33. A vida não é a caixinha de realizações de sonhos

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Pov'Andrew.



Dias convivendo com Meredith, ouvindo a história de como recebeu o coração, sentido aquela conexão fora do normal, eu simplesmente fui relapso em perceber a ligação, agora me sentia anestesiado, confuso, perdido, como lidaria com isso? Meredith tinha o coração de Carina, eu sei que nem de longe isso fazia dela minha irmã, mas pensar que o coração que batia em seu peito um dia pertenceu a outra pessoa, e essa pessoa era minha irmã, minha outra metade, não tinha um jeito fácil de lidar com isso.

A noite pareceu longa outra vez, não consegui dormir procurei refúgio na bebida, sabia que não era a escolha certa, mas naquele momento era o que eu achei certo, peguei meu celular e liguei para Miguel.

Ligação on.

- espero que tenha uma ótima razão para me ligar quase duas da manhã.

- Meredith recebeu o coração de Carina - falei.

- o que? Tá falando de que? Você pirou?

- Meredith, ela precisou de um transplante a uns meses atrás, o coração de Carina foi direcionado para ela.

- Andrew qualquer pessoa no mundo pode ter recebido o coração.

- foi ela, o dia do transplante é o mesmo, e hoje descobri que o órgão veio da Califórnia, mesmo dia, mesma cidade! Não me diz que não...

- isso, tem uma chance.

- tem todas as chances - suspirei.

- e vai fazer o que agora? - ele perguntou.

- não sei, Meredith não sabe que os órgãos da Carina foram doados - contei - não sabe de tudo.

- e você gosta dela - ele completou.

- sim! Estamos juntos, não é essa a questão.

- e qual a questão?

- eu não queria doar os órgãos... Agora eu só penso nisso, que se não tivesse aceitado ela teria morrido.

- você não sabe, poderia aparecer outro.

- não a tempo, quando souberam do coração, ela estava na sala de cirurgia, os médicos tentavam manter ela viva, por isso subiu para o topo lista.

- mas você aceitou - Miguel murmurou.

- poderia ter sido tarde demais.

- mas não foi! Para de pensar nisso.

- tudo bem! Vou te deixar em paz, falamos depois.

- Andr....

Ligação off.

Miguel poderia está certo, mas também errado, um minuto a mais talvez tivesse matado ela, essa mulher incrível, era injusto, por que para ela ficar viva alguém morreu, enquanto pensava que outra pessoa e não minha irmã morreu estava tudo bem, mesmo sabendo que não era culpa de ninguém, mas eu preferia pensar em qualquer ser humano tendo o coração, menos Meredith.

Já tinha lembranças demais, agora diariamente olharia para Meredith e sentiria a ausência de Carina, acompanhado da culpa por ter pensado em não fazer a doação de órgãos.


🌅🐬


Pov'Meredith.


Normalmente quando chegava no instituto Andrew já estava lá, mas hoje foi diferente, fui até o laboratório mas não o encontrei, sai de volta para minha sala tentando falar com ele, mas não atendeu a ligação, onde ele estava?

- Meredith, preciso da sua ajuda! - Nathan me chamou.

- preciso resolver uma coisa!

- é urgente? Eu realmente preciso de você agora.

- não, resolvo depois - tentei sorrir e segui ao lado de Nathan - o que aconteceu?

Ele me contou o que precisava e fomos trabalhar nisso, passamos a manhã toda e uma parte da tarde, quase me fez esquecer de Andrew e do modo que ele foi embora ontem, mas no segundo que me liberou, minha mente voltou para ele, desci até sua sala, mas não o achei, fui atrás de Levi.

- Levi? - entrei da sala dele.

- oi!

- você viu Andrew? - perguntei.

- não! Ele não veio, deve estar doente - sua resposta foi tranquila.

- deve - concordei - obrigado - sai da sala dele, voltei para a minha e tentei ligar, uma, duas, três... Cinco vezes, levantei, peguei minha bolsa e sai, ia até a casa de Andrew, ele não estava doente eu sabia disso.


🌅🐬


Parei diante da porta da casa e bati, esperei uns segundos e bati outra vez, esperei um tempo maior e quando ia bater de novo a porta abriu, Andrew apareceu atrás dela com uma aparecia lastimável, seu cabelo estava bagunçado, olhos vermelhos e o rosto inchado, ele havia acabado de acordar.

- oi! - sua voz estava rouca.

- não foi trabalhar - murmurei.

- não me sinto bem! - Andrew voltou para dentro da casa, entrei também e vi as duas garrafas de bebida no chão.

- você bebeu? - perguntei, mas era óbvio que sim.

- sim! - ele concordou sem problema algum, foi até a geladeira e pegou uma garrafa com água, bebeu direto do gargalo, notei que ele parecia abatido, como se tivesse dormido pouco.

- por que?

- não importa - seu dar de ombros foi irritante, Andrew não olhou para mim.

- o que aconteceu? Eu sei que aconteceu algo, então me fala logo - pedi.

- não! - agora ele me olhou - não vou falar.

- então tem algo acontecendo?

- tem! Mas eu não quero falar disso... Vai pra casa Meredith... Quero ficar sozinho - aquilo não me pareceu um pedido, estava mais para uma ordem.

- Andrew?

Por que ele estava agindo assim?

- tô falando sério! - sua voz saiu rude.

- e aquele papo de confiar? Falar a verdade? De não magoar.

- isso é diferente! Você não entende.

- então me explica, me deixa ajudar.

- eu não quero ajuda Meredith, não entendeu? Quero ficar sozinho - o tom baixo dele não amenizou a raiva na voz - eu quero ficar sozinho.

- você tá cometendo um erro - avisei.

- você está querendo me fazer falar, e eu não quero.... Da pra entender isso? - o olhar dele na minha direção foi duro.

- ok! Mas estou avisando que você só está piorando tudo, e quebrando a merda da promessa que fez ontem...

- você também, falou que não ia me forçar a falar, e está fazendo isso agora - Andrew acusou sem pena.

- porque eu sei que tem haver com nós dois, não sou burra.

- o mundo não gira ao seu redor Meredith, nem tudo é sobre você e sua vida sofrida... Me deixa.

- filho da mãe! Vai se ferrar, quer saber dane-se quer ficar nessa merda? Fica, pode virar um alcoólatra de merda, acabar com sua vida, mas não vai me arrastar junto... Quer sofrer eternamente a morte da sua irmã? Vai em frente.... Mas vou falar só uma vez, pessoas morrem Andrew e sinto lhe informar que a vida não é a caixinha de realizações de sonhos... Infelizmente não podemos escolher quem morre, mas podemos escolher que fica ou sai das nossas vidas... E você tá tão focado em sofrer por sua irmã que um dia - fiz uma pause e tomei fôlego - vai perceber que perdeu pessoas por escolha, então se prefere remoer a dor, faça sozinho...

Sai da casa batendo a porta com força.



🌅🐬



Bom dia humanos!!! Cheguei chegando!!! Vão passar pano pra qual dos dois?



Coração Do MarOnde histórias criam vida. Descubra agora