62. Isso é fofo e mórbido.

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Pov'Meredith.


Pareceu tão bobo ter sentido medo vendo que ficou tudo bem, tinha plena consciência que os riscos foram reais, sempre seriam, desde o dia que quase morri, desde que recebi o coração de Carina, me foi assinado uma sentença, não tinha uma data certa, mas aconteceria, inevitavelmente um dia aconteceria, podia ser durante a noite enquanto dormia, simplesmente ele achar que já havia trabalhado demais, ou os remédios pararem de fazer o efeito esperado e "bum" sua última batida acontecer, durante algum tempo li vários relatos e relatórios sobre transplante cardíaco e havia várias teorias sobre o porque de um coração transplantado não ter a mesma "duração" que um que nasceu com você, explicações que iam de fatos cientificos, e até emocionais, alguns médicos menos céticos acreditam que nosso coração carrega consigo a "memória" da outra vida, não uma como nosso cérebro trás, com memórias reais, seria algo mais como quando ele bate tão forte ao ver a pessoa que se ama, que chega a doer no seu peito, ou quando sentimos tanto medo que parece que o batimento fica tão lento que quase para, ou adrenalina, tantas emoções que sentimos e nosso coração suporta, então vem a memória traumática, quando ele precisa "morrer" mas por algum motivo continua ali sendo forçado a bater, e vem alguém e o arranca se seu lugar de origem e é levado para outro lugar, como uma muda de árvore que é retirada de onde estava e é replantada, algumas sofrem tanto o impacto de ser retirada do seu lugar de origem que mesmo lutando acabam morrendo, outras com mais sorte sobrevivem, mesmo com dificuldade elas sobrevivem, perdem algumas folhas, mas sobrevivem, meu coração era uma árvore arrancada de seu lugar de origem, que tentava se manter forte em um solo fraco, acho que é fraco pelo simples fato de que se fosse forte não teria prejudicado meu coração novinho que nasceu ali, eu não fui um caso de acidente onde a pessoa precisou de transplante por algo que veio de fora e o atingiu, meu corpo foi o culpado, ele quem prejudicou meu coração, e o motivo ainda é desconhecido.

Meus medos iam de meu corpo parar no meio da noite ou eu ficar doente e além de não poder cuidar de Carina e ainda ser um fardo para Andrew e Henry, mas eu não falava isso para eles, não gostava de os atormentar com coisas assim, porque sabia que ele sofreriam com meus medos, então só esperava, tentei focar na parte que todos tínhamos essa sentença, para Carina chegou tão cedo, para outros ainda mais, a única diferença deles para mim, é que eu sabia disso, sabia que um dia a validade do meu coração acabaria, então aprendi a valoriza mais cada momento.

- lembro de quando Henry era bebê - Ellis murmurou enquanto banhava Cah, já estávamos em casa, ela me ajudaria durante o dia quando Andrew estivesse no trabalho e Henry na escola.

- sim! Eles vão ser um pouco parecidos.

- seu pai estaria eufórico... Eu te amo, você sabe, mas ele... Parecia que você se tornou toda a vida dele - minha mãe falou isso de um modo gentil, não como uma crítica como era normalmente, Ellis achava que Thacther fez tanto para me deixar feliz, que o casamento deles se perdeu, não sei se era totalmente verdade, mas achava que talvez não fosse totalmente mentira, vi muitas vezes Thacther deixar Ellis de lado e ficar comigo, brincar, me levar a passeios sem ela, e as vezes dormir no colchão no meu quarto, eu não entendia na época.

Achava que ele só me amava muito e queria estar comigo, mas agora vejo que talvez o casamento deles só estivesse ruim demais, no final acho que nenhum dois dos queria realmente fazer da certo.

- ele ficaria, seria ele a decorar o quarto de Carina - brinquei.

- pode apostar que sim... Eu sei que as vezes não pareço valorizar Thacther, mas eu sei o quanto ele te amou filha.

- só errou com você - falei de um modo que ela entendesse que a entendia.

- sim! E eu com ele, nos erramos, mas tivemos um acerto... Você é ele.

- obrigado mãe, sabe que eu não te julgo como mãe, e hoje nem como mulher... Hoje eu entendo porque fez o que fez, se estivesse com William, amando Andrew... Eu lutaria por ele...

- você não o trairia, você não faria tenho certeza - ela baixou o olhar para Cah tentando esconder sua vergonha.

- talvez não, mas eu também não tenho direito a te julgar por isso, desculpa por ter feito - hoje entendia muitas coisas que no passado eram difíceis, a dor de perder Thacther não me permitia.

- é passado, já não importa mais - Ellis sorriu pegando Carina em seus braços - hoje o que importa é que você está feliz, que sou vó de novo... E posso amar ela e estar muito perto.

- você pode, outro erro que cometi, ter afastado Henry.

- passado - ela sentou ao meu lado me entregando minha filha faminta - você teve seus motivos, e tá tudo bem.

- quero que guarde uma coisa pra mim - falei - Henry e Andrew não podem imaginar que existe.

- o que?

- na gaveta ali - apontei - tem algumas cartas que escrevi antes da Carina nascer... Pra você, Andrew, Addison, Henry e Carina... Eu sei que tô viva agora, mas cada palavra ainda é valida... Então daqui uns anos, ou sei lá... Eu quero que eles possam ler.

- acha que vou viver tanto? - ela sorriu tentando disfarçar seu medo - não posso guardar, porque pretendo ir antes de te perder - as lágrimas desceram por seu rosto.

- tudo bem! - ela não queria ter isso, algo que dizia que eu não estava mais viva.

Eu a entendia, sabia que ninguém ia querer tê-las, mas precisava de um guardião.


🌅🐬

A pior parte do parto cesárea, era ter que evitar certos esforços, a outra pior parte é que Henry e Andrew achavam que agora eu era feita de porcelana, e poderia quebrar, eles esqueceram que sobrevivi a um transplante? Aquilo era moleza. Mas como cavalo dado, não se olha os dentes, já que fui sentenciada, aproveitaria, deitei na espreguiçadeira junto com carina usado apenas uma fralda descartável para pegar banho de sol.

- logo você será bronzeada - brinquei - primeira marquinha vai ser de fralda.

- em algum lugar isso pode ser tendência - ouvia a voz de Andrew atrás de mim.

- talvez - levantei o olhar e sorri - no que está pensando? - perguntei porque por sua posição parado na porta com o ombro encostado, parecia estar ali a algum tempo.

- bobagens, nossa filha já fez um mês...

- não precisa se preocupar, você não vai ser um viúvo desamparado, com uma filhinha pra criar - comentei rindo.

- você as vezes é mórbida - Andrew bufou.

- desculpa! Mas tô falando sério, não pretendo te deixar aqui sozinho.

- não me preocupo com isso também, eu sei que quando você for, eu irei logo em seguida... Meu amor e meu coração estão com você.

- isso é fofo e mórbido.

- eu sei - Andrew riu baixinho.

🌅🐬



Apareci, eu sei que sentiram muito minha falta, mas estou aqui. Não esqueçam de votar e comentar.

Coração Do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora