dos dois havia casado, o que é bem louco, mas Carina era muito focada em sua carreira, e as "mulheres" por que sim minha irmã e eu temos o mesmo gosto, preferem o irmão, e eu preferia não casar, mas casar e namorar eram duas coisas totalmente diferentes, mas atualmente estava solteiro e ela namorando Paula, nossa colega de trabalho.

E ambos sabíamos aproveita a vida, acreditem ou não já ficamos com a mesma garota, não ao mesmo tempo óbvio, eu primeiro e um tempo depois ela, as duas ainda namoraram por três meses, mas acho que a garota não aguentou o fato de que os dois já tinham visto ela sem roupas, e Carina era cara de pau demais, não tinha nenhum pudor, ela era mais que minha melhor parte, também era a mais descontraída, gentil e amorosa.

- um dia vamos velejar - ela falou, olhei para o lado por um segundo, estávamos indo para o trabalho, além de ter estudado a vida toda com ela, também trabalhava, e outras mil coisas que podia ser feito, não me importava com isso.

- pra isso é preciso saber Cah - murmurei despretensioso.

- eu sei Andrew, vamos aprender então - sua risada baixa encheu o carro.

- quando vamos fazer algo que eu quero? - perguntei.

Desde criança ela sempre falava "nos vamos fazer isso" e fazíamos, eu não me importava, ela tinha as melhores ideias.

- você escolheu o curso da faculdade - Carina falou a meia voz - eu preferia oceanografia.

- só isso, em 36 anos.

- e se tivesse escolhido errado, seriamos dois frustrados com um trabalho que não gostamos.

- que seja, eu quero pular de paraquedas - falei.

- tá, vamos incluir isso na lista - Carina bufou como se tivesse me fazendo um favor.

- você é a pior irmã do mundo sabia?

- mentira, eu sou a melhor.

- até parece! Eu sou o irmão bom - ri alto - a titia sempre falou isso, você sempre foi a arteira.

- como se você não fosse junto nas artes - Carina bufou.

Foi só um segundo, não demorou nem mais que isso e Carina gritou apavorada, e foi ali que tudo mudou, enquanto o carro capotava sem parar até finalmente para, meu corpo não reagia, mas minha mente gritava em desespero.

Tudo se apagou, o sonho que parecia real , nos dois crianças, nossa tia contando que a mamãe havia morrido, as palavras dela:

"Os médicos tentaram de tudo"

Eu na época não tinha certeza do que significava "de tudo", só alguns anos depois, quando ouvi novamente aquelas palavras entendi, o câncer consumiu tudo, a dor delas era insuportável, mas ainda sim lutaram, lembro pouco da época que minha mãe adoeceu, mas já minha tia, lembro de ouvir ela chorar, de ficar tão magra que mal conseguia ficar de pé.

O sonho se repetia como se tivesse caído em um loop infinito, era torturante.

Abri meus olhos e fitei o teto de gesso, não sabia onde estava, mas eu sabia o que tinha acontecido, meu corpo todo doía.

- bem vindo - ouvi uma voz feminina.

- onde estou?

- no hospital Sant Cecília - ela se aproximou.

- onde está minha irmã? Ela tá bem? Quanto tempo estou aqui?

- vou chamar o médico, estão aqui a menos de um dia - o sorriso dela sumiu, então Carina não estava bem.

- por que não pode me falar? - questionei.

- é melhor esperar o médico... Você está machucado, mas não quebrou nada.

- posso ver ela então?

- vou chamar o médico - ela saiu.

Olhei em volta, o aparelho que monitorava meus batimentos, o soro, levantei minha mãos e vi os vários arranhões.

🌅🐬

Senti meu corpo perder o sentido, estava ali de pé olhando minha irmã com vários aparelhos, um tubo na garganta, o médico explicando o que tinha acontecido, mas não parecia real, deveria estar sonhando, ainda estava na merda do loop, peguei a mão dela, não podia, ele deveria estar enganado.

- fizemos tudo o que pudemos! - ele falou no outro lado da cama.

- o coração dela tá batendo - falei olhando o monitor.

- os aparelhos de suporte de vida estão fazendo o trabalho, eu sei que não é o melhor momento, mas os órgãos... - ele começou.

- não! - falei antes do final da frase - ela tá viva, ninguém toca em um fio dela.

- senhor, ela não está, o cére...

- falei que não - soltei rude.

- descansa, repensa, ela poderia salvar muitas vidas - ele insistiu.

- ninguém vai abrir minha irmã e tirar... Não, ela tá viva - gritei.



🌅🐬

Olhei a garota parada na porta, Paula, namorado de Carina, seus olhos encheram de lágrimas ao me ver, nesse momento eu preferia estar morto, seria melhor, a porra da dor que sentia seria apaziguada, não ia ter nada, ela veio devagar e tentou sorrir.

- você viu ela? - perguntei.

- sim! Ela parece que só está dormindo... O médico me falou tudo.

- ele não sabe de nada, ela vai acordar - soltei ríspido.

- ela não vai Andrew, se eles desligarem os aparelhos, o coração dela vai parar de bater.

- não! Você também? - perguntei com raiva.

Ela não podia morrer, como ia viver nessa merda de mundo sem minha metade? Eu não fazia nada sem ela, até pra trocar de shampoo pedia sua ajuda, sempre foi assim, ela escolhia tudo, e apesar de parecer que ela me controlava, eu gostava, isso me fazia bem.

- Carina ia querer isso, ela sempre tentou ser boa, ajudar todos que podia, oito pessoas.

- o que? - não entendi.

- oito pessoas vão ter uma chance se você autorizar a doação.

- não tô nem aí! Não me importo se são oito ou oito mil.... Nenhumas delas é minha irmã, eu já perdi minha mãe, minha tia, e não vou perder ela - minha voz era alta e raivosa - esquece.

- pensa que... Alguém tá com medo de perder a mãe, ou a filha, ou a melhor amiga, a pessoa que ama... Se Carina precisasse de um doador?

- para, por favor, você não entende.

- ok! Não vou insistir... Mas sabe que tá tomando a decisão errada - ele me deu as costas e saiu.

Eu não me importava, era minha irmã, não ia ser mutilada, ela estava viva.

🌅🐬



Capítulo 2, seguimos com o drama!!!

Coração Do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora